quarta-feira, 19 de junho de 2013

Gasto com transporte público sobe mais de 30% para pobres e cai 15% para ricos


Uma pesquisa recente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) ajuda a entender por que parte dos manifestantes que se juntaram às passeatas dos últimos dias não faz questão de que o transporte público continue sendo ponto central dos protestos.

O estudo mostra que os gastos com transporte público subiram mais de 30% ao longo de seis anos entre as famílias com renda per capita de até meio salário mínimo. Já entre as famílias com renda superior a oito salários mínimos, houve queda de mais de 15%.
Quando se trata de despesas com transporte privado, a situação é oposta: o gasto dos mais ricos nesse item subiu mais de 20%, enquanto o dos mais pobres caiu 20%, como aponta o gráfico abaixo, reproduzido do estudo do Ipea.
Variação real dos gastos das famílias com transporte urbano, por faixa de rendimento medida em número de salários mínimos per capita
Apesar de o estudo ser de setembro de 2012, os dados se referem ao período de 2003 a 2009 (último ano em que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística realizou a Pesquisa dos Orçamentos Familiares).
É preciso deixar claro que a pesquisa se refere à variação de gastos, não de preços. Uma pessoa pode aumentar ou reduzir as despesas com um bem ou serviço sem que ele tenha ficado mais caro ou mais barato.
No caso dos mais pobres, a renda subiu mais que o preço do bilhete (o salário mínimo avançou 132,5% no período, e a tarifa de ônibus, 63,2%, na média das nove regiões metropolitanas analisadas pelo Ipea). Consequentemente, essa população que se locomovia pouco porque não tinha dinheiro nem para o ônibus, passou fazer mais viagens e também a gastar mais.
Outro detalhe: os números correspondem à renda per capita, não familiar. Uma família de quatro pessoas com renda total de dois salários mínimos (hoje R$ 1.356) tem uma renda per capita de meio salário mínimo; portanto, entra para o segmento mais baixo no recorte da pesquisa.
Saída individual
Os dados mostram que, para os mais ricos, pode parecer não haver sentido em brigar por um serviço que eles usam cada vez menos.
Para a classe média, também. Até as famílias com renda per capita de apenas dois salários mínimos aumentaram mais as despesas com transporte privado do que com o público no período, como aponta o gráfico acima.
“Está havendo um deslocamento de gastos do transporte público para o privado em todas as faixas de renda, com exceção dos mais pobres (renda per capita de até meio salário mínimo)”, resume Carlos Henrique de Carvalho, um dos autores do estudo.
Ainda, entre as pessoas que mais usam ônibus e metrô, a renda subiu mais do que o preço do bilhete.
Dito de outra forma, um movimento pela redução ou fim das tarifas só manterá adeptos no médio prazo se aqueles que hoje gastam mais com o transporte privado notarem que eles próprios serão beneficiados por um serviço público melhor.
Por enquanto, a saída individual gerou um problema coletivo, que são os congestionamentos, como apontou um outro estudo, também do Ipea. Em São Paulo, onde há 38 automóveis para cada 100 pessoas, o tempo médio de deslocamento entre a casa e o trabalho é de 43 minutos.
Fonte: Site UOL

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