A movimentação com cartões de crédito e débito no Brasil atingiu R$ 246,6 bilhões no primeiro trimestre deste ano. O volume representa um aumento de 10,6% em 12 meses, segundo informou ontem a Abecs, entidade que reúne os bancos emissores dos plásticos.
Os cartões de crédito registraram R$ 156,7 bilhões (alta de 10,1%), e os cartões de débito, R$ 89,9 bilhões (alta de 11,6%). Os números não incluem cartões pré-pagos nem cartões de loja, conhecidos como “private label”. Para este ano como um todo, a previsão é de que a alta seja mantida, mas em ritmo menor do que o verificado nos últimos dez anos, quando a alta anual superava os 20%.
Para o presidente da Abecs, Marcelo Noronha, ainda há esperanças de que o aumento siga na casa dos dois dígitos. O executivo, que também comanda a área de cartões no Bradesco, disse que a entidade não revisou ainda o "guidance" — que até o final do ano passado apontava para algo entre 12% e 13% em 2015.
“Neste momento, o que parece mais provável é uma alta de 10%”, disse ontem em entrevista a jornalistas para divulgar os resultados do setor nos três primeiros meses do ano.
A Abecs prevê também um aumento de 11% nas concessões de crédito por meio dos cartões em 2015, que deve fechar em R$ 400 bilhões.
“O cartão de crédito já representa mais da metade dos empréstimos para o consumo no país”, diz Noronha, citando números do Banco Central (BC) que incluem os cartões “private label”.
O parcelamento sem juros do cartão respondeu por 50,2% do volume de crédito concedido com recursos livres) para financiar o consumo de bens e serviços, totalizando R$ 86,9 bilhões.
Considerando também a parte das compras feitas com cartões para pagamento no vencimento da fatura - que, segundo lembra Noronha, também são um tipo de crédito, já que o consumidor ganha dias para pagar e o banco corre o risco de não receber — a participação dos cartões de crédito cresceria a 67%. A modalidade que ocupa o segundo lugar entre as utilizadas para financiar o consumo é o consignado, com R$ 35,8 bilhões concedidos no primeiro trimestre deste ano, ou 20,7% do total. As concessões para veículos no período ficaram em R$ 21,1 bilhões e na modalidade “outros” (que inclui cheque especial), em R$ 29,9 bilhões.
Mas se já ocupa posição de destaque entre os novos financiamentos ao consumo, o cartão ainda é apenas o quarto colocado quando se analisa os saldos e se inclui, também, as modalidades que são realizadas com recursos direcionados, como o habitacional, e outros usados para fins diversos. Sob essa ótica, os cartões estão atrás do próprio crédito imobiliário, do crédito pessoal e do para veículos.
Segundo a Abecs, o saldo do imobiliário estava em R$ 452 bilhões em março, enquanto o do crédito pessoal em R$ 362 bilhões e veículos, em R$ 180 bilhões. “Estamos encostando em veículos”, diz Noronha (ver gráfico abaixo).
A inadimplência com cartões continuou caindo, embora siga como a mais alta entre as modalidades de crédito para pessoas físicas. A taxa de atrasos acima de 90 dais ficou em 6,7% - na média, a inadimplência das linhas para pessoas físicas fechou março em 5,2%. O índice inclui os cartões, mas é puxado para baixo por operações com garantias,como veículos,crédito imobiliário e consignado, disse Noronha.
O executivo também gosta de lembrar que a maior parte dos financiamentos dos cartões é parcelado sem juros e que apenas uma pequena parte é comprada na loja ou prestador de serviços com juros. Os juros dos cartões estão entre os mais altos do mercado — só rivalizam com os do cheque especial, outra linha sem garantia — mas segundo Noronha são usados pelos clientes muito raramente, apenas quando caem no rotativo. “A média de utilização do rotativo do carão é de 18 dias”, diz. “Se a pessoa cai no rotativo e fica demorando para pagar, o próprio banco entra em contato e oferece parcelamento. Ninguém fica no rotativo um ano”, acrescenta.
Já quando o portador não consegue pagar a fatura em dia e busca o refinanciamento com o banco, as taxas cobradas são menos salgadas, garante.
A movimentação com cartões de débito também aumentou. "Seu uso é maior para compras de menor valor, substituindo diretamente o uso de dinheiro de papel no dia a dia, o que gera mais segurança e conveniência aos consumidores e lojistas", diz Noronha.
No primeiro trimestre, o brasileiro gastou, em média, R$ 40,4 em cada transação com cartão de débito. Esse valor é praticamente metade do tíquete médio do cartão de crédito, de R$ 80,6 - as compras à vista no cartão de crédito foram, em média, de R$ 49,2, e as parceladas sem juros, de R$ 231,3, informou a Abecs.
No entanto, depois do fim da isenção dos cartões pré-pagos de moeda estrangeira, os turistas brasileiros voltaram a usar mais dinheiro em espécie - em março, por exemplo, o dinheiro estava empatado com o uso de cartões no exterior (42% ante 43%). NO final do ano, a proporção era de 39% para 50%.
A Abecs também registrou aumento de 5,1% nos gastos de brasileiros no exterior, que chegaram a R$ 6,8 bilhões no 1º trimestre. Já os estrangeiros que visitaram o Brasil no período gastaram R$ 3,4 bilhões, valor 14,1% maior que o do 1º trimestre de 2014.
A Abecs divulgou ontem pela primeira vez o valor transacionado em cartões de crédito e débito nas diferentes regiões do país. Nesses três primeiros meses do ano teve maior crescimento no Norte (13,1%) e no Nordeste (12,4%) do País, em comparação com o 1º trimestre de 2014, seguidos por Centro-Oeste (11,9%), Sudeste (10,5%) e Sul (9,6%).
As regiões Norte e Nordeste também lideraram quando considerada apenas a modalidade de cartão de débito, com crescimento de 18,3% e 15,5%, respectivamente. Em relação ao volume financeiro dos cartões de crédito no Brasil, os destaques foram o Centro-Oeste (alta de 11,2%) e o Nordeste (alta de 11%).
Mais de 80% pagam toda a fatura em dia
Pesquisa realizada em abril em conjunto pelo DataFolha e Abecs, a entidade que reúne os bancos emissores de cartões, mostrou que 84% dos portadores de cartões de crédito pagam todo o valor da fatura na data do vencimento. Além desses pontuais, 7% parcelam, 1% não pagam nada, 4% pagam o mínimo e outros 4%, alguma coisa entre o mínimo e o total.
A pesquisa mostrou ainda que no próximo mês, um percentual ainda maior (86%) dizia querer pagar integralmente a fatura, e em dia. A pesquisa entrevistou 1,2 mil portadores de cartões em várias cidades. Desse total,93% deles afirmaram que usaram os cartões de crédito em abril; e 62% usaram a modalidade de parcelamento sem juros. A margem de erro da pesquisa é de 3%.
A maioria dos que usam o parcelado são mulheres, das classes B e C, nas regiões Norte e Nordeste.
Dos que usaram o parcelado no cartão, 69% admitiram que teriam comprado menos no mês passado, se não tivesse o cartão.
Outro dado interessante que a pesquisa revelou é que, apesar do desaquecimento da economia e do aumento do desemprego, a grande maioria dos portadores de cartões ainda considera que as faturas estão dentro do do seu orçamento: 82% dos pesquisados. Destes, 8% disseram que a fatura ainda está abaixo ou bem abaixo da sua capacidade de pagamento.
“Estamos bastante tranquilos em relação a isso. Estamos monitorando constantemente a base para orientar nossas ações”, disse Marcelo Noronha, presidente da Abecs. Os números foram revelados ontem pela Abecs.
Fonte: Brasil Econômico
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