quarta-feira, 30 de março de 2016

Anestesias: tipos, contraindicações, mitos e verdades

O anestesiologista, Dr. José Abelardo Meneses, esclarece o assunto.

A primeira demonstração de uma anestesia inalatória bem-sucedida ocorreu em 16 de outubro de 1846, no Hospital Geral de Massachusetts, quando William Thomas Green Morton anestesiou Robert Abbott para a ressecção de um tumor cervical aos cuidados do cirurgião John Collins Warren. Este feito correu o mundo sendo considerado um dos mais importantes do século XIX, a era de invenções e descobertas. 
A partir daí e, ao longo desses quase 170 anos, surgiram agentes anestésicos e técnicas que diversificaram a possibilidade de aplicação da anestesia conforme as condições clínicas do paciente e a abordagem cirúrgica. Assim, é possível ao médico, especialista em anestesiologia, realizar anestesia geral venosa, inalatória e a combinação das duas com ou sem intubação da traqueia e aplicação de ventilação artificial; ou anestesias locorregionais, aquelas que bloqueiam a dor apenas no local da cirurgia, as anestesias espinhais, a raque e a peridural e os bloqueios nervosos periféricos. 
Apesar dos avanços científicos e tecnológicos, ainda persiste uma razoável expectativa quanto ao resultado da aplicação da anestesia, embora a sua prática seja considerada segura, tendo em vista os avanços ocorridos no final do século XX, nos agentes ou drogas, venosas, locais e inalatórias dos equipamentos para aplicação da anestesia e, especialmente, as ferramentas disponíveis para o controle da anestesia e sua monitorização. 
Agregam-se a isso, os avanços no conhecimento científico na condução de procedimentos de alta complexidade, em pacientes em extremos de idade, com patologias complexas e de alto risco e a compreensão das alterações fisiopatológicas que envolvem essas abordagens. Essas nuances técnico-científicas conferem ao anestesiologista conhecimento aprofundado e segurança para conduzir casos clínicos de extrema complexidade e a capacidade para o controle de intercorrências como a alergia e, até mesmo, a anafilaxia, que podem ser tratadas convenientemente apesar do receio da população.
Assim, não é difícil compreender que os avanços nas diversas áreas cirúrgicas só foram possíveis graças ao avanço tecnológico e de conhecimento humano na anestesia, que vieram proporcionar ganhos extraordinários para a humanidade. Podem ser citados exemplos, como as cirurgias cardíacas com circulação extracorpórea, as neurocirurgias, as cirurgias fetais intrauterinas, a analgesia de parto, as cirurgias videolaparoscópicas, as cirurgias robóticas, entre tantas outras. Necessário lembrar que, atualmente, diversos procedimentos de investigação diagnóstica são realizados sob anestesia ou sob sedação realizadas por anestesiologista, a exemplo das endoscopias, dos exames de ressonância nuclear magnética e tomografia computadorizada, algumas biópsias etc., quando houver indicação médica ou a pedido do paciente. Importante destacar que “sedação profunda só pode ser realizada por médicos qualificados e em ambientes que ofereçam condições seguras para sua realização, ficando os cuidados do paciente a cargo do médico que não esteja realizando o procedimento que exige sedação”, conforme disposto na Resolução CFM 1.670/03.
Para que o procedimento anestésico-cirúrgico seja coroado de êxito, é necessário seguir algumas premissas. Primeiro, que o profissional esteja preparado para atender as necessidades do procedimento cirúrgico e suas variantes; segundo que o ambiente esteja adequadamente equipado para o que se propõe; terceiro que na avaliação pré-anestésica paciente e médico troquem as informações indispensáveis à perfeita integração envolvendo a história prévia, suas comorbidades, medicações utilizadas prescritas por médicos ou não (a automedicação é ainda muito frequente, especialmente para redução do peso, fitoterápicos etc.), uso de drogas lícitas ou ilícitas (este é um ponto nevrálgico e que merece atenção especial devido ao estigma social), alergias, intercorrências em procedimentos anteriores e que o paciente seja esclarecido sobre a importância de seguir as orientações para o pré e pós-operatório (as medicações que não podem ter seu uso interrompido, aquelas que necessariamente necessitam ser suspensas, tais como o jejum pré-operatório e a abstenção de uso de álcool e outras drogas, são alguns exemplos).
"...o especialista em anestesiologia não é apenas o profissional que aplica a anestesia, mas tornou-se o profissional da medicina perioperatória e alguns ampliam a sua atividade em áreas de atuação em controle da dor crônica, acupuntura e terapia intensiva."
Na atualidade, o especialista em anestesiologia não é apenas o profissional que aplica a anestesia, mas tornou-se o profissional da medicina perioperatória e alguns ampliam a sua atividade em áreas de atuação em controle da dor crônica, acupuntura e terapia intensiva. Assim, o especialista em anestesiologia tem tido participação ativa em todo o processo que envolve o paciente cirúrgico. Além de suprimir a dor, tirar a consciência e manter o paciente imobilizado durante o procedimento cirúrgico, o anestesiologista assiste o paciente cuidando da harmonia do funcionamento dos seus órgãos e sistemas, evitando, consequentemente, danos à sua saúde. Portanto, a pressão arterial, os batimentos cardíacos, o nível da consciência, o controle da respiração, do sistema urinário, da glicemia, do equilíbrio ácido básico e da reposição das perdas de líquidos e sangue estão sob a responsabilidade direta do médico anestesiologista. 
Apesar do receio de algumas pessoas de se submeterem à anestesia, não há contraindicação formal à sua aplicação para os procedimentos cirúrgicos e de diagnóstico. Apenas devem ser tomados cuidados específicos diante de situações especiais. É fundamental que se estabeleça uma relação de confiança entre o médico anestesiologista e o paciente, a fim de que as informações trocadas entre ambos sejam as mais fiéis e que sejam cumpridas as orientações do profissional. No momento da consulta pré-anestésica, a obtenção do consentimento informado é norma estabelecida e deve ser seguida sempre que houver a realização de procedimentos eletivos, aqueles que são programados com antecedência. Para os casos não programados, os chamados de urgência e/ou emergência, esse contato deve ser mantido, ainda que sem os rigores e a liturgia da consulta pré-anestésica, para que se obtenha as informações indispensáveis para o resultado final satisfatório. Uma frase poderia ficar como orientação, conheça seu médico anestesiologista, ele é o guardião de sua saúde.
Fonte: iSaúde Bahia

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