segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Confundido com loteria, consórcio vira alternativa barata para financiar bens

Número de participantes de consórcios no País cresceu 9,6% no primeiro semestre de 2013
Apostar na sorte não deve ser motivo para fazer um consórcio. Mais ligado a um ato de consumo do que investimento, ele é bem mais barato que o financiamento de imóveis e veículos, mas pode causar angústia a quem tem pressa em adquirir o bem.
Se quiser participar, esqueça o sorteio e pense que você será o último a ser contemplado”, recomenda o educador financeiro e presidente da consultoria Dsop Educação Financeira, Reinaldo Domingos.
Como as administradoras entregam a carta de crédito – com o valor total do bem – a poucos participantes sorteados periodicamente, ou a aqueles que dão o maior lance, as chances de resgatar o dinheiro por último são reais.
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Mas isso não é necessariamente ruim, já que ser sorteado logo no início pode gerar dor de cabeça se faltar planejamento. “Quando você é contemplado, é preciso ter dinheiro para pagar a escritura do imóvel e ter o nome regularizado nos serviços de proteção ao crédito”, lembra o consultor do Dsop.
Formado por um grupo de pessoas que fazem aportes mensais em torno do mesmo objetivo, o consórcio é mais indicado para quem não tem disciplina de poupança. “Pode ser um recurso interessante para forçar o acúmulo de capital”, explica Domingos.
Ao assumir um compromisso de longo prazo, no entanto, deve-se avaliar se as parcelas vão pesar no orçamento. Com a valorização anual dos bens, o valor do consórcio costuma ser corrigido com base em índices do mercado.
Mais participantes
Entre janeiro e junho deste ano, a quantidade de consorciados cresceu 9,6% no País em relação ao primeiro semestre do ano anterior, com 5,5 milhões de participantes, segundo dados da Abac (Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios).
O número de novas adesões representou 1,3 milhão no período, além de 600 mil contemplações – o momento da concretização do objetivo financeiro. O volume de negócios, ainda segundo a entidade, somou R$ 40,8 bilhões no semestre, quantia 6,8% maior ante igual período de 2012.
Não é investimento
Apesar de ser uma forma de poupar, este recurso não deve ser confundido com uma aplicação financeira, já que ele não gera renda nem multiplica a riqueza pessoal. Deve estar associado à realização de um objetivo material, que é o consumo de um bem.
Por outro lado, o consórcio não cobra juros – apesar das taxas de administração, além de seguro e fundo de reserva, em alguns casos. Enquanto os juros para financiar um imóvel ficam em torno de 10% ao ano – podendo chegar ao dobro do valor do imóvel ao fim do pagamento –, o consórcio costuma cobrar taxas entre 10% e 20% do valor total do bem.
VOLUME DE NEGÓCIOS
Valor acumulado em contratos de consórcios entre janeiro e junho de cada ano (em R$ bilhões)

ABAC
“Para quem não tem pressa, o consórcio fica bem mais em conta que o financiamento”, afirma Wilson Muller, consultor financeiro da Fundação Cesp.
Atenção antes de contratar
Embora muito baixo, o risco em adquirir o serviço existe. Um deles é o de inadimplência dos outros participantes, que pode forçar a administradora a recorrer ao fundo de reserva ou deixar de realizar sorteios por algum tempo, contemplando apenas quem der o maior lance.
Também pode haver problemas quanto à cobrança de taxas ou mudanças de regras não previstas em contratos. “É preciso analisar todas as cláusulas antes de ingressar no negócio”, orienta Muller.
Outra recomendação do consultor é pesquisar na internet possíveis reclamações de consumidores e checar a situação da administradora do consórcio no site do Banco Central, que mantém uma lista das empresas que receberam mais reclamações no órgão.
Ocorrências
O número de queixas de consumidores relacionadas a consórcios nos Procons cresceu 25% no primeiro semestre de 2013, ante o mesmo período do ano passado. Foram 959 reclamações este ano, contra 767 em 2012, a maior parte ligadas ao consórcio de automóveis, seguidas do de imóveis e motocicletas.
 
Desde 2011, o órgão de defesa recebeu 4.252 reclamações envolvendo o produto financeiro. A causa mais frequente relacionava-se a descumprimento, alterações ou irregularidades nos contratos. Em função disso, deve-se fazer uma leitura atenta do documento antes de sua assinatura e só fechar o contrato se concordar com todos os ítens, alerta o órgão.
Casos de desistência aparecem em segundo lugar no ranking das queixas, seguidos de denúncias de cobranças indevidas (não previstas no contrato). Outros problemas que também levaram os consumidores ao órgão foram o cálculo incorreto de taxas e a venda enganosa do produto.


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