segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Sorriso de farmácia: dentistas querem restringir venda de clareadores


Dentes brancos como peças de louça têm seu preço. A discussão é se a conta pode ser paga direto para quem vende a substância clareadora, ou se antes deve ser obrigatório passar pelo dentista, como defendem representantes de conselhos regionais de odontologia. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) propôs, ainda extraoficialmente, um controle nas farmácias como o que já existe para remédios com tarja vermelha, vendidos — pelo menos na teoria — com receita. Usar o gel como se fosse um simples cosmético, pode, no mínimo, deixar a boca bicolor, já que dentes escurecidos com canal ou com restauro no esmalte não clareiam desta forma. No máximo, pode haver queimadura.

Há duas substâncias clareadoras no mercado: o peróxido de hidrogênio, nome que se aprende na escola para água oxigenada, e o peróxido de carbamida. Usados da forma errada, podem também aumentar a sensibilidade dos dentes e causar retração da gengiva de forma permanente. Na prática, a venda de ambos é livre, inclusive pela internet. Compra-se o gel e a moldeira para encaixar na arcada. Como toda substância química, os clareadores são encontrados em várias concentrações. As mais fortes são restritas para uso no consultório dentário, e as mais fracas são prescritas para o uso noturno, em casa. Mas o consumidor leigo não sabe disso e, por conta própria, pode errar o tamanho da moldeira e machucar a boca, além de deixar o peróxido em contato excessivo com a gengiva, ou encomendar uma concentração mais alta.
Agência baniu dois clareadores
Semana passada, a Anvisa proibiu a propaganda e o comércio no Brasil dos clareadores Dental Whitelight e Hyper Dental Peeling, que eram vendidos sem o registro da agência. Mas há no mercado uma espécie de fita clareadora que pode ser colada diretamente nos dentes, em vez do uso de gel e moldeira. Para estes, representantes de conselhos de odontologia e entidades de classe, como o Wilson Chediek, da Associação Paulista dos Cirurgiões Dentistas, defendem que também deve haver controle na venda com prescrição odontológica:
— Até vitaminas em excesso fazem mal. Há pouco mais de um ano, alertamos a Anvisa que clareadores dentários têm contraindicações, podem causar problemas ao paciente, assim como causam problemas o uso errado de antibióticos.
A Anvisa informou às entidades de classe dos dentistas e aos fabricantes que recebe sugestões para pôr regra às vendas até sexta-feira. Em nota, a agência adianta que a discussão ainda não está na Agenda Regulatória, o que não garante novidades para este ano.
Prescrição não é fundamental no exterior
Nos EUA, por exemplo, não existe a obrigação da prescrição para comprar clareadores de dentes. A Oral B, que estampa sua marca em uma fita clareadora à venda no Brasil desde o ano passado apoiou, por meio de nota, que a Anvisa discuta a regulação da venda de agentes que deixam os dentes mais brancos. Mas não quer ser colocada no mesmo saco dos demais géis clareadores. A empresa informa que suas fitas são vendidas na América do Norte, Rússia e em alguns países da Ásia sem precisar de receita de dentista. E garante que é o produto mais estudado cientificamente entre os vendidos pelo conglomerado empresarial do qual faz parte, com mais de 200 publicações em revistas odontológicas.
— Não é porque se faz em países desenvolvidos que é o certo. O Brasil, por exemplo, é um dos poucos países que tem um conselho profissional para dentistas, e nossa missão também é defender a saúde da população — declara Ailton Morilhas, presidente do Conselho Federal de Odontologia. — Somos absolutamente a favor de só permitir a compra de clareadores com receita.
Tiras branqueadoras têm efeito limitado
O dentista Mario Griosman, integrante da Academia Americana de Periodontia, concorda que as tiras vendidas em farmácias não podem entrar no mesmo grupo do gel vendido à vontade e sem critério pela internet. Mas ele defende que o ideal é usar o produto sob supervisão profissional:
— A metodologia das tiras clareadoras vai acabar por levar mais pessoas ao dentista, porque os dentes restaurados não vão ficar mais brancos com o produto. A exigência da supervisão profissional não se trata de corporativismo. Hoje recomenda-se muito mais o tratamento em casa, com a moldeira de uso noturno, que o clareamento feito em consultório.
Os dentistas enumeram uma série de razões para que os candidatos a dentes mais brancos procurem um diagnóstico profissional antes de agir por conta própria. Quem tem sensibilidade natural com alimentos gelados ou quentes devem passar primeiro por um tratamento para resolver o problema, explica o dentista Marcelo Fonseca.
— Não há tratamento universal no clareamento. Os produtos vendidos em farmácia agem apenas em casos mais específicos — sentencia o dentista, fundador da Sociedade Brasileira de Odontologia Estética. — A depender da sensibilidade e do estado do esmalte dos dentes, há diferenças no tempo de contato com o agente clareador e na concentração. Além disso, quem tem arcada dentária grande pode não ter todos os dentes cobertos com a fita.
Paulo Roberto Dabdab, especialista em reabilitação oral e periodontista, vai além e questiona inclusive a eficácia de cremes dentais e enxaguantes que prometem clareamento.
— É melhor não usar (pasta que promete clareamento). Se não tiver jeito, não use mais de uma vez por mês. Algumas marcas podem ter efeito abrasivo e desgastar o esmalte, se usadas sempre — alerta o especialista sobre o produto.
Manchas marrons são mais difíceis de remover
Manchas amareladas são as mais fáceis de retirar com o clareamento. As acinzentadas ou com tom próximo do marrom são as mais difíceis, explicam especialistas. Além disso, nem tudo que deixa de reluzir na boca é caso de tratamento convencional.
— Quando há um escurecimento do dente por causa de um canal dentário, não adianta moldeira ou tira com agente clareador. O tratamento tem que ser outro — explica o dentista Marcelo Fonseca. — Mesmo assim, há casos em que o clareamento de dentes com canal não dura muito tempo e, para estes, não se pode insistir no tratamento além da terceira tentativa.
A alma do dente, o que dá a cor predominante, não é o esmalte e, sim, a dentina, camada que fica por dentro. É lá que atuam os peróxidos clareadores. Ao contrário do que se possa imaginar, o esmalte tem capacidade de absorção e não é diferente com a substância usada no tratamento. Em contato com a dentina, é liberado o oxigênio que faz a limpeza.
Todo alimento com pigmentos escuros é bom candidato a eliminar a brancura da dentina. Vinho, café, refrigerantes escuros, feijão e molho curry são exemplos.
Há casos em que o escurecimento é produzido pela ação de antibióticos, em especial a tetraciclina, mas tal fato não ocorre com a mesma frequência de antigamente. Fluorose, que é o excesso de exposição dos dentes ao flúor, pode causar manchas marrons e, assim como no caso do antibiótico, são mais resistentes.
Tecnicamente, aquela limpeza que se faz na cadeira do dentista com uma espécie de escovinha não é clareamento, pois a ação se dá apenas no esmalte para remover manchas causadas por bactérias.
Fonte: Extra - online

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