Dar mesada é mais do que ‘calar a boca’ de crianças que crescem jogadas na selvageria do mercado de consumo, bombardeadas por propagandas e como membros decisivos nas escolhas de compra da família.
Portanto, ensinar desde cedo a administração das próprias finanças pode ser um mecanismo importante para a educação financeira de toda uma vida. Os pais, em geral, têm muitas dúvidas em relação à mesada. Os questionamentos são principalmente sobre quando começar a dar, quanto e com qual periodicidade.
Especialista em educação financeira infantil e autor de livros sobre este universo, Álvaro Modernell responde abaixo as perguntas mais frequentes sobre o assunto e esclarece os pormenores do assunto.
Há uma idade ideal para começar a dar mesada?
“Depende bastante da maturidade da criança e do estilo de vida da família, mas em geral vejo a faixa entre 6 e 7 anos como o melhor período, pois é a idade em que as crianças começam a ser alfabetizadas e passam a lidar mais intensamente com números. É bom quando a criança pede ou sugere, assim valorizam mais, ficam mais receptivas às orientações e sentem que estão conquistando algo.”
Quanto dar de mesada? Cada faixa etária deve receber um valor diferente?
“Não há valor definido ou fórmula que funcione adequadamente para todos os perfis de famílias. Os pais devem observar as possibilidades de seu orçamento, os hábitos da criança e da família e a partir desse ponto buscar um parâmetro para iniciar. Porém, é importante ressaltar que mesmo que haja a possibilidade de dar uma mesada alta, isso deve ser evitado. Em termos de educação financeira, a escassez ensina mais do que a fartura e em caso de eventual aperto financeiro da família as crianças não sentirão tanto. É interessante que os pais conversem com os pais dos amigos mais próximos de seus filhos e tirem uma média, um valor parecido, assim não fica um valor exorbitante, mas também não frustra a criança com um valor muito baixo. Além do valor, devem ser combinadas, acompanhadas e respeitadas pelas d uas partes a periodicidade e as regras de pagamento e uso.”
O dinheiro do lanche escolar deve estar incluído na mesada?
“Na infância, não. O dinheiro do lanche nunca deve estar incluído na mesada porque se corre o risco de a criança deixar de comer para não gastar o seu dinheiro. Caso a família opte por dar dinheiro às crianças para comprar lanche na escola, os valores devem ser separados da mesada e, caso a criança opte por não comer naquele dia ou se sobrar troco, deve ser devolvido aos pais. Para adolescentes, isso pode acontecer, mas também com regras claras.”
E condicionar a mesada com o desempenho escolar?
“Também não é recomendável! Isso pode estimular uma mentalidade mercenária. A criança pode cair de produção em um período sabendo que, mais adiante, com uma melhora nas notas, receberá uma recompensa financeira. Além disso, encontramos casos de pais que terceirizaram ao dinheiro a responsabilidade pelo acompanhamento das tarefas e desempenho escolar, o que efetivamente é bastante prejudicial à educação infantil.”
Como os pais devem pagar a mesada?
“Embora tenha o nome mesada, o ideal para as crianças menores é que não seja mensal, pois elas ainda têm dificuldade para lidar com horizontes temporais distantes. No início, dos 6 aos 8 anos, sugiro periodicidade semanal. Entre 8 e 10 anos pode-se optar por um período de transição, com a quinzenada. A partir dos 10 ou 11 anos, conforme a maturidade da criança, pode-se estabelecer a mesada propriamente dita, com a periodicidade mensal, que será a da maioria dos ciclos financeiros que irão vivenciar na vida adulta.
É importante também que os pais mantenham as decisões a partir do momento que decidirem dar a mesada, como pagar no dia e no valor acordados. Mesada é coisa séria! E, se possível, devem pagar com dinheiro trocado, estimulando-as a poupar uma parte sempre que receberem algum dinheiro.”
Qual a principal lição que fica para a criança e para os pais que optam pela mesada?
“Para as crianças ficarão experiências, aprendizados com erros e acertos, terão que fazer escolhas, conviver com limites. Aprenderão a controlar, pesquisar preços, a poupar, a planejar compras. Muitas vão desenvolver habilidades, atitudes e posturas importantes para que, quando adultas, tenham uma vida financeira tranquila e com boas perspectivas. Para os pais, a percepção de que não basta dar o instrumento – a mesada. Precisarão dar também orientações e educação financeira propriamente dita. Também perceberão que é mais econômico e mais produtivo estabelecer limites para os filhos também nas questões financeiras.”
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