Durante as festas, fraudes crescem 25%, segundo estudo. Cliente deve informar logo ao banco e fazer o BO
Na semana passada, Carlos Thadeu de Oliveira ficou sem o talão de
cheques que estava na mochila guardada no porta-malas de seu carro
próximo ao estádio do Morumbi. Em 8 de maio, o administrador Pablo Handl
foi assaltado no meio da rua, do outro lado do mundo, em Xangai, ao
voltar de um jantar, e foi obrigado a entregar seus cartões de crédito.
Casos como esses são registrados todos os dias, mas, nesta época do ano,
quando há um fluxo mais intenso de pessoas nas áreas de comércio e de
turistas por causa dos festejos de fim de ano e das férias, os cuidados
com bolsas e carteiras devem ser redobrados.
E basta perder um
documento pessoal — seja por descuido ou num furto ou assalto — para
dobrar a probabilidade de fraude, como ter a conta bancária invadida ou
sofrer com compras ilícitas na fatura do cartão, apontam estudos da
Serasa. Em períodos festivos, como agora, a média de fraudes costuma
aumentar em 25%, mostra o estudo.
Para se ter uma ideia, segundo o
Indicador Serasa Experian, em outubro, a cada 17,4 segundos, houve uma
tentativa de roubo de identidade no país, casos em que dados pessoais
são usados por criminosos para firmar negócios sob falsidade ideológica
ou obter crédito com a intenção de não honrar os pagamentos.
Em
caso de roubo, perda, furto ou clonagem de talões de cheques ou cartões,
a primeira providência é comunicar ao banco e à administradora do
cartão e pedir o bloqueio ou cancelamento. O segundo passo é fazer um
boletim de ocorrência (BO) na delegacia — no caso da perda de
documentos, como RG ou CPF, isto é o prioridade.
Foi o que fez
Oliveira, gerente de Testes e Pesquisas do Instituto Brasileiro de
Defesa do Consumidor (Idec), acostumado a orientar os consumidores em
casos como esse. Como o roubo do carro aconteceu numa sexta-feira à
noite, enquanto ele assistia à despedida do goleiro Rogério Ceni, no
Morumbi, ele fez um bloqueio temporário do talão, pelo bankfone, válido
por dois dias. Para o bloqueio definitivo, era preciso comparecer à
agência do Itaú, o que só poderia ser feito na segunda-feira.
— Na
agência, me pediram o Boletim de Ocorrência, mesmo eu afirmando que
sabia os números dos cheques roubados que deveriam ser bloqueados —
disse Oliveira, que tentou, sem sucesso, fazer o BO via internet.
BANCOS PEDEM BOLETIM DE OCORRÊNCIA
Oliveira
teve de passar por duas delegacias e precisou esperar ao todo três
horas para registrar a ocorrência. Com o BO, o gerente do Idec conseguiu
sustar definitivamente os cheques:
— Entendo que deva haver
procedimentos por parte dos bancos para evitar que se apliquem golpes.
Mas estava em pessoa na agência, bastava que assinasse uma solicitação e
pronto, não seria necessário o BO. Trata-se de um sistema cartorial,
que não reconhece a responsabilidade do consumidor. Se estivesse
mentindo, há meios legais para me punir por sustar cheques
indevidamente.
O Itaú disse que cumpriu a resolução do Banco
Central (BC), que estabelece o prazo de dois dias úteis para
apresentação do BO para confirmação da sustação de cheques por roubo,
furto ou extravio.
Mas até onde vai a responsabilidade do banco
quando o cliente é lesado? De acordo com o presidente do Instituto
Brasileiro de Política e Direito do Consumidor (Brasilcon), Bruno
Miragem, a instituição financeira passa a ser responsável por qualquer
dano ou prejuízo sofrido pelo consumidor a partir do momento em que é
comunicado o fato e o banco não toma as devidas providências.
—
Neste caso, o consumidor terá direito a uma reparação por uma má
prestação de serviço. O banco tem a informação passada pelo cliente, e a
providência é cancelar o cartão. No caso dos cheques, não aceitar, nem
pagar o valor, pois já tem uma contraordem — explica.
Segundo
Miragem, o que se discute é se há ou não responsabilidade da instituição
nas operações realizadas nas situações em que o cliente ainda não
informou o furto. Até os tribunais se dividem, diz o especialista, na
hora de responsabilizar o banco em determinados casos.
Já a
Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) afirma que as instituições
são responsáveis pela preservação da integridade, legitimidade,
confiabilidade, segurança e sigilo das transações, mas ressalta que
essas garantias esbarram em atitudes que dependem exclusivamente dos
clientes. Para não facilitar roubo e fraudes, a federação aconselha, por
exemplo, que se tirem dúvidas apenas com funcionários do banco e nunca
se aceite ajuda de estranhos para realizar operações bancárias.
O
assalto sofrido por Handl, na China, foi durante viagem de trabalho. Ele
foi cercado por três homens e um deles, de posse dos cartões, entrou em
um prédio. Depois de cinco minutos, o ladrão retornou e ele foi
liberado. Imediatamente, Handl seguiu para o hotel e ligou para o
Santander, comunicando o fato. Nesse intervalo, os ladrões já tinham
feito duas compras que somaram US$ 3.351,18. Desde então, o
administrador tenta ser reembolsado pelo banco:
— Ao comunicar por
telefone o roubo, o atendente perguntou se eu tinha seguro. Diante da
negativa, perguntou se queria contratar um, o que aceitei, apesar de já
ter sido roubado. Ele disse também que deveria fazer a contestação via
formulário, que receberia um crédito de confiança em até cinco dias
úteis, e que o banco teria 120 dias para entrar em contato com o
estabelecimento para verificar a validade da compra. Só consegui fazer
um boletim de ocorrência ao chegar ao Brasil e enviei a documentação em
15 de maio.
Em novo contato com o Santander, Handl foi informado
que a documentação não chegara, e que ele precisaria enviar novo
formulário. Enquanto isso, o pagamento dos cartões venceu, e o banco,
relata Handl, não contatou o estabelecimento ou reembolsou o pagamento,
mesmo sabendo que o cliente contestara a compra ilícita.
— O
atendimento foi confuso e nada transparente. Eu me senti injustiçado e,
agora, estou buscando reparação na Justiça — queixa-se.
O
Santander confirmou que as transações foram mantidas, já que os cartões
não tinham seguro internacional contra perda e roubo, e um seguro foi
contratado em 11 de maio, após o evento. O banco explicou que, para
viagens internacionais, o primeiro cuidado a ser tomado é habilitar o
uso do cartão no exterior e, se possível, contratar seguro. O banco
aconselha que os cartões sejam mantidos em lugar diferente de documentos
ou câmeras fotográficas.
Orientações de Febraban e Serasa Para evitar dor de cabeça
Senha dos cartões.
Jamais forneça a combinação a terceiros. Não a anote em papéis,
rascunhos ou no próprio cartão. Ao escolher a senha, não utilize números
previsíveis (data de nascimento, telefone residencial, placa do carro)
Não empreste.
Não empreste seu cartão a ninguém. Não permita que estranhos examinem
seu cartão sob qualquer pretexto, pois, sem que se perceba, pode haver
uma troca
Roubo, furto ou perda. Comunique
imediatamente à central de atendimento do banco e peça o cancelamento.
Em caso de assalto, furto ou roubo de cartões, cheques ou documentos,
registre a ocorrência na delegacia. O documento pode ser exigido para
reembolso ou sustar cheques
Saques em dinheiro.
Dê preferência a caixas automáticos instalados em locais de grande
movimentação e, se possível, em ambientes fechados. A orientação é que
os saques sejam feitos no horário comercial, quando o movimento de
pessoas é maior
Documentos. Especialistas
recomendam que não se saia de casa com todos os documentos originais. A
orientação é andar com a cópia simples ou autenticada e não perder de
vista os documentos
Onde guardar. Guarde os
documentos, cartões e cheques no bolso da frente da calça ou em lugar
escondido dentro da bolsa, longe de câmeras e celulares
Segurança. Não forneça dados pessoais a estranhos ou por telefone. Nem informe números dos documentos
Fonte: O Globo
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