A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estuda alterar
até o fim de junho o processo de importação de medicamentos que levam
canabidiol, substância química encontrada na maconha e que, segundo
alguns estudos científicos, tem utilidade médica para tratar diversas
doenças, entre elas, neurológicas.
A informação foi divulgada pelo
diretor-adjunto da Anvisa, Luiz Roberto Klassmann, durante palestra
realizada em São Paulo, dentro do 4º Simpósio Internacional da Cannabis
Medicinal, que discute o tema com especialistas das áreas médica e
jurídica. O evento segue até o próximo sábado (17).
A decisão terá
que ser aprovada pela Diretoria Colegiada da agência, em reunião que
vai acontecer até o fim deste semestre. Se isso ocorrer, qualquer
brasileiro com uma prescrição médica em mãos recomendando um medicamento
com canabidiol, poderá entrar no país de maneira legal com o produto,
ou recebê-lo por encomenda.
Atualmente, esses remédios estão em
uma lista do órgão de Vigilância Sanitária que proíbe o uso para fins
terapêuticos, exceto quando há alguma autorização especial para
importação concedida pelo próprio diretor da agência ou ainda sentença
jurídica com a mesma finalidade.
Reclassificação
Segundo Klassmann, a retirada do canabidiol da lista de substâncias de uso proscrito e sua reclassificação como substância sujeita a controle especial (com receita médica de duas vias), pode acontecer porque já existiriam evidências científicas suficientes que comprovam a eficácia da droga e sua segurança para uso terapêutico.
Segundo Klassmann, a retirada do canabidiol da lista de substâncias de uso proscrito e sua reclassificação como substância sujeita a controle especial (com receita médica de duas vias), pode acontecer porque já existiriam evidências científicas suficientes que comprovam a eficácia da droga e sua segurança para uso terapêutico.
A visão pessoal de Klassmann é de que a mudança "deve ser aprovada pela diretoria colegiada".
“A
partir do momento que ela deixar de ser proscrita, esses problemas de
barreira alfandegária vão acabar”, disse Klassmann ao G1. “Precisamos,
inicialmente, quebrar o preconceito e estigma [do uso da maconha
medicinal] e ver pela ótica cientifica o que está disponível. Eu me
comprometo em agilizar a liberação”, complementou o diretor-adjunto da
Anvisa.
Nos Estados Unidos, 20 estados e a capital Washington têm legislação que autoriza o uso da maconha para fins medicinais.
Elisaldo
Carlini, um dos maiores especialistas do Brasil sobre maconha
medicinal, considera a possível decisão da Anvisa como um progresso, mas
afirma que a barreira financeira será um problema. “Vai ficar caro
[para as famílias], mas se o governo brasileiro tiver vontade e a
população também quiser, cria-se uma política pública”, explica.
Katiele
Fischer e Norberto Fischer são pais de Anny, de 6 anos, portadora da
rara síndrome CDKL5, doença genética que provoca deficiência neurológica
grave e grande quantidade de convulsões. O caso dela foi mostrado pelo
Fantástico em março deste ano. Em abril, o casal obteve, na Justiça,
autorização para importar o Canabidiol.
Com a decisão, eles
trouxeram para o Brasil uma bisnaga de dez gramas do medicamento,
suficiente para três meses de tratamento, ao custo de US$ 500. Eles
tiveram que desembolsar cerca de US$ 100 de taxa de importação e houve
ainda cobrança de outros tributos.
Segundo Norberto, a droga
praticamente zerou as convulsões em nove semanas (Anny tinha cerca de 60
crises semanais) e deve ajudar a melhorar a qualidade de vida da
menina. Katiele afirma que a mudança do protocolo por parte da Anvisa
poderá beneficiar outras famílias, que sofrem com a burocracia da
importação.
CFM afirma que médico tem autonomia para prescrever
Sobre a liberação de medicamentos feitos com substâncias encontradas na maconha, o Conselho Federal de Medicina (CFM) afirma que desenvolve atualmente discussões para provável e posterior envio da matéria à análise de Comissão específica ao reconhecimento de novas terapêuticas e procedimentos científicos.
Sobre a liberação de medicamentos feitos com substâncias encontradas na maconha, o Conselho Federal de Medicina (CFM) afirma que desenvolve atualmente discussões para provável e posterior envio da matéria à análise de Comissão específica ao reconhecimento de novas terapêuticas e procedimentos científicos.
"Dependendo dos resultados do estudo e
com base na lei 12.842/13 (Lei do Ato Médico), o CFM poderá editar
norma para o reconhecimento científico do uso desse procedimento",
informou o órgão por meio de nota.
O CFM afirma ainda que "o
profissional médico tem a autonomia para prescrever ou não qualquer
medicamento, sempre respeitando a autonomia do paciente e informando-o
sobre o diagnóstico, prognóstico, riscos e objetivos de cada
tratamento".
Fonte: G1
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