O termo “padrão Fifa” ganhou a boca do
povo. Ainda não dá para saber se todas as exigências previstas por essa
expressão serão ou não cumpridas em nossos estádios. Mas, fora do
período do megaevento, qual é a situação que o torcedor encontra para
assistir às partidas do esporte mais apreciado do país? Para responder a
essa questão, o Idec avaliou os estádios de quatro importantes pólos
futebolísticos do Brasil: Porto Alegre (RS), Recife (PE), Rio de Janeiro
(RJ) e São Paulo (SP), todas elas cidades-sede de jogos da Copa. “A
oferta de boas condições nos estádios deve ser permanente, e não
restrita a um período e a mando de uma entidade privada”, ressalta
Carlos Thadeu de Oliveira, gerente técnico do Instituto.
Em cada uma das cidades foi analisado um estádio (dois jogos em
cada). Em Porto Alegre e em São Paulo, os contemplados foram,
respectivamente, Arena do Grêmio e Pacaembu, já que o Beira Rio e a
Arena Corinthians (que sediarão jogos da Copa) ainda não tinham sido
inaugurados quando a pesquisa foi realizada. Em Recife e no Rio de
Janeiro, aí sim, os estádios considerados foram Arena Pernambuco e
Maracanã, palcos da Copa já inaugurados. Além da pesquisa in loco,
também foram pesquisados os sites dos clubes e federações, a fim de
avaliar informações suplementares e documentos que, por lei, devem ser
publicados nesses meios.
Independentemente do que a Fifa considere requisitos básicos de
segurança e conforto dos estádios, o Brasil já conta com uma legislação
que prevê mecanismos de proteção e defesa do torcedor. O principal deles
é a lei federal no 10.671, de 2003, conhecida como Estatuto do
Torcedor. Foi a partir dele que o Idec elaborou os principais critérios
de avaliação. Eles estão divididos em quatro grandes categorias:
ingressos, transportes, segurança e condições de conforto do estádio.
O principal problema foi o desrespeito ao
local de assento indicado no ingresso. O direito é garantido pelo
artigo 23, III, do Estatuto do Torcedor, mas foi ignorado em pelo menos
um dos jogos em todos os estádios, com exceção da Arena do Grêmio. Em
alguns casos, principalmente em jogos com grande público, a falta de
lugar para sentar atrapalhou muito a visualização da partida. Outras
falhas relacionadas ao conforto dos torcedores, como ausência de
estacionamento próprio ou organizado pelo estádio e longas filas para
entrar ou sair do local, foram recorrentes.
Em relação à segurança, chama a atenção que, embora as entidades
responsáveis pelos jogos apresentem os planos de ação referentes a
contingências que podem ocorrer durante os eventos, como exige o
Estatuto, esses documentos, em geral, são bastante superficiais.
Apesar desses e de outros problemas identificados na pesquisa, o Idec
considera que as novas arenas, no geral, oferecem condições melhores
que as de alguns anos atrás. Vale ressaltar que, dos quatro estádios
avaliados, apenas o Pacaembu pode ser considerado antigo. As arenas do
Grêmio e de Pernambuco foram construídas muito recentemente e o Maracanã
passou por ampla reforma. “As obras destes três últimos puderam ser a
oportunidade para que velhos ‘vícios’ dos estádios brasileiros fossem
corrigidos”, afirma Oliveira. Contudo, há ainda vários detalhes a
ajustar. Independentemente de as falhas verificadas se repetirem ou não
durante a Copa, o mais importante é que o respeito com o torcedor seja
definitivo.
Confira, a seguir, os resultados detalhados de cada categoria avaliada e a comparação entre os estádios.
INGRESSOS
O processo de compra dos ingressos foi o principal ponto avaliado
pelo Idec, que verificou se a agilidade da venda e o amplo acesso à
informação, conforme determina o artigo 20 do Estatuto do Torcedor e
também o artigo 6o do Código de Defesa do Consumidor (CDC). Foram
encontrados problemas em três dos oito jogos analisados. Na Arena
Pernambuco e na Arena do Grêmio, havia filas consideráveis para a compra
de ingressos antes da partida. O terceiro caso diz respeito à venda
realizada pela internet, em jogo do Pacaembu: havia espera de cerca de
uma hora. O mais grave, no entanto, é que, superada essa “fila virtual”,
o consumidor tem apenas dez minutos para realizar a compra – tempo
insuficiente para que todos os detalhes das condições de venda sejam
avaliados.
Além disso, o Estatuto prevê que a comercialização dos ingressos seja
realizada em no mínimo cinco pontos físicos de venda. Nos dois jogos do
Pacaembu e em um da Arena Pernambuco, no entanto, havia oficialmente
apenas quatro.
Por fim, também foi verificado se havia cambistas vendendo ingressos
antes das partidas. Em todos os jogos essa situação foi encontrada, à
exceção das duas partidas na Arena Pernambuco. Sinal de que o velho
“ralo” de ingressos continua existindo.
TRANSPORTE
Considerando a rede de mobilidade urbana disponível em cada cidade,
as condições de transporte aos estádios encontrados durante a pesquisa
foram, de modo geral, satisfatórias. Mas cabem algumas ressalvas. No
primeiro jogo do Pacaembu, por exemplo, formou-se grande aglomeração na
entrada de umas das estações de metrô próximas ao estádio após o jogo.
Os torcedores demoraram ao menos dez minutos para conseguir entrar na
estação.
Em Pernambuco, o site da Arena informa que o acesso ao estádio via
transporte público pode ser feito por duas estações de metrô, das quais
partiriam ônibus com destino ao local. No entanto, no primeiro jogo, os
ônibus estavam saindo de apenas uma das estações – erro grave de
informação, que poderia comprometer a ida ao evento. Ainda na Arena
Pernambuco, os ônibus que fariam o trajeto de volta até a estação de
metrô, no segundo jogo, demoraram meia hora para partir. No segundo jogo
da Arena do Grêmio, situação semelhante: espera de 15 minutos.
As condições de estacionamento basicamente se dividem entre os
estádios que têm e os que não têm estacionamento próprio. A Arena
Pernambuco e a do Grêmio, palcos totalmente novos, contam com essa
possibilidade. Pacaembu e Maracanã, estádios antigos (ainda que este
último tenha sido reformado) não têm local próprio para estacionamento.
Resultado: nesses dois lugares (e também na Arena do Grêmio), se o
torcedor decidir parar o carro em via pública, será provavelmente
forçado a pagar uns bons reais a um guardador. Nos arredores do
Pacaembu, a “taxa” era de R$ 20. Ressalte-se que o Estatuto do Torcedor
prevê que a federação e o clube mandante solicitem ao poder público
competente serviços de estacionamento.
O Estatuto prevê, ainda, que deve ser solicitado ao poder público
meio de transporte, ainda que pago, para idosos, crianças e portadores
de deficiência. Questionadas, nenhuma das federações afirmou se tal
pedido foi ou não realizado.
Fonte: Matéria Publicada no site do Idec.
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