Brasil está atravessando a quarta crise de inadimplência dos últimos
15 anos. E, desta vez, a onda de calotes dos consumidores está
demorando mais a passar. A demora frustra os planos do governo de obter
uma arrancada mais forte da economia com pacotes de incentivo ao
consumo, como ocorreu na crise de 2008.
Nos últimos meses, a
economia andou de lado, influenciada principalmente pelo baixo nível de
investimentos e pela frustração com a produção do campo. O governo
baixou impostos para facilitar a venda de geladeiras a carros. Segundo
os primeiros dados do comércio, o consumidor reagiu, mas sem euforia.
A
principal explicação está na inadimplência. Em abril, o nível de
calotes bateu em 7,6%, maior marca desde setembro de 2009, segundo o
Banco Central. Segundo economistas, lojistas e executivos de bancos, a
tendência é de queda gradual, mas o calote só deve recuar para níveis
normais, em torno de 6,5%, no fim do ano.
A maior dificuldade do
brasileiro para pagar as dívidas em comparação com outros períodos de
pico de calote se deve à forte ressaca do consumo. Pesquisa da Serasa
Experian, feita em março com 350 mil inadimplentes, revela que 64% deles
tinham dívidas em atraso que superavam 100% da renda mensal. Ficaram de
fora pendências com contas de água, luz e outros serviços. "Isso
significa que, para limpar o nome, a maioria dos inadimplentes precisa
desembolsar o salário inteiro do mês", diz o economista responsável pelo
indicador, Luiz Rabi. É o pior resultado em dois anos.
Em 2001,
2005 e 2008/2009, a disparada do calote foi provocada pelo aumento do
desemprego. Desta vez, no entanto, o desemprego bate recorde de baixa e a
inadimplência, de alta, só que por excesso de endividamento.
O
comércio e os bancos têm avaliação semelhante. Na semana passada, o
presidente do Santander Brasil, Marcial Portela, disse que a
inadimplência deve começar a se estabilizar no fim do ano. Até lá, o
calote e as provisões para possíveis perdas devem continuar subindo.
"A
inadimplência não deve ceder rapidamente. O retorno para níveis normais
deve ocorrer mais para o fim do ano", prevê o economista da Associação
Comercial de São Paulo, Emílio Alfieri. Ele lembra que o último pico do
calote do crediário ocorreu em abril de 2009. Naquele mês, a
inadimplência líquida, que considera os carnês não pagos, descontados
dos renegociados, em relação às vendas financiadas de três meses
anteriores, foi de 10,3%, mas recuou para 6,5% cinco meses depois. Em
abril deste ano, o índice atingiu 8,5% e teve uma ligeira queda em maio
para 8,1%, motivada por uma campanha de renegociação.
Mas dados
preliminares mostram que, na primeira quinzena de junho, o calote voltou
a subir num ritmo superior ao das renegociações, invertendo a tendência
observada desde abril. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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