Dois de cada três alimentos consumidos por crianças e adolescentes
nas cantinas de escolas privadas do país têm baixo valor nutricional.
Essa é uma das conclusões da pesquisa Hábitos Alimentares de Crianças e Adolescentes em Cantinas de Escolas Privadas no Brasil em 2016,
realizada pelo Center for Behavioral Research (CBR) da Escola
Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio
Vargas (FGV Ebape), em parceria com a empresa Nutrebem. A pesquisa foi
divulgada ontem (30), no Rio de Janeiro.
Foram analisadas mais de
1,2 milhão de compras feitas no ano passado por mais de 19 mil
estudantes em cantinas de 97 escolas localizadas em 25 cidades de sete
estados brasileiros (Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande
do Sul, Pará, Santa Catarina e Bahia) e do Distrito Federal.
“Ficou
claro com esses dados que a maioria do que é consumido é de baixo valor
nutricional, tanto para doces, como para salgados e bebidas”, disse à
Agência Brasil o professor da FGV Ebape e coordenador do CBR, Eduardo
Andrade. “A gente observa isso Brasil afora”, completou.
As
amostras permitiram constatar que os estados do Rio de Janeiro e de São
Paulo lideram a lista de estados onde os adolescentes consomem mais
produtos de baixo valor nutricional. Em torno de 76,9% do que é
consumido pelas crianças e adolescentes nas escolas do Rio de Janeiro
são de baixo valor nutricional. Esse índice atinge cerca de 60% em São
Paulo.
Oferta
De acordo com a pesquisa,
nas escolas em que a oferta de itens saudáveis é maior, a compra desses
produtos também aumenta. “Há uma luz no fim do túnel. Nossas crianças e
adolescentes não estão fadadas a comer mal”, disse o coordenador do
CBR.
Embora, na média, se observe um consumo elevado de produtos
de baixo valor nutricional, há algumas escolas em que alimentos melhores
estão disponíveis. “Existem poucas escolas em que é oferecido muito
produto com médio e alto valor nutricional e também são consumidos
muitos produtos saudáveis”.
Uma das razões para que a maior parte
das escolas ofereça alimentos de baixo valor nutricional é de ordem
econômica. Produtos industrializados de mais baixo valor nutritivo são
mais convenientes e lucrativos para as cantinas. “Talvez estejam mais
expostos que os produtos mais nutritivos”.
Gênero
O
consumo pouco saudável é comum tanto para meninos quanto para meninas. A
partir da adolescência, porém, as garotas começam a comer de maneira um
pouco mais saudável que os garotos. Os pesquisadores da FGV acreditam
que a pressão social e estética sobre as meninas seja maior a partir
dessa fase, o que leva a um consumo mais consciente de alimentos.
A
sondagem constatou ainda que entre os produtos mais saudáveis
consumidos nas escolas estão frutas e salada de frutas, que também são
mais associados com o gênero do estudante. “A gente vê mais meninas
comendo salada de frutas do que meninos.”
Engajamento
Na
avaliação de Eduardo Andrade, a mudança desse quadro exige o
engajamento de três atores: pais, escolas e o próprio governo. Segundo
ele, nem todas as escolas veem o consumo nas cantinas como uma
responsabilidade também da instituição. “Não há preocupação tão grande
com a educação alimentar”.
O especialista avalia, entretanto, que
não há como colocar a culpa só nas escolas e que os pais têm papel
preponderante nesse processo uma vez que a educação alimentar também
passa pelo que a criança come em casa e pelo monitoramento dos
responsáveis em relação a essa questão. “O engajamento dos pais é
importante até para salientar essa questão para as escolas”, lembrou.
O
terceiro elemento, na avaliação do especialista, são os governos.
Atualmente, no país, há diversos municípios e estados com leis
específicas sobre o que pode ou não pode ser vendido nas cantinas, mas
ainda não há um arcabouço federal que monitore esse processo. Segundo
Andrade, dois projetos de lei sobre o tema tramitam na Câmara e no
Senado, mas ainda não foram votados.
Andrade destacou a
importância do debate sobre educação alimentar uma vez que diversos
hábitos são formados na infância e na adolescência. “Se nós aprendermos a
consumir de maneira pouco saudável, será mais difícil consumir de
maneira saudável na vida adulta.”
Fonte: Agência Brasil
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