Quem já não ouviu o ditado "você é o que você come"? Apesar disso, a maioria das pessoas desconhece os malefícios de uma alimentação não saudável. É o que mostra pesquisa realizada pela Consumers International (CI) - federação internacional de organizações de consumidores -, e da qual a Associação Brasileira de Defesa do Consumidor/Proteste faz parte - no Brasil, na Holanda, nos Estados Unidos, na China, Índia e no Egito. Segundo o levantamento, mais de 80% das pessoas subestimam o impacto de uma alimentação não saudável. No Brasil, apenas 12% das pessoas identificam que as dietas não saudáveis contribuem para mais mortes do que guerras, tabagismo, consumo de álcool, Aids ou malária.
Dados mundiais mostram que cerca de 11 milhões de mortes por ano estão ligadas à alimentação inadequada; e o impacto econômico chega a dois trilhões de dólares por ano - ou quase 3% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. A obesidade é um dos problemas. Estima-se que mais de dois bilhões de pessoas estão acima do peso.
Para alertar a população e mudar o quadro, a Consumers International promove campanha para que países adotem políticas que incluam restrições à comercialização de alimentos pouco saudáveis para crianças. A pesquisa também mostra as medidas que os consumidores apoiam neste sentido, como reduzir níveis elevados de gordura, açúcar e sal em alimentos todos os dias (74% apoiam fortemente, 25% apoiam), regulamentar a comercialização de alimentos ricos em gordura, açúcar e sal para crianças (59% apoiam fortemente, 34% apoiam) e dar aos consumidores mais informações sobre os níveis de gordura, açúcar e sal nos alimentos (83% apoiam fortemente, 16% apoiam).
Apesar de entender que há ainda um longo caminho a ser percorrido, Maria Inês Dolci, coordenadora institucional da Proteste, lembra que o brasileiro já começou a mudar os hábitos alimentares. Estudo realizado pela associação, em março deste ano, mostra que o consumidor vem trocando alimentos industrializados por naturais, e comprando menos doce. Mas ela não atribui a mudança apenas à adoção de uma vida mais saudável:
- Há também um reflexo no orçamento, pois o consumidor percebe que é mais fácil preparar algo em casa do que comprar industrializados.
Além de campanhas de conscientização, Maria Inês ressalta a importância de mudanças na legislação brasileira em relação ao uso de agrotóxicos e no combate a fraudes.
- O Brasil abusa no uso de agrotóxicos. Vinte e dois produtos usados aqui são proibidos na Comunidade Europeia. Além disso, precisamos de um combate mais rigoroso às fraudes. Fizemos vários testes de bacalhau, e estavam lá todas as informações referentes, mas não era bacalhau e sim outros peixes salgados - diz Maria Inês, chamando ainda atenção para a rotulagem dos alimentos. - As informações não são claras para a maiorias das pessoas.
A coordenadora da Proteste lembra que todas as pesquisas e reivindicações da associação têm sido encaminhadas ao Ministério da Saúde e ao Conselho Nacional de Saúde, e que a pesquisa da Consumers International reflete a preocupação internacional com o tema.
- A pesquisa vem promover um debate com maior intensidade, e demonstrar que quanto mais orientação a respeito da alimentação a pessoa tem, melhor ela conduz a própria saúde - avalia Maria Inês.
Um contador online, lançado no dia 18 este mês pelo Consumers International, mostra número de anos de vida saudável perdidos em consequência de dietas pouco saudáveis e o custo financeiro global de obesidade. A entidade defende a realização de uma Convenção Global para proteger e promover dietas saudáveis, a exemplo da Convenção Quadro para o Controle do Tabaco, que envolveu a Organização Mundial da Saúde (OMS) e os estados membros, e foi o primeiro tratado internacional de saúde pública da OMS. A proposta é fazer com que os países membros da OMS adotem políticas que restrinjam a comercialização de alimentos pouco saudáveis para crianças, melhorem a rotulagem nutricional, reformulem alimentos transformados para reduzir a gordura, açúcar e sal e promovam ações fiscais de apoio ao consumo de alimentos saudáveis.
Fonte: O Globo
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