O anestesiologista, Dr. José Abelardo Meneses, esclarece o assunto.
A
primeira demonstração de uma anestesia inalatória bem-sucedida ocorreu
em 16 de outubro de 1846, no Hospital Geral de Massachusetts, quando
William Thomas Green Morton anestesiou Robert Abbott para a ressecção de
um tumor cervical aos cuidados do cirurgião John Collins Warren. Este
feito correu o mundo sendo considerado um dos mais importantes do século
XIX, a era de invenções e descobertas.
A
partir daí e, ao longo desses quase 170 anos, surgiram agentes
anestésicos e técnicas que diversificaram a possibilidade de aplicação
da anestesia conforme as condições clínicas do paciente e a abordagem
cirúrgica. Assim, é possível ao médico, especialista em anestesiologia,
realizar anestesia geral venosa, inalatória e a combinação das duas com
ou sem intubação da traqueia e aplicação de ventilação artificial; ou
anestesias locorregionais, aquelas que bloqueiam a dor apenas no local
da cirurgia, as anestesias espinhais, a raque e a peridural e os
bloqueios nervosos periféricos.
Apesar dos avanços
científicos e tecnológicos, ainda persiste uma razoável expectativa
quanto ao resultado da aplicação da anestesia, embora a sua prática seja
considerada segura, tendo em vista os avanços ocorridos no final do
século XX, nos agentes ou drogas, venosas, locais e inalatórias dos
equipamentos para aplicação da anestesia e, especialmente, as
ferramentas disponíveis para o controle da anestesia e sua
monitorização.
Agregam-se a isso, os avanços no
conhecimento científico na condução de procedimentos de alta
complexidade, em pacientes em extremos de idade, com patologias
complexas e de alto risco e a compreensão das alterações
fisiopatológicas que envolvem essas abordagens. Essas nuances
técnico-científicas conferem ao anestesiologista conhecimento
aprofundado e segurança para conduzir casos clínicos de extrema
complexidade e a capacidade para o controle de intercorrências como a
alergia e, até mesmo, a anafilaxia, que podem ser tratadas
convenientemente apesar do receio da população.
Assim, não é difícil compreender que os avanços nas
diversas áreas cirúrgicas só foram possíveis graças ao avanço
tecnológico e de conhecimento humano na anestesia, que vieram
proporcionar ganhos extraordinários para a humanidade. Podem ser citados
exemplos, como as cirurgias cardíacas com circulação extracorpórea, as
neurocirurgias, as cirurgias fetais intrauterinas, a analgesia de parto,
as cirurgias videolaparoscópicas, as cirurgias robóticas, entre tantas
outras. Necessário lembrar que, atualmente, diversos procedimentos de
investigação diagnóstica são realizados sob anestesia ou sob sedação
realizadas por anestesiologista, a exemplo das endoscopias, dos exames
de ressonância nuclear magnética e tomografia computadorizada, algumas
biópsias etc., quando houver indicação médica ou a pedido do paciente.
Importante destacar que “sedação profunda só pode ser realizada por
médicos qualificados e em ambientes que ofereçam condições seguras para
sua realização, ficando os cuidados do paciente a cargo do médico que
não esteja realizando o procedimento que exige sedação”, conforme
disposto na Resolução CFM 1.670/03.
Para que o
procedimento anestésico-cirúrgico seja coroado de êxito, é necessário
seguir algumas premissas. Primeiro, que o profissional esteja preparado
para atender as necessidades do procedimento cirúrgico e suas variantes;
segundo que o ambiente esteja adequadamente equipado para o que se
propõe; terceiro que na avaliação pré-anestésica paciente e médico
troquem as informações indispensáveis à perfeita integração envolvendo a
história prévia, suas comorbidades, medicações utilizadas prescritas
por médicos ou não (a automedicação é ainda muito frequente,
especialmente para redução do peso, fitoterápicos etc.), uso de drogas
lícitas ou ilícitas (este é um ponto nevrálgico e que merece atenção
especial devido ao estigma social), alergias, intercorrências em
procedimentos anteriores e que o paciente seja esclarecido sobre a
importância de seguir as orientações para o pré e pós-operatório (as
medicações que não podem ter seu uso interrompido, aquelas que
necessariamente necessitam ser suspensas, tais como o jejum
pré-operatório e a abstenção de uso de álcool e outras drogas, são
alguns exemplos).
"...o especialista em anestesiologia não é apenas o profissional que aplica a anestesia, mas tornou-se o profissional da medicina perioperatória e alguns ampliam a sua atividade em áreas de atuação em controle da dor crônica, acupuntura e terapia intensiva."
"...o especialista em anestesiologia não é apenas o profissional que aplica a anestesia, mas tornou-se o profissional da medicina perioperatória e alguns ampliam a sua atividade em áreas de atuação em controle da dor crônica, acupuntura e terapia intensiva."
Na atualidade, o especialista em
anestesiologia não é apenas o profissional que aplica a anestesia, mas
tornou-se o profissional da medicina perioperatória e alguns ampliam a
sua atividade em áreas de atuação em controle da dor crônica, acupuntura
e terapia intensiva. Assim, o especialista em anestesiologia tem tido
participação ativa em todo o processo que envolve o paciente cirúrgico.
Além de suprimir a dor, tirar a consciência e manter o paciente
imobilizado durante o procedimento cirúrgico, o anestesiologista assiste
o paciente cuidando da harmonia do funcionamento dos seus órgãos e
sistemas, evitando, consequentemente, danos à sua saúde. Portanto, a
pressão arterial, os batimentos cardíacos, o nível da consciência, o
controle da respiração, do sistema urinário, da glicemia, do equilíbrio ácido básico e da reposição das perdas de líquidos e sangue estão sob a
responsabilidade direta do médico anestesiologista.
Apesar
do receio de algumas pessoas de se submeterem à anestesia, não há
contraindicação formal à sua aplicação para os procedimentos cirúrgicos e
de diagnóstico. Apenas devem ser tomados cuidados específicos diante de
situações especiais. É fundamental que se estabeleça uma relação de
confiança entre o médico anestesiologista e o paciente, a fim de que as
informações trocadas entre ambos sejam as mais fiéis e que sejam
cumpridas as orientações do profissional. No momento da consulta
pré-anestésica, a obtenção do consentimento informado é norma
estabelecida e deve ser seguida sempre que houver a realização de
procedimentos eletivos, aqueles que são programados com antecedência.
Para os casos não programados, os chamados de urgência e/ou emergência,
esse contato deve ser mantido, ainda que sem os rigores e a liturgia da
consulta pré-anestésica, para que se obtenha as informações
indispensáveis para o resultado final satisfatório. Uma frase poderia
ficar como orientação, conheça seu médico anestesiologista, ele é o
guardião de sua saúde.
Fonte: iSaúde Bahia
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