A educação superior a distância cresce no país em ritmo mais
acelerado que a educação presencial. Os dados do último Censo da
Educação Superior – de 2015 – mostram que enquanto o ensino presencial
teve um crescimento de 2,3% nas matrículas em 2015 em relação a 2014, o
ensino a distância (EaD) teve expansão de 3,9%. O ensino, no entanto,
ainda não é o ideal.
Um dos aspectos que mais pesam na
permanência dos alunos, segundo o fundador da Educa Insights, que
trabalha com pesquisas de mercado, Luiz Trivelato, é o relacionamento
com estudantes. A Educa Insights fez uma pesquisa para ver como agiam as
instituições que ofertam EaD. "Houve instituições que durante o ciclo
que experimentamos estar com eles, durante quatro meses não nos
procuraram nenhuma vez. A gente não ia às aulas e simulava não fazer as
atividades e não éramos procurados", disse.
A falta de contato,
segundo ele, é um dos fatores que leva à evasão dos estudantes. "Aquelas
instituições que conseguiram manter uma proximidade com os alunos,
foram as que obtiveram êxito na pesquisa. "Foram aquelas que provocaram,
que buscaram, que reforçaram para o aluno a importância de estudar, que
ofereceram opções de estudo", afirmou Trivelato.
Outra questão
apontada por Trivelato é a infraestrutura do polo, que ajuda no
encantamento do estudante e dá condições de aprendizado. Ele mostrou
casos em que o polo tinha ar condicionados que não funcionavam e
laboratórios de informática "claramente improvisados".
A rede
privada concentra a maior parte das matrículas na modalidade – 1.265.359
– o representa 90,8% do total de 1.393.752 registradas em 2015. Apesar
do aumento do número de concluintes, que cresceu 23,1%, índice maior que
nos presenciais, que foi de 9,4%, muitos estudantes ainda deixam o
curso sem concluí-lo. Nas instituições privadas, a taxa de evasão nos
cursos a distância é 35,2%, superior à evasão nos cursos presenciais,
que é 27,9%.
Crescimento
O ensino
superior privado tem apostado na EaD, que permite uma flexibilidade
maior de preço. As mensalidades geralmente são mais baratas que os
cursos presenciais, e é possível atender a um número maior de
estudantes. A expectativa, segundo Trivelato, é de expansão. Ele
acredita que, em cinco anos, o número de vagas em EaD poderá ultrapassar
o presencial. O ensino a distância foi amplamente discutido no 10º
Congresso Brasileiro de Educação Superior Particular (Cbesp). O assunto
ganhou detaque também após a publicação de decreto na sexta-feira (26), que flexibiliza as regras para a abertura de cursos a distância.
Segundo o analista de investimentos do Santanter, Bruno Giardino, o
mercado de EaD é muito concentrado no país, e a tendência com as
mudanças anunciadas é que outras instituições, principalmente pequenas e
médias, que tenham bons indicadores de qualidade, consigam se inserir
mais facilmente. "Pequenas e médias devem despontar, mas terão que ter
um bom produto, não basta apenas ter EaD, senão não decola, não têm
sucesso", ressaltou.
De acordo com levantamento apresentado por
Giardino, o mercado hoje é concentrado em cinco grupos, sendo Kroton o
principal, com uma fatia de 37%. Os cinco detêm 72%. Nos últimos anos,
houve uma maior entrada de instituições locais. No entanto, apenas 43%
foram bem sucedidas e conseguiram se estabelecer no mercado.
Para
o presidente da Anima Educação, grupo de educação de capital aberto,
Daniel Castanho, o ensino a distancia é o caminho para onde a educação
está caminhando. "Não tem diferença entre [o ensino superior] presencial
e a distância em relação ao produto que a gente entrega. Eu costumo
dizer: quantos por cento do seu tempo são presenciais e quantos são a
distancia. Você não sabe. Hoje a questão nao é só se tem presencial ou
distância, mas como a tencologia vai impactar professores e alunos e
como vai fazer com que, na sala de aula, aqueles momentos sejam mais
valiosos", afirmou.
Castanho acredita que a educação será
híbrida, a distância e presencial. O grupo fez uma pesquisa comparando o
desempenho dos estudantes de diferentes modalidades na mesma
disciplina. Os estudantes presenciais conseguiram um desempenho 37%
acima dos estudantes exclusivamente a distância. Os estudantes de modelo
híbrido, com 50 a 70% das aulas presenciais, tiveram o melhor
desempenho, 16% acima do presencial.
"Daqui a alguns anos, não se
vai mais saber o que é ensino presencial ou a distância. O modelo do
Brasil será híbrido, o uso da tecnologia será feito em casa. O tempo com
o professor será mais rico, com outras metodologias".
Acesso
Uma
das apostas, principalmente do governo, na educação a distância é levar
o ensino para regiões onde o acesso presencial é dificultado. A EaD tem
tido papel importante na formação de professores. O número de cursos de
licenciatura
a distância cresceu 5,04% em 2015 em relação a 2014. Já as
licenciaturas presenciais, que vinham aumentando até 2012, registram
quedas constantes desde 2013.
Na avaliação do secretário de
Regulação e Supervisão da Educação Superior do MEC, Henrique Sartori,
haverá uma interiorização da EaD. "As pequenas e médias instituições vão
poder entrar em um sistema em que antes demorariam para encontrar um
ideal de competição". Atualmente, a EaD está concentrada em São Paulo,
Paraná e Minas Gerais.
Para além da permissão de expansão, o
ensino a distância demanda também tecnologia. Segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano passado, o
percentual de pessoas que acessaram a internet alcançou 57,5% da população de 10 anos ou mais de idade, o que corresponde a 102,1 milhões de pessoas.
Fonte: EBC
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