A essa altura, os brasileiros já estão cansados de saber que é
preciso economizar de todos os lados. Mas a geladeira ainda fica velha, o
carro desvaloriza e a despensa fica vazia. Quando parcelar pode ser uma boa opção para arcar com o que é realmente necessário?
Seja para comprar uma casa ou o leite no supermercado, o velho conselho é: se você tem o dinheiro
na conta, é sempre melhor pagar à vista para não comprometer a renda
futura. A dica é ainda mais pertinente em momentos de forte
instabilidade na economia, como o atual, conforme ressalta Fernanda Monnerat, diretora do Serasa Consumidor.
Mas parcelar é uma boa apenas quando o valor do bem ou serviço é
muito maior do que a renda disponível para pagá-lo e a compra é
realmente necessária e trará benefícios no futuro. Isso não acontece só
com a casa e com o carro, mas também com o MBA, o notebook e a viagem de
férias, por exemplo.
“O ideal é sempre investir em uma aplicação antes e pagar à vista, mas às vezes é difícil e a dívida
vale a pena. Sem comprar nada supérfluo, a vida fica chata”, diz o
consultor financeiro Jurandir Macedo, professor da Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC).
Para produtos de valor menor, como a
calça jeans em promoção e o creme da farmácia que a vendedora permite
pagar em três vezes, vale parcelar só se você for muito organizado
(muito mesmo!). “Se você consegue se planejar, pode deixar o dinheiro
aplicado e pagar as compras aos poucos no cartão de crédito. Mas isso é
bem difícil ”, diz Macedo.
O preço à vista é o mesmo que parcelado. E agora?
Sempre
vale a pena tentar um desconto à vista, mas se você não conseguir e o
preço for igual ao valor total parcelado, dividir é mais inteligente, na
opinião do especialista em finanças pessoais Ricardo Assaf, fundador da
Empresta Capital e presidente da Associação Brasileira das Sociedades
de Microcrédito (ABSCM). Mas desde que você se organize para pagar as
parcelas, é claro.
Ele explica que uma jogada de marketing comum
entre as lojas é afirmar que a compra pode ser parcelada sem juros. Os
comerciantes dizem, por exemplo, que um produto custa 100 reais e pode
ser comprado de duas formas: em 10 vezes de 10 reais ou à vista, com 10%
de desconto. Assim, o preço à vista é 90 reais e a prazo sobe para 100
reais.
Ao usar essa estratégia, os lojistas conseguem fixar preços
diferentes para as compras à vista e parceladas, mas em vez de destacar
que a compra a prazo ficará mais cara, por causa dos juros embutidos,
eles evidenciam os descontos fictícios oferecidos na compra à vista. "Só
vale a pena parcelar se o preço à vista e financiado for igual”, diz
Assaf.
Para saber se há juros embutidos, multiplique o valor das
parcelas pelo número de prestações e veja se o resultado é igual ao
preço à vista. Outra opção para fazer essa conta é utilizar a calculadora do Cidadão do Banco Central.
Ao informar o número de parcelas, seus valores e o montante total
financiado, a ferramenta mostra os juros cobrados na operação.
Na
opinião de Fernanda, do Serasa, mesmo quando não há desconto à vista, é
melhor evitar parcelar valores baixos neste momento de desemprego
crescente. “Quanto menos você se comprometer com a renda no futuro,
melhor”, diz.
O que não parcelar de jeito nenhum
Compras
do dia a dia, como alimentos e produtos de limpeza, devem ser sempre
feitas à vista, por melhores que sejam as condições oferecidas pelo
supermercado, como sugere o consultor financeiro Oswaldo Sena, do
Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros
(IBCPF).
“No mês que vem, você vai ter que comprar tudo de novo, e
assim você cria uma bola de neve”, explica. Essa dica vale para todos
os gastos que são recorrentes, como as contas da casa e as parcelas que
já existem no cartão de crédito.
O consultor financeiro também
aconselha sempre dar a maior entrada que você puder e negociar o menor
número de parcelas possível – isso vale para qualquer compra, do
financiamento da casa à geladeira nova.
Não se perca nas parcelas
Gastar
mais do que se ganha é sempre um problema e o desequilíbrio nas contas
costuma se agravar quando as parcelas entram em jogo, como destaca o
consultor Macedo, professor da UFSC. Mesmo que você não tenha todo o
dinheiro que precisa para fazer algum pagamento agora, só a assuma a
dívida se tiver certeza que conseguirá arcar com ela.
Para isso, é fundamental saber quanto você ganha e quanto você gasta
todo mês. “Guarde as notinhas, some todas a cada mês e veja se há folga
para pagar as parcelas”, sugere.
Para Macedo, o cartão de crédito não é o vilão das finanças pessoais e pode até ajudar na organização,
já que ele permite concentrar todos os pagamentos em um dia só e deixar o
dinheiro rendendo em uma aplicação durante o mês. Mas ele só deve ser
usado por quem conhece seus gastos.
Fonte: Exame
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