Os direitos das pessoas com deficiência finalmente estão
chegando aos meios de comunicação e sendo integrados ao discurso do
Estado, mas as mudanças concretas de efetivação de cidadania ainda
ocorrem de maneira lenta, diz a superintendente do Instituto Brasileiro
dos Direitos de Pessoas com Deficiência (IBDD), Teresa d'Amaral. Segundo
ela, a legislação brasileira sobre o tema é excelente, mas não houve,
nos últimos anos, efetivação dos direitos dessa parcela da população.
"Isso
significa, entre outras coisas, falta de acessibilidade nos transportes
públicos, nos prédios públicos e privados de uso coletivo, em
restaurantes, em universidades, em hotéis e em espaços públicos, em
geral.” Teresa ressalta que a questão da acessibilidade é a que mais
chama a atenção quando se fala em pessoas com deficiência, porque, na
maioria dos casos, ocorre desrespeito “a um dos direitos mais básicos, o
de ir e vir”. “Esse direito praticamente não existe para pessoas com
deficiência na maioria das cidades brasileiras”, lamenta.
A
superintendente do IBDD lembra que, embora a fabricação de ônibus sem
acessibilidade no país seja proibida desde 2008, há demora na renovação
da frota e os equipamentos são subutilizados. “Muitas vezes, falta a
chave [para acionar a estrutura que garante a cadeirantes o acesso em
ônibus]. Quando se tem a chave, o equipamento está quebrado, ou o
motorista não sabe muito bem como usá-lo. Quando se consegue tudo isso, o
ônibus está cheio, e as pessoas não têm paciência de esperar que o
cadeirante suba, porque já demorou demais para encontrar tudo.”
De
acordo com Teresa, essas “dificuldades diárias” são encontradas em
“praticamente todos os meios de transporte”. Ela defende uma atuação
mais efetiva do Estado, mas também uma mobilização mais intensa da
sociedade, que precisa compreender que os direitos das pessoas com
deficiência não são “regalias”.
A estudante Viviane Aleluia, de 25
anos, tem paralisia cerebral leve e diz que “coleciona” relatos de
desrespeitos a seus direitos na jornada diária nos transportes públicos.
Em um dos episódios, Viviane não conseguiu sentar nos bancos reservados
a deficientes físicos, que já estavam ocupados, e acabou prendendo o pé
no vão entre o vagão e a plataforma em uma das estações de metrô no Rio
de Janeiro.
“Como não tinha lugar e ninguém cedeu o seu, eu
fiquei em pé ao lado da porta. Em uma das estações, fui empurrada pela
multidão que tentava sair do vagão, caí e minha perna esquerda ficou
presa. Acabei com um hematoma no local”, conta Viviane.
Para
discutir o desenvolvimento de políticas públicas efetivas para esses
brasileiros, começa hoje (3), em Brasília, a 3ª Conferência Nacional dos
Direitos da Pessoa com Deficiência, que marca o o Dia Internacional das
Pessoas com Deficiência, instituído em 1992 pela Assembleia Geral das
Nações Unidas.
O tema do evento, que vai até quinta-feira (6), é
Um Olhar Através da Convenção sobre os Direitos da Pessoa com
Deficiência: Novas Perspectivas e Desafios. Cerca de 2 mil pessoas de
todos os estados brasileiros deverão participar dos quatro dias de
debates sobre educação, esporte, trabalho, reabilitação profissional,
acessibilidade e saúde, entre outros temas.
Segundo a Secretaria
de Direitos Humanos da Presidência da República, o governo pretende
apresentar na conferência um balanço do Plano Viver sem Limites, lançado
em novembro do ano passado. A iniciativa, que inclui ações nas áreas de
acessibilidade, educação, assistência social, trabalho e saúde, tem
previstos investimentos de R$ 7,6 bilhões até 2014.
Dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que 45,6
milhões de pessoas têm algum tipo de deficiência, o que corresponde a
23,91% da população brasileira.
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