terça-feira, 20 de outubro de 2015

Só 22% do que é vendido nas cantinas escolares é nutritivo

Pesquisa diz que entre os alimentos mais consumidos estão guaraná e pão de queijo

No colégio Mopi da Tijuca, os salgados são assados em vez de fritos: trabalho de conscientização em sala de aula - Gabriel de Paiva
É um desafio para pais e educadores rechear as lancheiras e as cantinas escolares com alimentos saudáveis. Mesmo com iniciativas como vetar refrigerante e fritura nos colégios, ainda há muito a fazer: segundo levantamento do Centro de Pesquisas Comportamentais da Fundação Getúlio Vargas, apenas 22% dos produtos ofertados nas cantinas de 36 escolas privadas de Rio, São Paulo e Belo Horizonte podem ser considerados nutritivos. Além disso, só 17% dos alimentos que os alunos efetivamente consomem são tidos como saudáveis. Os dados compilados pela FGV são de uma empresa que faz consultoria nutricional para as instituições de ensino pesquisadas. O levantamento reúne o consumo de cerca de cinco mil alunos, entre março e setembro deste ano.
Entre os produtos menos nutritivos, e mais consumidos, estão refrescos de guaraná, pão de queijo e achocolatado. Na outra ponta do ranking, figuram água sem e com gás, palmito fatiado e salada de frutas.
A classificação dos produtos foi feita por nutricionistas, com base no Guia Alimentar para a População Brasileira, do Ministério da Saúde, levando em consideração não só os ingredientes mas a porção. Os alimentos foram classificados como pouco, moderado ou altamente nutritivo.
— Também levamos em consideração a forma como os produtos são feitos. No caso dos salgados, por exemplo, não basta serem assados. O fato de não serem fritos não significa que são nutritivos. São necessárias mudanças em alguns ingredientes para que nutrientes positivos sejam agregados à receita — explicou Henrique Mendes, diretor da empresa que presta consultoria às escolas, ressaltando que o objetivo da pesquisa é ajudar a melhorar o cardápio e o consumo. — Com base no que os alunos compram, podemos sugerir opções reais e saudáveis.
IDEAL SERIA AO MENOS 50% DE ITENS SAUDÁVEIS
Durante a pesquisa, foi feito um banco de dados personalizado, que pode auxiliar os pais. Isso porque, para acompanhar o consumo nas escolas, as crianças compraram com um cartão especial, e tudo ficou registrado, acessível aos responsáveis. No Rio, Teresiano, Bahiense (Freguesia), Eliezer Max, Marista (Barra) e Mopi (Tijuca) foram alguns dos colégios pesquisados.
— O ideal é que as escolas tenham entre 50% e 75% de itens nutritivos e que as crianças aprendam a escolher — opina Mendes, explicando que o cartão permite aos pais bloquear a compra de alguns itens (14.5% o fazem, proibindo, principalmente, refrigerante e chocolate).
Nesse sentido, a nutricionista Paula Prada, professora da Unicamp, afirma que, além do aumento da oferta, é importante estimular a compra dos saudáveis.
— Se a cantina der desconto na salada de frutas, por exemplo, pode incentivar a compra — opina Patricia, para quem as escolas se esforçam nesse sentido. — Essa mudança é lenta, mas está sendo feita. Muitas escolas incluem a nutrição no conteúdo das aulas e isso é importante.
Paula lembra que a orientação em casa é tão importante quanto na escola. E cita dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que, em agosto, divulgou que 60% das crianças com menos de 2 anos já comeram biscoitos recheados e um terço (32,3%) toma refrigerante ou suco artificial, rico em açúcar.
O levantamento da FGV cita o Colégio Iavne, em São Paulo, como o destaque saudável: a média do consumo de itens nutritivos (70%) muitas vezes supera a oferta (65%).
— Lembro quando tiramos o refrigerante. Os alunos fizeram rebelião. E quando suspendemos a venda do enroladinho com salsicha? Os alunos me apontavam no recreio, aborrecidos — conta a nutricionista Débora Maia.
FABRICAÇÃO PRÓPRIA
O cardápio da cantina do Iavne muda todos os dias. Por ser kosher (alimentos preparados de acordo com os rituais judaicos), intercala dias com oferta de itens à base de leite e queijo com dias em que há produtos com carne. O colégio oferece porções de palmito fatiado e vegetais separados ou misturados, em salada. Num primeiro momento, incentivou a compra da salada de frutas ao dar um copo de suco natural de brinde.
O colégio conta com padaria e confeitaria próprias, o que facilita a produção de salgados e doces com ingredientes mais saudáveis.

— No pão de queijo, não uso gordura e só ofereço uma vez por semana. Não dá para ter uma cantina 100% saudável — comenta Débora, que lamenta ainda ter de vender suco de caixinha.
Segundo a FGV, o consumo de itens saudáveis aumenta com a idade. Entre 6 e 10 anos, representa cerca de 15%. Entre 15 e 17 anos, sobe para 25%, principalmente entre as meninas, que, normalmente a partir dos 12 anos, abusam da salada de frutas.
— As meninas se preocupam mais com a estética e isso influencia a escolha — comenta Patrícia, que sugere vitamina de frutas ou tapioca para agradar aos meninos.
A cantina do Mopi da Tijuca já mudou muito, mas ainda vai passar por restruturação. É que, apesar de não vender refrigerante nem fritura, oferece bolo e biscoito industrializado, pipoca em saquinho, chocolate e suco em lata. Quer introduzir a salada de frutas e o açaí, apesar de já disponibilizar, de graça, frutas inteiras (maçã, na maioria das vezes). Também deve vetar os picolés com leite.
— Mas vou manter o mate, mesmo que tenha cafeína e conservantes, e o pão de queijo. Coloquei as bananinhas com e sem açúcar e não têm saída. Nosso maior desafio vai além de oferecer opções saudáveis. É continuar com o tema nas aulas, ensinando o aluno a fazer boas escolhas — explicou a nutricionista Cintia Ferreira.
A aluna Nathália Guimarães, de 13 anos, compra na lanchonete e diz que prefere os salgados.
— É bom que tenha integral, porque me força a comer melhor. Se tivesse os de saquinho, eu compraria — admite. — Minha mãe me chama a atenção quando exagero no doce. Sei que preciso comer mais verduras, mas não curto muito.
Alice Carvalho, de 11 anos, prefere levar a lancheira. Contou que, por causa do histórico familiar de problemas com colesterol alto, ela e os pais cuidam do cardápio. Mas afirma que a mãe não restringe suas compras na cantina.
— Só compro na lanchonete quando esqueço a lancheira. E evito sorvete e bolo. Deixo para os fins de semana — afirma a menina, que sempre tem uma fruta de lanche.
Assim como Aline, Giulia Vaicberg, de 14 anos, leva frutas de casa para a escola.
— Prefiro os saudáveis, me sinto melhor.

Fonte: O Globo

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