Com juros no cartão de crédito a 470% ao ano, impulso de compras
para ganhar benefícios pode ter custo alto e anular as vantagens
oferecidas
Os programas de fidelidade se multiplicaram no mercado
brasileiro e já fazem parte da rotina do consumidor. Hoje são mais de
72 milhões de cadastros nas cinco maiores empresas do setor, segundo
dados da Associação Brasileira das Empresas do Mercado de Fidelização
(Abemf).
A oportunidade de comprar, ganhar pontos e ser compensada
com outros produtos ou serviços é interessante: os consumidores ganham
em época de aperto econômico e as empresas tentam fidelizar os clientes.
Mas como tudo que se relaciona ao consumo, é preciso tomar alguns
cuidados para usar bem os programas.
Carolina Ruhman Sandler,
especialista em educação financeira e fundadora do site Finanças
Femininas, dá algumas dicas para o consumidor não se enrolar
financeiramente ou se perder nos vários pontos acumulados. “É importante
consumir com cuidado, principalmente em tempos de crise econômica. Os
programas de fidelidade envolvem uma relação de consumo básica: quanto
mais você consome, mais pontos acumula. Por isso, é bom não se
empolgar”, recomenda.
Sandler lembra que é preciso ficar
atento para não se complicar com os valores a serem pagos. “A taxa de
juros do cartão de crédito, por exemplo, com certeza não compensará os
pontos acumulados no programa. É preciso muita atenção para evitar o
endividamento e a inadimplência: o controle financeiro deve ser sempre a
principal preocupação do consumidor”.
A especialista em educação
financeira lembra que as taxas de juros do cartão de crédito estão em
470% ao ano, segundo dados do Banco Central (BC). “Se o consumidor cria a
justificativa de sempre comprar com o cartão de crédito para ganhar
milhas, por exemplo, ele pode pagar um preço alto. O cartão de crédito é
uma 'arma' perigosa para quem não sabe gastar”, ressalta.
No caso
das milhas, Sandler destaca ainda que o consumidor deve ficar atento,
pois as vezes se empolga nas compras no crédito para ganhar milhas e em
alguns casos pode ser que o consumidor nem aproveite as milhas que
acabam expirando. Dados da Associação Brasileira das Empresas do Mercado
de Fidelização (Abemf) mostram que a taxa de pontos expirados ficou em
16% no primeiro semestre deste ano. “O consumidor se endivida e acaba
nem usando os pontos de milhagem”, salienta.
Para o Idec, o
consumidor deve consultar a situação do programa de milhagem ou de
pontos acumulados no cartão de crédito para poder resgatar o prêmio
antes do cancelamento. “As regras dos programas de milhagem e de pontos
mudam de empresa para empresa, por isso é importante ler as regras e
cláusulas dos contratos assinados”.
“É importante avaliar
ainda se taxas de administração e, no caso dos programas associados ao
uso de cartão de crédito, a anuidade cobrada compensam o benefício
oferecido. Cartões de crédito com status superior oferecem melhores
condições de trocas de milhas, por exemplo, mas o valor da anuidade
também é maior. É preciso fazer as contas e analisar se essa troca vale a
pena”, alerta Sandler.
Ajuda na mão O consumidor que participa
dos programas de fidelidade deve ainda se organizar. “Ficar de olho nas
validades é uma tarefa difícil, mas há aplicativos que podem ajudá-la. É
o caso do Oktoplus, que reúne mais de 40 programas”, explica Sandler. O
Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) também recomenda
concentrar todos os pontos em um único programa para facilitar o
controle e focar os esforços.
Segundo o Idec, é extremamente
importante que o consumidor leia o contrato de adesão antes de ingressar
nos programas. Cada um deles tem as restrições específicas e as
condições de utilização dos pontos devem ser compreendidas com clareza. É
importante, por exemplo, entender se é possível usar milhas para
passagens de fins de semana e qual é o valor mínimo a ser acumulado para
resgatar os benefícios. Os programas de fidelidade também devem
obedecer ao Código de Defesa do Consumidor (CDC).
Tipos de
programas Existem, hoje, três categorias de programas de fidelidade. Os
programas de coalizão são aqueles que reúnem uma rede de empresas
parceiras, como os oferecidos pela Dotz e Multiplus, por exemplo. Já os
programas individuais são oferecidos pelas próprias empresas e os pontos
são trocados por produtos da marca ou de parceiras. É o caso, por
exemplo dos programas de diversos bancos. Há também sites de cashback,
que permitem o resgate de parte do dinheiro, como o Cashola e o Méliuz.
“Os
programas de cashback são sempre uma boa pedida, mas antes de
participar dos sites de resgate de dinheiro, é preciso pesquisar antes o
preço do produto desejado direto no site da marca ou mesmo na loja
física para verificar se, de fato, existe a promoção. Na maioria dos
casos, os sites de cashback são verdadeiros e ainda ajudam na
fidelização do cliente”, comenta.
Dicas úteis para aproveitar bem suas milhas
Filie-se aos programas das companhias aéreas que operam nos
trechos para os quais você gostaria de viajar.
Agrupe seus pontos em uma única companhia aérea.
Programe-se
para fazer viagens mais longas com as milhas. Às vezes, uma passagem
para o Rio de Janeiro demanda o mesmo número de pontos que uma para
Belém do Pará, por exemplo.
Antes da viagem, leia o contrato e informe-se sobre as condições do período em que pretende utilizar as milhas.
Se pretende viajar em um feriado ou nas férias escolares, emita sua passagem com bastante antecedência.
Fique atento às promoções. É possível conseguir passagens para destinos interessantes usando poucas milhas.
Verifique sempre o seu extrato de pontos para saber a data em
que eles vão expirar, assim como se as milhas foram creditadas ou descontadas corretamente.
Fonte: Estado de Minas