O consumidor brasileiro evoluiu na busca de produtos com mais
eficiência energética e o selo do Programa Nacional de Conservação de
Energia Elétrica (Procel) para esses produtos tem sido decisivo na hora
da compra de eletrodomésticos e outros equipamentos. Em 2016, foram
vendidos 42 milhões de aparelhos com o selo, como mostra o Relatório de
Resultados 2017, referente a dados de 2016.
Em 2016, as ações do
Procel motivaram a economia de aproximadamente 15,15 bilhões de KWh. O
volume cresceu 29,74%, em relação ao ano anterior e equivale à energia
fornecida durante um ano por uma usina de 3.634 MW.
“Há uma demanda do consumidor, que cada vez mais pede e percebe isso”, disse à Agência Brasil o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Paulo Pedrosa.
Na
visão do professor de Planejamento energético do Instituto Alberto Luiz
Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), André Lucena, existe um
movimento de incentivo à compra de produtos mais eficientes, mas nas
classes de renda mais baixa, o consumidor costuma optar pelo mais
barato. “Se tem preços parecidos até vai comprar o mais eficiente se
tiver esta informação, mas não vai ser o único critério na hora da
compra", disse.
Pedrosa sugeriu ainda que o consumidor deve ser
incentivado a regular os aparelhos para economizar energia. “O
consumidor pode ser informado, que em determinado momento, pode mudar o
termostato dele de 24 graus para 26 graus e com isso economizar um
dinheiro. Muitas vezes até de forma eletrônica e automática isso pode
ser feito. Ou uma máquina de lavar que lava a roupa por exemplo de
madrugada. Esses ganhos de eficiência melhoram muito o setor e reduzem o
custo para todos. Eles [os consumidores] precisam ser estimulados”,
indicou.
Incentivos à modernização
Para o
secretário-executivo, para avançar ainda mais o setor de energia
precisa se atualizar e se modernizar. Na visão de Pedrosa, ele ficou
imune à evolução tecnológica durante muitos anos. “Hoje ele [o setor]
está sendo questionado pela geração distribuída, pelos medidores
inteligentes, pelos consumidores inteligentes e pela demanda da
sociedade, das indústrias, do comércio e do consumidor residencial de
participar do mercado. Isso no mundo inteiro é um fator de eficiência
para o setor”, disse.
A indústria deveria ser incentivada na
produção de equipamentos eficientes, na opinião do professor da Coppe.
Lucena contou que no Japão tem um programa chamado Top Runner, que impõe
períodos para os produtores ampliarem a eficiência de seus
equipamentos. “É como se fosse um sarrafo cada vez mais alto. Se for
comparar o sarrafo brasileiro com o sarrafo japonês ou europeu, o
brasileiro não é alto comparativamente aos outros. Um programa que
colocasse metas de eficiência nos equipamentos no longo prazo dá tempo
da indústria se ajustar”, concluiu.
A superintendente de Gestão
de Participações em Sociedades de Propósito Específico e programas de
governo da Eletrobras, Renata Falcão, informou que desde 85, quando foi
criado, o Procel "conseguiu economizar em torno de 107 bilhões de KW/h, o
que é muita coisa. Só em 2016, a gente teve uma economia de 3,3% do
consumo total do Brasil. Com isso, se deixou de investir R$ 3 bilhões
para fazer a oferta de geração de energia”.
Atualmente, 39
categorias de equipamentos são certificadas pelo selo Procel. A lista de
produtos inclui não apenas eletrodomésticos, mas também painéis
fotovoltaicos de geração de energia, bombas centrífugas e lâmpadas a
vapor de sódio e led, entre outros.
Outras iniciativas
O
Procel também certifica edificações e municípios com uso eficiente de
energia. Com Selo Procel Edificações, foi possível economizar 4,63 GWh
apenas em 2016. Esse tipo de selo incentiva a redução do custo
operacional das construções e também do uso e manutenção dos imóveis.
“As construtoras que trabalham para os níveis de renda A e B estão muito
preocupadas com isso, porque vendem para uma classe que quer
sustentabilidade e eficiência. Ao mesmo tempo [o projeto de eficiência
energética nos prédios] resulta em propaganda positiva para a
construtora”, afirmou Renata.
Em relação às prefeituras, o
Procel Gestão Energética Municipal contribui para reduzir custos e
evitar desperdícios de energia elétrica e o Procel Reluz desenvolve
sistemas eficientes de iluminação pública e de semáforos. Com a troca
das lâmpadas por modelos mais econômicos (a vapor de sódio ou por
luminárias led), o Procel Reluz gerou economia de 62,64 KWh em 2016 – a
redução de demanda no horário de ponta alcançou 14,30 mil KWh. Desde
2000, cerca de 2,78 milhões de pontos de iluminação pública foram
substituídos no país.
“O Reluz teve um apelo maior, porque além
de economizar energia, tem a questão de segurança e do turismo e diminui
as contas municipais de prefeituras endividadas. Junto com o selo é um
carro-chefe do Procel”, disse Renata.
Menos poluição
A
economia de geração de energia com o uso mais eficiente evitou que
1.238 milhão de toneladas de gás carbônico (CO2) fossem liberadas na
atmosfera, o que corresponde às emissões de 425 mil veículos durante um
ano.
Para a pesquisadora da Fundação Getulio Vargas Energia (FGV
Energia), Mariana Weiss, o investimento feito em eficiência energética é
o mais barato e seguro que pode ser feito no setor, porque vai impedir a
expansão maior do sistema elétrico e de emissões de gases. A economia
de energia alcançada pode evitar até o acionamento de usinas térmicas,
que são mais poluidoras.
Mariana incentiva que o consumidor use
equipamentos eficientes e fora do horário de pico. “Qualquer redução de
consumo de energia que tiver no horário de ponta, tem uma queda no custo
muito maior”.
Ela também fez referência à iniciativa de alguns
municípios de incentivar construções mais eficientes por meio do IPTU
Verde, como já acontece por exemplo no Rio de Janeiro, Curitiba e Belo
Horizonte. “O consumidor que decide fazer essa construção verde, além de
ter a redução no consumo de energia e de água, ainda tem redução do
IPTU e vai conseguir ter o retorno do investimento muito mais rápido”,
afirmou a pesquisadora.
Fonte: Agência Brasil
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