Cientistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Pernambuco
descobriram substância que pode bloquear o vírus Zika. Mas ainda serão
necessários anos de estudo antes que a 6-metilmercaptopurina ribosídica (6MMPr) vire um medicamento a ser produzido em larga escala.
Pela
descoberta, a substância “imita” uma parte do vírus, que é inserida no
genoma do zika e para a reprodução. O sucesso obtido pelos
pesquisadores foi de mais de 99%.
O estudo foi publicado na última sexta-feira (11) na revista International Jornal of Antimicrobial Agents, mas a instituição divulgou somente nessa terça-feira (15) a descoberta.
A
substância, sintética, é do grupo das Tiopurinas, origem de
medicamentos contra o câncer. Esse tipo específico, no entanto, nunca
foi utilizado. Os pesquisadores da Fiocruz trabalhavam com a 6MMPr em
um outro estudo, para combater um vírus de cachorro, a Cinomose canina.
“Nós identificamos que ela tem atividade contra a Cinomose. E por ser
um vírus de RNA, assim como o Zika vírus, nós formulamos a hipótese que
também funcionaria contra o zika”, conta o coordenador da pesquisa,
Lindomar Pena.
Para levar o estudo à frente, a equipe utilizou material e recursos
humanos de outras pesquisas financiadas pelo Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Fundação de
Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco (Facepe), já que, segundo
Pena, no período de um ano não surgiu nenhum edital para financiamento
de investigações de substâncias contra o zika.
Os testes foram
feitos em células epiteliais e neurais de macacos e de humanos. A cada
mil vírus, 996 deles foram eliminados com a 6MMPr, o que dá
mais de 99%. “É algo impressionante. Em laboratório, a gente faz de tudo
para ‘provar’ que a substância não funciona, os testes são muito
rigorosos”, diz.
Foi descoberto também que quanto mais alta a
dose, maior é a eficácia, e quanto mais cedo a substância começa a
atuar, maior é o sucesso.
Para combater o zika, ela imita parte
da estrutura do vírus para “enganá-lo”. Segundo o coordenador da
pesquisa, quando o vírus está replicando seu genoma, ele precisa de
pequenos blocos estruturais. Ele deu o exemplo de uma parede formada por
tijolos. Seria como se a 6MMPr imitasse um dos tijolos, para que quando
o zika “construísse” a parede, parasse de se replicar.
Além
disso, a substância se mostrou segura para uso em células neurais. “Vai
ter poucos efeitos colaterais no sistema nervoso, porque se ela fosse
mais tóxica seria um alerta negativo. Ela mostra justamente o contrário,
tem poucos efeitos tóxicos, comparados com células epiteliais. Em
células epiteliais é menos grave”, afirmou Pena.
Caminho longo
Apesar
da conquista, ainda há muitas etapas – e anos – até que a substância
possa ser produzida em larga em escala como um medicamento. De acordo
com Lindomar Pena, o tempo médio até que isso ocorra é de 10 anos. “Mas,
por causa da importância e da gravidade do zika, pode ser que esse
período possa ser reduzido pela metade”, estima.
O próximo passo é
o teste em camundongos. São necessárias ainda outras duas espécies de
animais até chegar ao teste em humanos. Para saber se é possível
utilizar um possível medicamento em grávidas para que o bebê fique
protegido, ainda será necessário fazer o teste em fêmeas prenhas. “Se
for prejudicial, podemos melhorar a substância, fazendo modificações
químicas. Já temos parceria com a Universidade Federal Rural de
Pernambuco para isso”.
Fonte: Agência Brasil
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