Caracterizado por onerar proporcionalmente os mais pobres em relação
aos mais ricos, o sistema tributário brasileiro provoca um tipo mais
profundo de injustiça. Estudo do Instituto de Estudos Socioeconômicos
(Inesc) revela que os impostos punem mais os negros e as mulheres em
relação aos brancos e aos homens.
O levantamento cruzou dados de
duas pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). O estudo baseou-se na Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), que
fornece dados sobre a renda das famílias, e na Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (Pnad), que capta informações demográficas como
raça e gênero.
Segundo o levantamento, os 10% mais pobres da
população comprometem 32% da renda com o pagamento de tributos. Para os
10% mais ricos, o peso dos tributos cai para 21%. A relação com o gênero
e a raça aparece ao comparar a participação de cada fatia da população
nessas categorias de renda.
Nos 10% mais pobres da população,
68,06% são negros e 31,94%, brancos. A faixa mais desfavorecida é
composta por 45,66% de homens e 54,34% de mulheres. Nos 10% mais ricos,
que pagam menos imposto proporcionalmente à renda, há 83,72% de brancos e
16,28% de negros. Nessa categoria, 62,05% são homens e 31,05%,
mulheres.
“Não há dúvida de que a mulher negra é a mais punida
pelo sistema tributário brasileiro, enquanto o homem branco é o mais
favorecido”, diz o autor do estudo, Evilásio Salvador. Para ele, é falsa
a ideia de que a tributação brasileira é neutra em relação a raça e
gênero.. “Como a base da pirâmide social é composta por negros e
mulheres, a elevada carga tributária onera fortemente esse segmento da
população”, contesta.
Historicamente, o sistema tributário
brasileiro pune os mais pobres porque a maior parte da tributação incide
sobre o consumo e os salários, em vez de ser cobrada com mais
intensidade sobre o patrimônio e a renda do capital. Segundo o estudo,
no Brasil, 55,74% das receitas de tributos vieram do consumo e 15,64% da
renda do trabalho em 2011, somando 71,38%. Nos países da Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a média está em
33%.
Os tributos sobre o consumo são regressivos do ponto de
vista social por estarem embutidos nos preços dos bens e dos serviços.
Dessa forma, uma mercadoria com R$ 1 de imposto embutido no preço pesa
mais para as camadas de menor renda.
Para reverter a situação,
Oliveira aponta a necessidade de uma reforma tributária, que amplie a
tributação sobre o patrimônio e a renda do capital e desonere o consumo e
a renda do trabalho. “Os mais ricos precisam ser mais tributados
proporcionalmente, por meio de alíquotas progressivas, que aumentem
conforme o nível de renda”, explica.
Entre as medidas sugeridas,
ele defende a regulamentação do Imposto sobre Grandes Fortunas –
determinada pela Constituição, mas até hoje não cumprida – e a extensão
da cobrança de Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores
(IPVA) a embarcações de luxo, como lanchas, jatos particulares,
helicópteros e jet skis.
Fonte: EBC
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