segunda-feira, 23 de maio de 2016

Medo de checar o extrato do cartão? Descubra se você sofre de fobia financeira

Quem tem fobia financeira pode sofrer de dores crônicasDistúrbio é associado ao medo de lidar com questões financeiras e pode causar problemas físicos e psíquicos

Quem tem fobia financeira pode sofrer de dores crônicas
Você já ouviu falar em fobia financeira? É um termo utilizado por pesquisadores para identificar pessoas que têm aversão em lidar com questões financeiras, e costuma ser atribuído à falta de educação financeira.
Uma pesquisa realizada em 2003 por um grupo especializado em serviços financeiros e um professor da Universidade de Cambridge, revelou que 54% das vítimas de fobia financeira ficam apreensivas quando têm que lidar com questões envolvendo dinheiro e que 38% não têm interesse por suas finanças.
Será que você também têm sintomas da fobia financeira? Faça o teste abaixo e descubra! Em seguida, conheça as causas e os tratamentos dessa síndrome.
Independente do resultado, você deve ter percebido que as pessoas que sofrem da  fobia financeira evitam conversar ou até mesmo pensar em assuntos que envolvem contas a pagar, planejamento financeiro, dívidas ou investimentos. Elas não abrem a fatura do cartão de crédito, não tiram extrato da conta do banco, nem mesmo examinam suas despesas.
“Tenho clientes que colocam todas as suas contas em débito automático, que rasgam as faturas do cartão de crédito, que não acompanham se o saldo da conta bancária está positivo ou negativo. Elas têm medo de não ter o dinheiro para pagar as dívidas ou de que a ausência desse dinheiro sabotar algum plano futuro. O medo está diretamente relacionado a expectativas e frustrações”, conta o coach Robson Profeta.
Essa dificuldade em lidar com questões financeiras tem impacto direto na saúde de quem tem fobia financeira. Quando elas pensam em dinheiro costumam de sentir oprimidas, temerosas e confusas. Lembrar das contas é pagar é um sofrimento para as vítimas da síndrome. Elas sentem o coração acelerar e chegam a transpirar de pânico. As noites de sono são conturbadas em meio a insistentes pensamentos sobre dinheiro, dívidas e futuro.  A ansiedade, a culpa e o estresse causados pela sensação de descontrole para cuidar do próprio dinheiro desencadeia uma série de problemas físicos que vão desde intestino preso a dores crônicas nas costas, no pescoço e nos ombros.
Os impactos da síndrome também atingem a vida social e financeira de quem sofre dessa síndrome. “Conheço vítimas que têm vergonha de se relacionar com outras pessoas porque elas têm a sensação de que todo mundo sabe que elas quebraram. Elas passam a parar de sair com os amigos e de ir a reuniões importantes”, diz Profeta.
A ansiedade está intrinsicamente relacionada à maneira como o dinheiro é usado.
“Muitas vítimas enfrentam crises antes de fazer compras, mas sentem a necessidade de adquirir produtos e serviços para acabar com a ansiedade. O problema é que eles resolvem o problema momentaneamente, porque entram em outra crise após realizar a compra e receber a fatura do cartão de crédito”, explica Leandro Ferreira, educador financeiro e especialista em investimentos. 
Quem sofre de fobia financeira se vê como peça principal de um ciclo vicioso e se sente incapaz de sair dele.  O medo gera ansiedade, que gera consumismo e consequentemente endividamento. A vítima passa a sofrer então com a compulsão, o endividamento e a falta de controle em relação as suas questões financeiras, principal questão da fobia financeira.
“A pessoa que sofre de fobia financeira esquece ou não sabe que a educação financeira tem a ver com o comportamento dela em relação ao consumo e não com números e planilhas”, acrescenta Ferreira.
Quais são as causas da fobia financeira?
O cientista britânico Dr. Brendan Burchell, da Faculdade de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Cambridge, formulou três teorias que explicam o comportamento das vítimas de fobia financeira: a procrastinação a falta de confiança e a frustração.
Ele explica que o adiamento pode ser um fator que gera a fobia financeira pelo fato de as pessoas que têm a síndrome sentirem culpa por adiar suas decisões financeiras. Muitos entrevistados admitiram durante a pesquisa realizada em 2003 que tinham o hábito de evitar as tarefas que envolviam dinheiro, e por conseguinte, sentiam-se culpados e ansiosos. Como elas não mudavam de comportamento, a situação se repetia e culminava com o surgimento da síndrome: cada vez que ela adia a resolução de suas questões financeiras, ela adquire mais dívidas, que desencadeiam mais sintomas do distúrbio, que a fazem adiar mais ainda a solução dos problemas vinculados ao dinheiro. O adiamento se torna, portanto, causa e consequência do distúrbio.
Já a falta de confiança é um resultado geralmente da falta de educação financeira. Muitas vítimas dos distúrbio não se sentem confiantes em lidar com informações recebidas por prestadores de serviços financeiros, dados, números ou gráficos. No entanto, há quem sofra com a falta de confiança por sofrer de outro problema: baixa auto-estima.
“É o caso de um adolescente que ouviu do pai que nunca seria ninguém na vida e que acabou assumindo isso como verdade. Ele assume o insucesso inconscientemente, passa a sabotar a si próprio e naturalmente sofre com isso”, exemplifica Profeta.
O último fator apontado por Burchell, a frustração, é consequência de algum evento inesperado ou trauma ocorrido no campo financeiro. Seus estudos mostraram que alguns indivíduos desenvolveram a fobia financeira ao perder parte do que haviam conquistado durante um longo processo de economia e reorganização financeira.
“São muito comuns os casos em que as pessoas desenvolvem fobia em decorrência de uma frustração. É o caso de uma pessoa que aplica todo o FGTS na abertura de um café e, por inexperiência, esquece ou não sabe que para que o negócio dê certo, é necessário ter capital de giro (capital necessário para financiar a quantidade das operações da empresa, como recursos para financiamento aos clientes, manutenção de estoques e pagamento de fornecedores, impostos, salários e outros custos e despesas operacionais). Daí você coloca R$ 100 mil no café e ele quebra. Você acaba vendendo por R$ 30 mil e se lamentando por ter desperdiçado anos de sua vida trabalhando para aplicar dinheiro em um negócio que não deu certo”, conta Profeta.
Embora o adiamento, a falta de confiança e a frustração sejam os principais gatilhos da fobia financeira, é impossível dizer que elas sejam os únicos, de acordo com o coach. “A fobia é resultado de diversas causas e efeitos”, explica.
“Há pessoas que têm problemas de ordem financeira, estrutural, emocional e psicológico. Há quem não tenha alta auto-estima e valor de confiança, e há quem tenha naturalmente menos compromisso e responsabilidade. Os fatores que podem desencadear a fobia financeira são os mais diversos, e podem incluir, inclusive o perfil da sociedade de consumo que existe hoje. As marcas estão sempre te oferecendo alguma coisa. A motivação pelo consumo está aí no dia-a-dia, na mídia, seja na mídia, seja nas redes sociais. Quando você tem diversas ofertas de consumo, você aprende a consumir e quando você gasta você fica com medo de enfrentar problemas financeiro. Embora existam mais pessoas com problemas financeiros do que nas décadas de 1930 e 1940, hoje a gente consegue procurar ajuda, ao contrário de quem vivia nos anos 30 e 40 e se suicidavam quando se viam presos a grandes dívidas”.
Qual é o tratamento para a fobia financeira?
Encarar a realidade, assumir a existência do problema e enfrentar o fato de que as dívidas estão fora do controle e que essa situação pode ser mudada é o primeiro passo a ser tomado por quem busca tratamento para a fobia financeira. Afinal, a vítima é a principal responsável por desenvolver o medo dentro de si.
“Reconhecer o problema da fobia é o primeiro grande passo, depois mapear quais são seus planos de fato e com a realidade da sua vida financeira (isso inclui analisar o saldo da conta corrente, as dívidas do cartão de crédito, o pagamento da prestação da cada própria ou do aluguel, as despesas com o supermercado). Acessar as linhas da sua vida de despesa e receita faz com que você assuma uma postura totalmente diferente. Finanças é o resultado de como você gerencia a sua vida, não é só número, salário e despesa”, explica Profeta.
Após assumir o problema, busque informação. Quanto mais informação, maior a sensação de segurança e a impressa de que as decisões que serão tomadas são corretas. A educação financeira ajuda a encontrar o equilíbrio financeiro e manter as despesas sob controle.
Depois disso, tome uma atitude. Em outras palavras, pare de adiar as decisões financeiras, antes que elas saiam do controle. Faça um levantamento de todas as duas contas e analise onde é possível reduzir ou cortar despesas. Elabore, então, um orçamento financeiro e reserve parte da renda para despesas inesperadas. Se sentir que precisa de ajuda e que não sente confortável para abordar o assunto com a família, procure profissionais de saúde mental e especialistas financeiros para resolver os problemas tanto de ordem psíquica quanto financeira.
“O especialista em finanças vai ajudar a pessoa que sofre de fobia financeira a rever o comportamento que ela tem em relação ao dinheiro e a controlar suas finanças pessoais, enquanto o terapeuta vai ajudá-la através de psicoterapia, acupuntura, exercícios respiratórios para sanar os sintomas psicológicos e físicos”, conta Profeta.
O último desafio da vítima da fobia financeira é não desistir do tratamento, porque essa é uma das fases mais difíceis de todo o processo. “Há clientes que quando são informados de que é chegada a hora de acessas as suas finanças desistem do coaching e há clientes que assumem papel de vítima e atribuem a culpa de seus problemas financeiros a terceiros, como fornecedores, clientes ou contadores.”
Fonte: IG



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