Metade dos professores do ensino fundamental (51%) conseguiu
desenvolver pelo menos 80% do conteúdo previsto para o ano. Na outra
ponta, 11% concluíram menos de 60% daquilo que deveria ter sido ensinado
aos alunos.
Os dados são do questionário da Prova Brasil 2015,
aplicado a diretores, alunos e professores do 5º e do 9º ano do ensino
fundamental de todo o país. As informações foram organizadas e
divulgados hoje (20) na plataforma QEdu (www.qedu.org.br)
Quando
considerados apenas os professores do 9º ano, menos da metade (45%)
desenvolveu pelo menos 80% do conteúdo previsto para as turmas que
fizeram a Prova Brasil em 2015. Já entre os professores do 5º ano, a
porcentagem chega a 55%. A questão foi respondida por mais de 262 mil
professores.
A maioria dos professores (91%) disse ainda que
gasta até 20% do tempo da aula com tarefas administrativas como fazendo a
chamada ou preenchendo formulários. Outros 20% da aula são gastos para
manter a ordem e a disciplina em sala de aula para 70% dos professores.
O
tempo que resta para atividades de ensino e aprendizagem é de menos de
80% do total para 57% dos professores. Considerando uma aula de 50
minutos, isso significa que, nos melhores cenários, menos de 40 minutos
são dedicados de fato ao ensino.
Segundo o pesquisador da
Fundação Lemann, sediada em São Paulo, Ernesto Faria, os dados são
preocupantes. "Os alunos não estão tendo acesso a conteúdos importantes.
Os professores conseguem cumprir uma parte, mas conteúdos importantes
sequer são apresentados", disse.
O resultado pode ser visto no
desempenho dos estudantes brasileiros na última divulgação da Prova
Brasil. A avaliação de 2015 mostrou que, ao deixar a escola, no fim do
ensino médio, apenas 7,3% dos estudantes aprendem o mínimo adequado em matemática e 27,5% em português.
De acordo com Faria, esses dados podem ser usados para se pensar a
Base Nacional Comum Curricular, que atualmente está em discussão no
Ministério da Educação. A base deverá orientar o que deve ser ensinado
em cada etapa escolar.
"Não basta só ter um documento e currículo
de altas expectativas e não resolver problemas de material didático e
estratégias para aprendizagem. Não adianta ter um currículo bom, mas não
cumprido na sala de aula", afirma. Os questionários foram respondidos
por 52.341 diretores, 262.417 professores e 3.810.459 estudantes.
Condições de trabalho
Os
problemas nas escolas são diversos. Segundo a maior parte dos diretores
(70%), o ensino foi dificultado por falta de recursos financeiros. Mais
da metade (55%) disse ter enfrentado dificuldades por falta de recursos
pedagógicos.
Os dados mostram ainda que a maioria dos
professores trabalha 40 horas ou mais (66%) e que 40% deles lecionam em
duas ou mais escolas. Pelo menos um terço (34%), ganhavam, como
professores, menos do que o piso salarial estabelecido pela Lei do Piso
(Lei 11.738/2008) para aquele ano, que era de R$ 1.917,78.
A
professora Cleonice Santos, 43 anos, concilia mais de um trabalho.
Durante o dia, dá aulas de português para o 9º ano do ensino fundamental
no Centro de Ensino Fundamental 10 do Gama, no Distrito Federal. À
noite, leciona no ensino médio do Centro de Ensino Médio 2 do Gama.
"Tenho
uma vida muito corrida. Trabalho de manhã, saio da escola, ajudo minhas
filhas com o dever de casa, deixo nas escolas onde estudam, volto para a
minha à tarde. Depois busco as minhas filhas, ajudo com o dever do dia
seguinte e vou para a escola à noite. É corrido, cansativo, mas consigo
levar com planejamento. Cleonice disse gostar muito da profissão.
Consegue concluir o conteúdo do ensino fundamental, mas não do médio.
Quando perguntada se se sente desvalorizada, Cleonice responde: "Estou
em greve".
Assim como Cleonice, 30% dos professores acreditam que
a sobrecarga, que dificulta o planejamento da aula, atrapalha a
aprendizagem dos alunos; e 29% opinam que a insatisfação e o desestímulo
com a profissão impactam também no aprendizado dos estudantes.
Considerando
todas as escolas em que o professor trabalha, atualmente 36% gastam
menos de um terço da carga horária para o planejamento das aulas. Pela
Lei do Piso, esse é o tempo garantido ao professor para que planeje as
atividades a serem desenvolvidas em sala de aula.
"Infelizmente,
continuamos com muitas dificuldades. A começar pela própria
infraestrutura das escolas. Temos reclamações de professores com salas
superlotadas, salas muito quentes, que atrapalham o aprendizado, falta
de luz, de água. Isso tudo somado ao não cumprimento da Lei do Piso",
afirmou o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em
Educação (CNTE), Heleno Araújo. "Os governantes dizem que os alunos são
prejudicados só quando tem greve. Isso não é verdade, eles precisam
tomar uma atitude porque os alunos são prejudicados o ano inteiro",
finaliza.
Fonte: Agência Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário