A Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) definiu que, na
cobrança indevida inserida em cartão de crédito, é necessária a
comprovação de danos imateriais – inscrição em cadastro de
inadimplentes, protesto ou publicidade negativa perante a comunidade –
para que se possa requerer responsabilização por danos morais.
O
colegiado entendeu, seguindo voto da ministra Isabel Gallotti, que a
inscrição indevida em cadastro de inadimplentes configura dano moral in re ipsa.
Isso porque a publicidade decorrente de tais cadastros desabonadores
atinge direito da personalidade (imagem e honra), não havendo
necessidade de se questionar sobre as características subjetivas do
lesado para que se imponha o dever de indenizar.
Por outro lado, o
simples recebimento de fatura de cartão de crédito, na qual incluída
cobrança indevida, não constitui ofensa a direito de personalidade, não
causando, portanto, por si só, dano moral objetivo.
Com esse
entendimento, o colegiado julgou improcedente pedido de indenização
feito por um consumidor que teve seu cartão de crédito usado
indevidamente, gerando um débito com a empresa Forever Living Products
Brasil Ltda., no valor de R$ 835,99, por serviço ou produto que não foi
contratado por ele.
O caso
O consumidor
ajuizou ação de indenização contra a Forever Living devido à cobrança,
por meio de fatura de cartão de crédito, do valor de R$ 835,99 por
serviço ou produto por ele não contratado. O cartão de crédito foi
fornecido pelo Banco BMG, e o valor da fatura, no vencimento, era
descontado automaticamente da conta do consumidor.
Ele alegou que
recebeu a fatura com a cobrança indevida e, procurando o banco, foi
informado de que a responsável seria a empresa. Não sabendo a quem
recorrer, deixou o tempo passar.
Meses após, obteve o telefone da
empresa, a qual se negou a devolver o dinheiro, o que, segundo a defesa,
causou-lhe transtornos enormes, por ser aposentado e idoso. Assim,
pediu a devolução em dobro do valor cobrado indevidamente e indenização
por danos morais.
Ilegitimidade passiva
A
empresa sustentou sua ilegitimidade passiva, uma vez que a concessão,
emissão e autorização do uso do cartão, o fornecimento dos equipamentos
para o emprego do cartão, a aprovação da compra e do respectivo valor e a
cobrança foram feitos pelo banco emissor do cartão.
Afirmou
também que vendeu mercadorias a quem se apresentou com o cartão, e que
realiza milhares de transações diárias e, portanto, não realizou
cobrança indevida, limitando-se a aceitar o pagamento por meio de cartão
de crédito.
Quanto ao dano moral, disse que este não ocorreu, já
que não existiu inscrição do nome do consumidor em cadastro de
inadimplente, protesto ou qualquer forma de publicidade ou divulgação a
terceiros da cobrança.
Falha no serviço
A
sentença de primeiro grau acolheu o pedido de indenização sob o
fundamento de que a empresa não se desincumbiu de apresentar provas que informassem a cobrança indevida incluída na fatura do cartão de crédito
do consumidor.
O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ)
considerou que a cobrança indevida por meio da fatura de cartão de
crédito constituiu-se em acidente de consumo, de forma a caracterizar a
responsabilidade solidária e objetiva de todos os integrantes da cadeia
de eventos.
Entendeu configurado o dano moral pelo fato ofensivo
da cobrança de dívida inexistente na fatura de cartão. Entretanto,
julgou que não havia provas nos autos de que o consumidor tenha quitado o
valor das compras, não fazendo jus à restituição por danos materiais.
Dano objetivo
Em seu voto, a ministra
Gallotti destacou que, no caso, cabia ao consumidor tão somente o
ressarcimento pelo dano patrimonial. Ocorre que não se demonstrou o
pagamento, somente a cobrança indevida.
Além disso, a ministra
ressaltou que não se trata de cartão expedido sem solicitação do
consumidor, como igualmente não se alegou que a empresa ou o banco
emissor do cartão tenha insistido na cobrança, nos meses seguintes,
quando informados da impugnação àquele lançamento.
“Penso que a
banalização do dano moral, em caso de mera cobrança indevida, sem
repercussão em direito da personalidade, aumentaria o custo da atividade
econômica, o qual oneraria, em última análise, o próprio consumidor”,
afirmou a relatora.
Fonte: STJ
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