Renegociar as dívidas e não pagar é péssimo negócio. O devedor perde
vantagens conquistadas na negociação, como abatimento de juros, e seu
nome pode reaparecer em cadastro de inadimplentes, alertam consultores
ouvidos pelo UOL.
"O devedor pode perder todos
os benefícios obtidos na renegociação e ainda sofrer com a cobrança de
juros, o que torna a dívida original ainda maior", informa o presidente
da Comissão de Defesa do Consumidor da OAB-SP, Marco Antonio Araujo
Junior.
"Fazer uma renegociação malfeita é muito pior do que
estar endividado", diz. Isso porque quando o devedor renegocia o
contrato, quase sempre a dívida anterior se extingue e cria-se uma nova
obrigação. Essa nova dívida também terá multa pelo descumprimento e
aplicação de juros.
Além disso, a falta de pagamento nesse
contrato pode levar o nome do devedor para os cadastros de inadimplentes
pelo prazo de cinco anos novamente. Ou seja, mesmo que o nome do
devedor já tivesse ficado no cadastro por quase cinco anos, ao não pagar
a dívida renegociada, o prazo começa a ser contado outra vez.
Converse com o credor para tentar novo prazo
Mesmo em uma renegociação bem feita podem acontecer imprevistos no meio
do caminho, como o devedor ficar desempregado. Se o devedor percebe que
não vai conseguir cumprir os termos dessa nova dívida, é importante
procurar o credor antes do vencimento para mostrar boa-fé.
Paulo
Brito, gestor comercial da HPN Invest, aconselha o devedor a pedir um
prazo de carência para começar a pagar de novo. "Alguns bancos dão esse
prazo ao devedor para ele poder acertar as contas. Para o banco é
vantagem conseguir o pagamento, porque muitas vezes ele já tem esse
crédito incorporado no seu balanço como sendo um prejuízo", diz.
O credor, porém, não é obrigado a renegociar a dívida. Ele pode cobrar
tudo o que estava previsto no contrato e mandar executar as garantias
oferecidas. Se a dívida for paga pelo avalista, aquela pessoa que entra
no contrato para garantir a dívida, ele pode cobrar depois do devedor.
Procure alternativas para fazer renda e arrume o orçamento
Para quem precisa colocar em ordem o orçamento, o educador financeiro
Mauro Calil sugere que a pessoa procure algum bem que disponha para
vender. "Muitas vezes as pessoas estão cheias de roupas e livros em
casa, e se esquecem que podem fazer dinheiro vendendo as roupas em um
brechó e os livros para um sebo", diz.
Outra saída, segundo ele,
é obter um empréstimo oferecendo algum bem que tenha em garantia, já
que esse tipo de empréstimo sai bem mais em conta. Refinanciar um carro
ou um segundo imóvel que a pessoa possua são boas opções. No entanto, se
o único imóvel é o que a pessoa reside, ele deve ser preservado.
Ter de recorrer a mais de uma negociação da dívida é sinal de que algo
está errado, alerta Nicola Tingas, economista-chefe da Acrefi
(Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e
Investimento).
"Mostra um desbalanceamento: ou a pessoa ganha
pouco para cobrir gastos necessários ou ganha bem e gasta demais. Em
qualquer um dos casos, ela terá de fazer um orçamento para adequar o que
ganha ao que gasta. É um problema de gestão financeira pessoal", diz.
"O segredo não está em renegociar contratos de forma indefinida, mas
mudar sua vida financeira."
Leia, a seguir, o que pode acontecer com o devedor e onde procurar ajuda.
8 respostas sobre o que pode acontecer com o devedor
- 1Quanto tempo o nome fica sujo?O credor pode enviar o nome do devedor para o cadastro de inadimplentes assim que a dívida não for paga. Fica por 5 anos, a contar da entrada do nome no cadastro. Se a dívida for renegociada e não paga novamente, o nome poderá ir para o cadastro de inadimplentes por mais 5 anos
- 2Pagou a dívida, o nome sai do cadastro?O credor tem prazo de 5 dias úteis para retirar o nome a partir da assinatura do contrato da renegociação. Se não fizer isso, o devedor tem direito de entrar na Justiça para exigir o cumprimento desse direito
- 3Por quanto tempo pode ser cobrada?A dívida poderá ser cobrada pelo credor por até 10 anos, limite máximo de cobrança permitido pelo Código Civil. O prazo varia de acordo com o tipo de dívida. O prazo mais comum é de 5 anos. Se o credor não entrar na Justiça para cobrar, essa dívida pode prescrever, ou seja, o credor perde o direito de cobrar na Justiça
- 4A dívida deixa de existir?Se o credor entrou na Justiça para cobrar a dívida, ela continuará a existir até que o devedor pague o que deve ou que credor e devedor entrem em um acordo
- 5O que o devedor pode perder por conta da dívida?Além de ter o nome inscrito no cadastro de inadimplentes, pode sofrer cobranças, perder bens que possua para pagar a dívida, ter dinheiro em conta penhorado
- 6O que o devedor não pode sofrer?O devedor não pode ser preso por causa de dívida (a exceção é a dívida de pensão alimentícia judicial), não pode sofrer cobranças humilhantes, nem perder o único imóvel de família para pagar dívidas (a não ser que a dívida seja relativa ao próprio imóvel, como IPTU, condomínio ou financiamento)
- 7O que o devedor deve evitar?Deve evitar propostas milagrosas como "limpe seu nome sem pagar as dívidas" ou "pegue dinheiro emprestado mesmo com o nome sujo": essas práticas geralmente são golpes aplicados ao devedor. Não peça também dinheiro para agiotas, que costumam fazer uso de meios ilegais para cobrar
- 8Quem pode ajudar o devedor?Procure o Procon de sua cidade. As centrais de proteção ao crédito também oferecem ajuda para renegociar dívidas. Exemplos são a Serasa Experian e o Serviço Central de Proteção ao Crédito. Ou procure um advogado de sua confiança
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