Distúrbio é associado ao medo de lidar com questões financeiras e pode causar problemas físicos e psíquicos
Quem tem fobia financeira pode sofrer de dores crônicas
Você
já ouviu falar em fobia financeira? É um termo utilizado por
pesquisadores para identificar pessoas que têm aversão em lidar com
questões financeiras, e costuma ser atribuído à falta de educação
financeira.
Uma pesquisa realizada em 2003 por um grupo
especializado em serviços financeiros e um professor da Universidade de
Cambridge, revelou que 54% das vítimas de fobia financeira ficam
apreensivas quando têm que lidar com questões envolvendo dinheiro e que
38% não têm interesse por suas finanças.
Será que você também têm sintomas da fobia financeira? Faça o teste abaixo e descubra! Em seguida, conheça as causas e os tratamentos dessa síndrome.
Independente
do resultado, você deve ter percebido que as pessoas que sofrem da
fobia financeira evitam conversar ou até mesmo pensar em assuntos que
envolvem contas a pagar, planejamento financeiro, dívidas ou
investimentos. Elas não abrem a fatura do cartão de crédito, não tiram
extrato da conta do banco, nem mesmo examinam suas despesas.
“Tenho clientes que colocam todas as suas contas em débito
automático, que rasgam as faturas do cartão de crédito, que não
acompanham se o saldo da conta bancária está positivo ou negativo. Elas
têm medo de não ter o dinheiro para pagar as dívidas ou de que a
ausência desse dinheiro sabotar algum plano futuro. O medo está
diretamente relacionado a expectativas e frustrações”, conta o coach
Robson Profeta.
Essa dificuldade em lidar com questões financeiras
tem impacto direto na saúde de quem tem fobia financeira. Quando elas
pensam em dinheiro costumam de sentir oprimidas, temerosas e confusas.
Lembrar das contas é pagar é um sofrimento para as vítimas da síndrome.
Elas sentem o coração acelerar e chegam a transpirar de pânico. As
noites de sono são conturbadas em meio a insistentes pensamentos sobre
dinheiro, dívidas e futuro. A ansiedade, a culpa e o estresse causados
pela sensação de descontrole para cuidar do próprio dinheiro desencadeia
uma série de problemas físicos que vão desde intestino preso a dores
crônicas nas costas, no pescoço e nos ombros.
Os impactos da
síndrome também atingem a vida social e financeira de quem sofre dessa
síndrome. “Conheço vítimas que têm vergonha de se relacionar com outras
pessoas porque elas têm a sensação de que todo mundo sabe que elas
quebraram. Elas passam a parar de sair com os amigos e de ir a reuniões
importantes”, diz Profeta.
A ansiedade está intrinsicamente relacionada à maneira como o dinheiro é usado.
“Muitas
vítimas enfrentam crises antes de fazer compras, mas sentem a
necessidade de adquirir produtos e serviços para acabar com a ansiedade.
O problema é que eles resolvem o problema momentaneamente, porque
entram em outra crise após realizar a compra e receber a fatura do
cartão de crédito”, explica Leandro Ferreira, educador financeiro e
especialista em investimentos.
Quem sofre de fobia financeira se
vê como peça principal de um ciclo vicioso e se sente incapaz de sair
dele. O medo gera ansiedade, que gera consumismo e consequentemente
endividamento. A vítima passa a sofrer então com a compulsão, o
endividamento e a falta de controle em relação as suas questões
financeiras, principal questão da fobia financeira.
“A pessoa que
sofre de fobia financeira esquece ou não sabe que a educação financeira
tem a ver com o comportamento dela em relação ao consumo e não com
números e planilhas”, acrescenta Ferreira.
Quais são as causas da fobia financeira?
O
cientista britânico Dr. Brendan Burchell, da Faculdade de Ciências
Sociais e Políticas da Universidade de Cambridge, formulou três teorias
que explicam o comportamento das vítimas de fobia financeira: a
procrastinação a falta de confiança e a frustração.
Ele explica
que o adiamento pode ser um fator que gera a fobia financeira pelo fato
de as pessoas que têm a síndrome sentirem culpa por adiar suas decisões
financeiras. Muitos entrevistados admitiram durante a pesquisa realizada
em 2003 que tinham o hábito de evitar as tarefas que envolviam
dinheiro, e por conseguinte, sentiam-se culpados e ansiosos. Como elas
não mudavam de comportamento, a situação se repetia e culminava com o
surgimento da síndrome: cada vez que ela adia a resolução de suas
questões financeiras, ela adquire mais dívidas, que desencadeiam mais
sintomas do distúrbio, que a fazem adiar mais ainda a solução dos
problemas vinculados ao dinheiro. O adiamento se torna, portanto, causa e
consequência do distúrbio.
Já a falta de confiança é um resultado
geralmente da falta de educação financeira. Muitas vítimas dos
distúrbio não se sentem confiantes em lidar com informações recebidas
por prestadores de serviços financeiros, dados, números ou gráficos. No
entanto, há quem sofra com a falta de confiança por sofrer de outro
problema: baixa auto-estima.
“É o caso de um adolescente que ouviu
do pai que nunca seria ninguém na vida e que acabou assumindo isso como
verdade. Ele assume o insucesso inconscientemente, passa a sabotar a si
próprio e naturalmente sofre com isso”, exemplifica Profeta.
O último fator apontado por Burchell, a frustração, é consequência de
algum evento inesperado ou trauma ocorrido no campo financeiro. Seus
estudos mostraram que alguns indivíduos desenvolveram a fobia financeira
ao perder parte do que haviam conquistado durante um longo processo de
economia e reorganização financeira.
“São muito comuns os casos em
que as pessoas desenvolvem fobia em decorrência de uma frustração. É o
caso de uma pessoa que aplica todo o FGTS na abertura de um café e, por
inexperiência, esquece ou não sabe que para que o negócio dê certo, é
necessário ter capital de giro (capital necessário para financiar a
quantidade das operações da empresa, como recursos para financiamento
aos clientes, manutenção de estoques e pagamento de fornecedores,
impostos, salários e outros custos e despesas operacionais). Daí você
coloca R$ 100 mil no café e ele quebra. Você acaba vendendo por R$ 30
mil e se lamentando por ter desperdiçado anos de sua vida trabalhando
para aplicar dinheiro em um negócio que não deu certo”, conta Profeta.
Embora
o adiamento, a falta de confiança e a frustração sejam os principais
gatilhos da fobia financeira, é impossível dizer que elas sejam os
únicos, de acordo com o coach. “A fobia é resultado de diversas causas e
efeitos”, explica.
“Há pessoas que têm problemas de ordem
financeira, estrutural, emocional e psicológico. Há quem não tenha alta
auto-estima e valor de confiança, e há quem tenha naturalmente menos
compromisso e responsabilidade. Os fatores que podem desencadear a fobia
financeira são os mais diversos, e podem incluir, inclusive o perfil da
sociedade de consumo que existe hoje. As marcas estão sempre te
oferecendo alguma coisa. A motivação pelo consumo está aí no dia-a-dia,
na mídia, seja na mídia, seja nas redes sociais. Quando você tem
diversas ofertas de consumo, você aprende a consumir e quando você gasta
você fica com medo de enfrentar problemas financeiro. Embora existam
mais pessoas com problemas financeiros do que nas décadas de 1930 e
1940, hoje a gente consegue procurar ajuda, ao contrário de quem vivia
nos anos 30 e 40 e se suicidavam quando se viam presos a grandes
dívidas”.
Qual é o tratamento para a fobia financeira?
Encarar
a realidade, assumir a existência do problema e enfrentar o fato de que
as dívidas estão fora do controle e que essa situação pode ser mudada é
o primeiro passo a ser tomado por quem busca tratamento para a fobia
financeira. Afinal, a vítima é a principal responsável por desenvolver o
medo dentro de si.
“Reconhecer o problema da fobia é o primeiro
grande passo, depois mapear quais são seus planos de fato e com a
realidade da sua vida financeira (isso inclui analisar o saldo da conta
corrente, as dívidas do cartão de crédito, o pagamento da prestação da
cada própria ou do aluguel, as despesas com o supermercado). Acessar as
linhas da sua vida de despesa e receita faz com que você assuma uma
postura totalmente diferente. Finanças é o resultado de como você
gerencia a sua vida, não é só número, salário e despesa”, explica
Profeta.
Após assumir o problema, busque informação. Quanto mais
informação, maior a sensação de segurança e a impressa de que as
decisões que serão tomadas são corretas. A educação financeira ajuda a
encontrar o equilíbrio financeiro e manter as despesas sob controle.
Depois disso, tome uma atitude. Em outras palavras, pare de
adiar as decisões financeiras, antes que elas saiam do controle. Faça um
levantamento de todas as duas contas e analise onde é possível reduzir
ou cortar despesas. Elabore, então, um orçamento financeiro e reserve
parte da renda para despesas inesperadas. Se sentir que precisa de ajuda
e que não sente confortável para abordar o assunto com a família,
procure profissionais de saúde mental e especialistas financeiros para
resolver os problemas tanto de ordem psíquica quanto financeira.
“O
especialista em finanças vai ajudar a pessoa que sofre de fobia
financeira a rever o comportamento que ela tem em relação ao dinheiro e a
controlar suas finanças pessoais, enquanto o terapeuta vai ajudá-la
através de psicoterapia, acupuntura, exercícios respiratórios para sanar
os sintomas psicológicos e físicos”, conta Profeta.
O último
desafio da vítima da fobia financeira é não desistir do tratamento,
porque essa é uma das fases mais difíceis de todo o processo. “Há
clientes que quando são informados de que é chegada a hora de acessas as
suas finanças desistem do coaching e há clientes que assumem papel de
vítima e atribuem a culpa de seus problemas financeiros a terceiros,
como fornecedores, clientes ou contadores.”
Fonte: IG
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