Sapateiros, mecânicos e costureiras têm sentido os reflexos da nova postura do consumidor que tem optado por livre espontânea ‘pressão’ consertar do que comprar um produto novo. O momento de economia instável assustou a população que tem passado os meses com o orçamento bem mais curto.
Os comerciantes destes segmentos comemoram a alta de atendimentos e na oportunidade fazem promoções para atrair ainda mais a clientela. Em época de crise, parece que ninguém está a fim de jogar ou trocar nada para comprar algo novo, e agora ficou mais em conta recuperar o sapato velho, a roupa, a tevê, a geladeira, a máquina de lavar e até reequipar e atualizar a mecânica do carro.
A demanda para esses negócios está tendo incremento significativo em Maceió, os sapateiros que se concentram na Praça dos Palmares dizem que apesar da crise financeira o movimento não parou.
Arnaldo dos Santos é sapateiro há 18 anos e diz que o número de atendimentos aumentou consideravelmente nos últimos meses. “O pessoal está mais cauteloso e está pesquisando bastante antes de comprar, buscando alternativa para não ficar ‘feio’ procuram nosso serviço para não afetar tanto o bolso”, afirmou.
Maria Laura Regina Santos é auxiliar de costura e estava ajeitando seu sapato com o sapateiro Almir Lima. Ela contou que a preferência do público que chega ao ateliê é em busca de roupas para alugar. “Pessoal não está podendo gastar e pagar bem mais caro por uma roupa de festa, por exemplo, que vai usar pouquíssimas vezes e daí preferem alugar ou até mesmo fazer que comprar pronto, sai bem mais em conta”, explicou.
“Gosto muito deste par de sapatos, e pela qualidade dele, preferi não descartá-lo, apenas restaurar o salto que já estava bem gasto e sair já com ele no pé se for possível”, brincou.
Edilson Leite, que é proprietário de uma oficina mecânica diz que o movimento caiu depois da crise econômica do país. Ele contou que tem bastantes clientes, mas que sumiram ultimamente, “estão procurando fazer os serviços emergenciais, vêm fazem o orçamento e muitas vezes não voltam”, declarou.
José Inácio Santos, eletrotécnico, diz que sua clientela multiplicou de forma expressiva e as pessoas estão cada vez mais ‘apertadas’ e procurando alternativas para ajeitar aquele equipamento de TV, som, entre outros que deram defeito.
“As pessoas não estão mais indo pela história de que o equipamento é descartável não, elas estão pesquisando e constatando de que vale mais a pena consertar do que comprar um produto novo. E é a mais plena realidade, uma TV, por exemplo, é muito mais cara se for comprar outra, se for consertar o máximo que vai se gastar para recuperar o equipamento dependendo do problema é cerca de R$ 500 ‘estourando’”, explicou.
Ele reforçou que a demanda por conserto cresceu e ele não sentiu os reflexos da crise financeira que afeta os brasileiros. “Os pedidos de conserto são muitos e a crise não chegou por aqui pelo menos na minha loja”, completou José Inácio.
Dificuldade financeira traz instinto de preservação
Para o professor de finanças da Unisinos, Sérgio Soldera, preservar o que se tem, principalmente em momentos de dificuldade financeira, é uma tendência natural do ser humano. Na sua avaliação é um instinto de preservação, de não gastar comprando algo novo quando não há situação econômica para isso.
O especialista elencou alguns itens indispensáveis que devem ser levados em conta quando o assunto é preservar o bem, do que comprar um novo. Segundo ele, é fundamental observar a velha lei da relação custo/benefício. Vale a pena se desfazer do item ou mandar consertar? Vale a pena investir nele? Avalie que benefícios que terá e quanto tempo poderá usá-lo depois de feita a manutenção.
- Não use os mesmos critérios para tudo. Cada item merece uma avaliação própria. Você é apegado a ele? Há um valor afetivo? Neste caso, é provável que valha a pena, sim, consertar.
- Se não é acostumado a mandar consertar, o momento de crise é ideal para testar seu domínio e controle frente ao consumo e à novidade. Que estilo de vida você quer ter e pode sustentar? Há quem dê valor para a última moda apenas por aparências e porque isso massageia seu ego.
- Em todos os momentos, e principalmente neste, fazer reserva de dinheiro é necessário. Evitar o consumo pode ajudar você a se planejar melhor financeiramente contra o período de incertezas. Aproveite esta fase para se tornar mais crítico em relação ao seu modo de agir com o consumo. Questione comportamentos antigos e teste mudanças.
Material de construção está mais barato, apesar da inflação
A queda nas vendas dos materiais de construção por causa da crise na construção civil, que levaram à paralisação de muitas obras, fizeram os fabricantes e fornecedores de produtos diminuírem a margem de lucro, oferecendo mais promoções. Isso levou vários materiais a ficarem com preços abaixo da inflação, com descontos de até 30%.
Com preços na contramão da inflação, agora é o momento que muitos esperavam para fazer aquela reforma em casa, como trocar o piso, melhorar os encanamentos ou cabeamentos, pintar e reforçar estruturas, ampliações, entre tantas outras coisas. Como os concorrentes estão fazendo de tudo para conquistar novos consumidores, pesquisando dá para perceber a grande mudança de preços de um mesmo produto de um lugar para outro. “Durante um mesmo dia, os preços podem variar muito, tendo pela manhã um valor e até a noite sofrer gradualmente baixas inesperadas”, conta Leonídio de Oliveira Filho, empresário e criador do Dica de Preço (www.dicadepreco.com.br). Há um acúmulo de materiais nas lojas e para desovar o estoque, as lojas precisam vender. Os preços atrativos vão de materiais de hidráulica, elétrica, banheiros, iluminação, portas, janelas, ferragens, cimento, aço, tubos e até itens de acabamento. Entre janeiro e julho, eles subiram 4,26%, abaixo da inflação. Em 12 meses, a diferença é ainda maior: os materiais subiram 5,9%, enquanto a inflação ficou em 9,5%.
Mesmo assim, não dá para sair comprando no automático, apenas porque estão em promoção, é necessário fazer pesquisas e descobrir as melhores ofertas. Hoje, através da internet, dá para buscar preços melhores ou pesquisar em redes sociais, como no Dica de Preço, que tem uma “Comunidade” feita apenas para trocar informações quanto a valores de produtos com outros participantes da rede, e tem também um “Comparador”, onde rapidamente - com dois cliques - o consumidor terá uma pesquisa com as melhores ofertas em distintos comércios do segmento.
Mas, além disso, pechinche e tente conseguir uma redução maior, e se tiver que parcelar, prefira os valores fixos e sem juros. A compra inteligente é aquela que é feita sem grande ansiedade, onde a espera e a pesquisa pelo melhor preço sempre devem prevalecer.
Fonte: Tribuna Hoje
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