Profissionais das áreas de Infectologia e Obstetrícia respondem ao iSaúde Bahia.
Por conta do alto número de casos de microcefalia que se apresentam em diversas regiões brasileiras por conta da epidemia do Zika vírus, o iSaúde Bahia conversou com médica infectologista, Dra. Ceuci Nunes e com o obstetra, Dr. Omar Darzé para esclarecer as principais dúvidas que vêm afligindo a população.
iSaúde Bahia – Qual a real relação entre o Zika vírus e o surgimento de casos de microcefalia?
Dr.ª Ceuci Nunes – Esta pergunta ainda não pode ser respondida, uma vez que vários estudos estão começando a ser conduzidos para respondê-la, bem como a várias outras questões que estão emergindo e que são relacionadas ao Zika vírus, que só muito recentemente passou a causar epidemias. A principal hipótese é que o vírus cause uma encefalite no bebê quando a mãe adquire a doença no primeiro trimestre.
iSB – Quais são os sintomas do Zika vírus?
Dr.ª Ceuci Nunes – É uma doença exantemática aguda, caracterizada por lesões de pele mais grosseiras e com muito prurido (coceira). É muito frequente a hiperemia ocular - conjuntivite e pode ou não ocorrer febre.
iSB – Como ocorre a transmissão do vírus da mãe para o bebê? Fora dessa relação (mãe-bebê), uma pessoa pode passar zika para outra? Por quais vias?
Dr.ª Ceuci Nunes – A transmissão da mãe para o bebê ocorre através da placenta. A forma de transmissão do Zika vírus é pelo mosquito, principalmente o Aedes aegypti. A transmissão sexual e pelo leite materno talvez possa ocorrer, mas por um período muito curto, de três a quatro dias, quando ocorre a viremia. Mas não existe comprovação.
“A transmissão sexual e pelo leite materno talvez possa ocorrer, mas por um período muito curto, de três a quatro dias, quando ocorre a viremia. Mas não existe comprovação”.
iSB – O que é a microcefalia?
Dr. Omar Darzé – É quando o crânio não se desenvolve normalmente e a criança nasce, após nove meses de gestação, com um diâmetro craniano inferior a 33 cm. Importante ressaltar que esta medida só é considerada para os recém-nascidos dentro do período de nove meses. No caso de prematuros, este valor sofre alteração, de acordo com o mês da gestação em que ocorre o parto. Esta situação também pode ser suspeitada através da medida do diâmetro do crânio fetal através da ultrassonografia. São causas de microcefalia: infecções como a rubéola, a citomegalovirose, a toxoplasmose e também uso de drogas como o álcool, cocaína, LSD e crack. Podem também se associar a cromossomopatias como a Síndrome de Down.
“Procurar melhorar a qualidade de vida das crianças com microcefalia, através de cuidados multiprofissionais, é o objetivo do tratamento. Existem casos em que a inteligência da criança não é afetada”.
iSB – Existe tratamento?
Dr. Omar Darzé – Uma vez alterado o desenvolvimento do cérebro, não tem como reverter. Não existem medicamentos ou qualquer outro tratamento. Infelizmente, a grande maioria destes recém-nascidos apresenta atrasos no desenvolvimento neurológico, causando sequelas diversas. Procurar melhorar a qualidade de vida destas crianças, através de cuidados multiprofissionais (envolvendo médicos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais) é o objetivo do tratamento. Existem casos em que a inteligência da criança não é afetada.
iSB – Se a mãe for picada após os três meses de gestação, isso já impede que o bebê desenvolva a microcefalia?
Dr. Omar Darzé – O Ministério da Saúde ainda não esclareceu muitas questões sobre a relação entre a microcefalia e a infecção pelo vírus da Zika. Estudos já estão sendo realizados, procurando esclarecer a ação do vírus no nosso organismo e como, realmente, se processa a infecção no feto. As primeiras observações sugerem que o período de maior vulnerabilidade sejam os primeiros três meses de gestação.
iSB – Há algum tipo de repelente específico para grávidas?
Dr. Omar Darzé – A recomendação do Ministério da Saúde é que as gestantes utilizem o repelente com indicação médica e que substâncias como a Icaridina, o IR3535 e o dietiltoluamida têm se mostrado seguras para a gestante e com boa eficácia. Não existe necessidade de tomar banho antes da aplicação nem espalhar o medicamento por todo o corpo. Após tomar banho, é necessário utilizar normalmente o hidratante (ou protetor solar, se for o caso), vestir-se e aplicar o repelente apenas nas porções expostas do corpo, evitando a face e mucosas. No caso de apresentações em spray, pode borrifar também a roupa. É importante não se esquecer de reaplicar o produto, como recomendado pelo fabricante.
Um bom acompanhamento pré-natal, com orientações quanto à proteção da ação do mosquito, pode ajudar a diminuir o risco da infecção. Sintomas como febre e manchas pelo corpo devem ser imediatamente informados. Não esquecer também das outras causas de microcefalia, como o abuso do álcool e utilização de drogas ilícitas.
Fonte: iBahia
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