Pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil)
e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) aponta que
quase seis em cada dez consumidores (58,9%) não sabem quanto estão
devendo e 36% não sabem para quantas empresas devem. Os consumidores
também desconhecem o número de parcelas da dívida que ainda resta
pagar.
O educador financeiro do SPC Brasil e do Portal Meu Bolso
Feliz, José Vignoli, vê este dado como algo preocupante, pois é mais
difícil lidar com um problema financeiro quando se desconhece a condição
das finanças. Sair do endividamento exige disciplina e planejamento, e
não é possível planejar, quando o coinsumidor não sabe ao certo nem
quanto deve, nem para quem.
O primeiro passo, portanto, é mapear a
dívida, pois só assim será possível traçar metas, estabelecer
prioridades e obter resultados.
A pesquisa entrevistou 1.088
consumidores de todas as regiões brasileiras, com 18 anos ou mais, de
ambos os sexos e de todas as classes sociais, inadimplentes atualmente
ou há 12 meses no máximo. A margem de erro é de 3 pontos percentuais
para uma confiança de 95%.
Valor médio da dívida atinge 3.422 reais
Entre os que têm conhecimento sobre suas dívidas,
o valor médio dos débitos é de 3.422,29 reais. Na média, os brasileiros
têm ou tinham contas em atraso com 2,1 empresas, percentual que cresce
entre as classes C, D e E.
No caso do financiamento
de um carro ou moto a compra é dividida em 47,6 parcelas, das quais 9,6
não foram pagas, em média. Já os empréstimos costumam ser divididos em
26 vezes e os consumidores não pagam, em média, 9,6 parcelas.
Dívida no cartão é porta de entrada para nome sujo
De
acordo com o levantamento da SPC, o cartão de crédito é o maior vilão
entre as dívidas que levaram os brasileiros a ficarem com o nome sujo:
43,4% dos entrevistados ficaram inadimplentes por conta de débitos que
não foram pagos no cartão de crédito, seguido pelos empréstimos (23,5%) e
por dívidas em cartões de lojas varejistas (19,3%).
As principais justificativas para a falta de pagamento das contas foram o desemprego (29,2%) e a redução da renda (14,6%).
De
acordo com a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, a atual
conjuntura econômica está causando uma alta no número de desempregados e
minando o poder de compra dos brasileiros devido à inflação elevada e
às altas taxas de juros. Esses dois fatores em conjunto comprometem
ainda mais o orçamento do brasileiro.
Para Marcela, o ideal é que o
consumidor se planeje para imprevistos, guardando todos os meses alguma
quantia, por menor que seja, para uma reserva financeira. Além disso, é
importante que reflita bastante antes de optar pelo parcelamento,
especialmente os de longo prazo, pois não há sinais de que a economia
irá se aquecer nos próximos meses.
Inadimplência é resolvida somente após 16 meses
De
acordo com os dados, a estratégia mais adotada por 57,1% dos
entrevistados para quitar suas dívidas foi a tentativa de um acordo com o
credor.
No entanto, quando investigadas as maiores dificuldades
enfrentadas para limpar o nome, o acordo com o credor também está em
primeiro lugar, (36,3%) o que demonstra a dificuldade enfrentada pelos
devedores no processo de negociação para o pagamento da dívida. Isso faz
com que a inadimplência seja resolvida, em média, somente após 16
meses.
Segundo a economista do SPC, as propostas feitas pelas empresas
credoras às vezes são incompatíveis com as possibilidades de pagamento
dos entrevistados. Ainda que os descontos negociados sejam
consideráveis, podem ser insuficientes e os consumidores podem acabar em
um ciclo vicioso de contração de novas dívidas e de empréstimos para
quitá-las, segundo Marcela.
A economista recomenda que, como forma
de se prevenir, os brasileiros ponderem as altas taxas de juros do
mercado, refletindo sobre os valores de cada crédito contratado e sua
capacidade de honrar os pagamentos antes das compras.
Oito em cada dez fazem contraproposta ao credor
A
pesquisa mostra que quase oito em cada dez brasileiros (78,8%)
inadimplentes ou ex-inadimplentes fizeram uma contraproposta ao credor e
41,4% se prepararam para debater as condições para quitação da dívida.
Entre
os que não fizeram uma contraproposta, a justificativa mais comum é que
a proposta feita pela empresa credora foi considerada interessante.
Além da negociação, as empresas ainda ofereceram um desconto médio de
24% para o pagamento da dívida à vista, sendo esta a principal forma de
pagamento (56,4%) seguida pelas parcelas no carnê ou crediário (21,7%).
O
principal motivo para aceitar a proposta de negociação foi o valor
acessível da prestação, independentemente do valor final da dívida,
considerando os juros. Para viabilizar o pagamento da renegociação, os
entrevistados pretendem economizar ou cortar gastos. Mudar os hábitos
também foi a principal atitude tomada pelos entrevistados (30,9%) quando
descobriram que estavam com o nome sujo.
Dentre as dívidas
atrasadas, aquelas que possuem a maior taxa de juros são priorizadas por
37,2% dos entrevistados, seguidas pelas dívidas que possibilitam a
manutenção do consumo por serem utilizadas para o parcelamento de novas
compras, como o cartão de crédito, os cartões de loja e o crediário
(22,9%).
O educador financeiro José Vignoli afirma que esse, de
fato, é o melhor caminho a ser seguido por quem está com o nome sujo. É
preciso pagar primeiro as dívidas com juros mais altos e, se necessário,
até mesmo fazer a portabilidade da dívida para outro banco ou
modalidade que tenha taxas menores.
Fonte: Exame
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