A escola tem papel fundamental na orientação e recuperação
nutricional de crianças e adolescentes, devendo, portanto, concentrar
ações ligadas à promoção da alimentação saudável e de qualidade. O
crescimento de crianças e adolescentes saudáveis depende, em grande
medida, do acesso a ambientes socioculturais e afetivos que estimulem e
possibilitem o desenvolvimento de suas habilidades e o alcance de seus
potenciais biológicos, psicológicos e sociais. Por isso, a relação que o
jovem estabelece com a alimentação é parte fundamental desse processo e
a escola se destaca como local privilegiado de promoção à saúde e de
construção das condições para que as comunidades possam exercer maior
controle sobre a sua saúde. O ambiente escolar é um espaço extremamente
significativo de socialização e, portanto, de promoção de práticas
alimentares saudáveis.
Dados de 2006 do Ministério da Saúde
sobre doenças ligadas à alimentação na fase da infância (0 a 5 anos)
indicam crescimento do número de crianças com excesso de peso, tanto
para a idade quanto para altura, ao mesmo tempo em que se reduz nesta
faixa de idade aquelas com baixa estatura para idade. Entre 5 e 9 anos,
encontramos 34,8% dos meninos e 32% das meninas com excesso de peso e
16,6% dos meninos e 11,8% das meninas com obesidade, pelos dados da
Pesquisa de Orçamento Familiar – POF 2008/2009. Segundo a mesma fonte, o
déficit estatural é de 7,2% para o sexo masculino e de 6,3% para o sexo
feminino. Tudo leva a crer que essas tendências se acentuaram no
período mais recente, ou seja, crescimento do sobrepeso e da obesidade e
a redução da desnutrição.
A realidade, portanto, reforça a
importância de ações de promoção da saúde nas escolas, que podem exercer
um papel-chave na recuperação nutricional das crianças. O Programa
Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) é, sem dúvida, o maior programa
de alimentação em atividade no país. Diariamente, mais de 44 milhões
refeições são servidas nas escolas públicas, financiadas em parte pelo
governo federal e complementadas com recursos das prefeituras e dos
governos de estado. Mesmo com todos os avanços obtidos com o programa
ainda não se consegue que a totalidade dos alunos tenha o direito a uma
alimentação escolar de qualidade. De acordo com o pesquisador Chico
Menezes* a alimentação escolar de qualidade é, diante
dessa realidade, um instrumento fundamental para a recuperação de
hábitos alimentares saudáveis e, sobretudo, para a promoção da segurança
alimentar das crianças e jovens no Brasil. É importante lembrar que o
direito à alimentação adequada não deve ser interpretado com um pacote
mínimo de calorias, proteínas e outros nutrientes específicos. A
“adequação” se refere também às condições sociais, econômicas,
culturais, climáticas, ecológicas, entre outras.
Políticas
públicas planejadas de forma transparente e com objetivos claros são
fundamentais para que se possa definir as causas do problema e as
responsabilidades. Isso vale no caso da alimentação escolar, onde todos
os entes da federação – União, estados e municípios devem compreender os
papéis específicos a desempenharem sobre um programa que significa
muito para a saúde atual e futura das crianças que formam sua clientela.
Da parte da União, deve ser retomada a recuperação do valor do per
capita da alimentação escolar, que é repassado para estados e
municípios. Os estados devem articular seus municípios de forma a melhor
realizar a execução do programa e aos municípios investirem na
alimentação escolar de qualidade. A consciência do Direito Humano à
Alimentação Adequada, por parte dos governos e da sociedade, é
progressiva e vem ganhando espaços no Brasil. E o Programa Nacional de
Alimentação Escolar ocupa um lugar chave na garantia desse direito.
*Chico
Menezes é pesquisador do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e
Econômicas (IBASE) e exerceu a função de presidente do Conselho Nacional
de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA), de 2004 a 2007.
Fonte: Época
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