O acordo voluntário anunciado ontem (22) pela Coca-Cola Brasil,
Ambev e Pepsico para restringir a venda de refrigerantes em escolas é
visto pelo Idec como um passo necessário, mas que pode ser insuficiente
para reduzir o consumo de bebidas açucaradas entre as crianças.
Segundo
o acordo, as empresas deixarão de vender refrigerantes diretamente às
cantinas de escolas "para crianças de até 12 anos (ou com maioria de
crianças de até essa idade)".
Porém, falta
clareza sobre vários pontos da iniciativa. O texto aponta que as
empresas poderão continuar vendendo “água mineral, suco com 100% de
fruta, água de coco e bebidas lácteas que atendam a critérios
nutricionais específicos".
Não fica claro qual é o
tipo de suco que poderá ser vendido, por exemplo. “Um suco ‘100% de
fruta’ não é a mesma coisa que suco integral. É uma bebida reconstituída
e costuma conter aditivos, como aromatizante, vitamina e fibras
adicionadas”, explica Ana Paula Bortoletto, nutricionista e pesquisadora
do Idec.
Também faltam informações sobre quais
serão os critérios específicos para as bebidas lácteas, tratadas como
uma categoria à parte. “Elas têm suas especificidades mesmo, mas muitas
bebidas lácteas têm tanto açúcar quanto refrigerantes”, alerta a
nutricionista do Idec.
Outro ponto controverso é
como será o procedimento das empresas em escolas mistas, com alunos do
ensino básico, fundamental e médio. “Por ser voluntária, a iniciativa
pode esbarrar em uma série de dificuldades típicas dessa forma de
regulação, como a falta de mecanismos de monitoramento eficazes e a
falta de punições para aqueles que não respeitam as regras”, diz Ana
Paula.
Para a especialista, a proibição da oferta
de bebidas açucaradas em escolas por uma medida legislativa, por
exemplo, seria mais eficiente. Atualmente, há diversos projetos de lei
em discussão pelo país que pretendem banir a venda de refrigerantes e
outros produtos não saudáveis nesses locais. “As empresas deveriam
apoiar esses projetos, pois vão ao encontro da iniciativa que elas
propõem no acordo voluntário e inclusive facilitariam sua
implementação”, ressalta a nutricionista.
Chega de publicidade
O
Idec esteve em presente em duas reuniões com o setor produtivo que
discutiram essa iniciativa, mas não participou de nenhuma decisão sobre
ela, nem sobre o portfólio de produtos que seria alvo da medida. “Nossas
sugestões apontaram a necessidade de que todas as formas possíveis de
combater e desincentivar a promoção de bebidas nas escolas sejam
implementadas, incluindo o fim da publicidade”, explica Carlos Thadeu de
Oliveira, gerente técnico do Instituto.
Considerando
as limitações do acordo voluntário, o Idec acredita que as indústrias
de bebidas deveriam banir a exposição de suas marcas nas escolas. Por
exemplo, retirando displays e freezers das bebidas desses locais.
“A
publicidade infantil é abusiva. Sobretudo no ambiente escolar, as
crianças deveriam estar mais protegidas dos apelos para consumo de
bebidas e outros alimentos não saudáveis”, declara a nutricionista do
Idec.
“No texto do acordo, as indústrias
reconhecem que crianças menores de 12 anos não têm maturidade para tomar
decisões de consumo. Nós concordamos e por isso defendemos o fim de
toda forma de publicidade dirigida a elas”, completa.
Fonte: Idec
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