A correção das contas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
(FGTS) pela inflação vai quase dobrar as taxas de juros cobradas nos
financiamentos habitacionais que usam recursos desta fonte. O alerta faz
parte da estratégia de defesa que a Caixa Econômica Federal vem
adotando contra cerca de 30 mil ações, que pedem a correção do fundo
pela inflação. Para atualizar os saldos do FGTS, o banco usa a Taxa
Referencial (TR), que fica abaixo do índice.
Segundo contas
apresentadas em um dos processos em que o banco foi derrotado, a defesa
informou que se o fundo for corrigido pela inflação, as taxas de juros
cobradas no crédito habitacional — que usa recursos do FGTS — subiriam
da faixa atual de 6,66% para 8,66% ao ano, cuja variação seria entre
12,5% e 14,6% ao ano.
No caso de um empréstimo de R$ 100 mil com prazo de dez
anos, o montante de juros pago pelo mutuário saltaria 63%, de
R$110.894,49 para R$180.645,87, por exemplo. Nos cálculos, a Caixa usou
como referência o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Até agora, nos cinco casos em que o banco já foi derrotado, a Justiça
obrigou a instituição financeira a usar o Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Comum (INPC) e o IPCA Especial (IPCA-E).
PERDAS DE QUASE 100%
As
contas da Caixa não indicam quantos mutuários podem ser afetados pela
mudança. Para 2014, o orçamento do FGTS prevê investimento de R$ 57,8
bilhões em habitação. O aposentado Carlos Alberto Carvalho, 77 anos,
ficou indignado ao saber da intenção do banco em querer aumentar os
juros do crédito habitacional.
Para advogados, desde 1999 os trabalhadores tiveram perdas de até
100%. De acordo com cálculos do escritório G Carvalho Sociedade de
Advogados, se um trabalhador tinha R$ 1 mil na conta do FGTS no ano de
1999, hoje tem R$ 1.340,47, em função das taxas de reajuste aplicadas.
Mas se a correção fosse feita com os cálculos corretos, o mesmo
trabalhador deveria ter na conta R$ 2.586,44.
Nos últimos dias, a
Caixa sofreu as primeiras cinco derrotas em ações que pedem a correção
do FGTS pela inflação, após vencer em pouco mais de 13 mil decisões. As
sentenças favoráveis colocaram o banco e o Conselho Curador do fundo em
estado de atenção. A instituição vai recorrer das sentenças.
Justiça questiona a instituição
Para
a Caixa, caso a Justiça aceite a substituição da TR por um índice
inflacionário na correção do FGTS, a troca ocorreria “automaticamente”
nos contratos de financiamento imobiliário. Conforme a instituição, alta
dos juros ocorreria porque a legislação obriga os bancos a usarem, no
financiamento habitacional, a mesma fórmula de correção aplicada aos
saldos do fundo.
Com isso, como dois terços dos contratos de
financiamento com recursos do FGTS são feitos por cotistas do fundo, o
trabalhador ganharia em uma ponta, mas perderia na outra. A Caixa alega
nos recursos na Justiça ainda que a elevação dos juros eliminaria linhas
de crédito habitacional destinadas à baixa renda.
O juiz que
recebeu a argumentação do banco, entretanto, discordou. Diego Viegas
Verás, da 2ª Vara Federal Cível de Foz do Iguaçu (PR), lembrou que,
mesmo no programa “Minha Casa, Minha Vida”, as taxas de juros cobradas
dos mutuários começam em 5%, ante os 3% que são aplicados ao FGTS. Com a
TR próxima de zero, essa é a praticamente a única correção que o
trabalhador obtém do seu saldo.
Advogada não vê razão para repasse automático
A
Caixa argumenta ainda que a troca da Taxa Referencial (TR) por um
índice inflacionário causaria um “absurdo passivo trabalhista”, pois
quem foi demitido sem justa causa — e, assim, recebeu a multa de 40%
sobre o saldo existente — poderia pedir uma revisão dessa indenização.
As dívidas dos empregadores com o FGTS, que somam hoje R$ 18 bilhões,
também seriam turbinadas com a alteração, alegou banco nos recursos.
A
correção maior também teria de ser aplicada aos empréstimos feitos aos
estados e municípios e, ao atrelar o fundo à evolução dos preços,
poderia provocar desequilíbrio na política econômica.
Advogada do
escritório G Carvalho Sociedade de Advogados, Vanessa Cardoso discorda
da posição da Caixa. Segundo ela, apesar de a instituição agir de acordo
com o que determina a lei sobre a correção do fundo pela TR, caso a
Justiça estipule outro índice de atualização do FGTS, isso não daria
direito à Caixa de alterar as taxas de juros dos financiamento
habitacionais.
“São questões econômico e não vejo razão para um
repassa automático. Mas se a Caixa assim o fizer e o mutuário se sentir
lesado em seu direito, ele recorrerá à Justiça, como vem ocorrendo com a
correção do saldo do FGTS”, acrescenta Vanessa.
Fonte: O Dia - Online
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