segunda-feira, 12 de maio de 2014

Jovens e escolarizados são os que mais se automedicam no Brasil


Pesquisa também verificou que quanto maior o nível de ensino e de renda, maior é o índice de autoconsumo
Foto: StockPhoto
A cena de idosos frequentando reiteradamente os balcões das farmácias para comprar medicamentos ao sabor da própria vontade não é assim comum quanto parece. Pelo menos no Brasil, onde os maiores adeptos da automedicação são, na verdade, os jovens. A comprovação foi feita pela segunda fase da “Pesquisa sobre o Uso Racional de Medicamentos no Brasil”, realizada pelo Instituto de Ciência Tecnologia e Qualidade (ICTQ).
O trabalho calculou que o consumo de medicamentos sem qualquer critério médico muda radicalmente de acordo com a faixa etária dos brasileiros. Entre os 16 e os 24 anos, 90,1% das pessoas chegam a se medicar sozinhas. Dos 56 anos em diante, o índice cai para 51,8%.
Consulta na internet
Na faixa de 25 a 40 anos, a automedicação chega a 77,5%. Já entre aqueles cuja idade varia de 41 a 55 anos, o total é de 66,7%. Segundo Marcus Vinicius de Andrade, diretor de pesquisas do ICTQ, esses dado podem ser atribuídos ao amadurecimento e a uma maior consciência sobre riscos entre os mais velhos:
— Na análise dos dados, vimos que, na terceira idade, há mais consciência sobre o uso inadequado de remédios, justamente porque os idosos podem já ter sofrido experiências negativas anteriores. Eles tendem a procurar mais os médicos, pois costumam ter problemas de saúde mais complicados. Isso impede o autoconsumo. Os jovens são mais desavisados, mais imediatistas. Eles não têm paciência de esperar consultas, vão direto aos sites de pesquisas e procuram o que acham que devem usar.
O risco à saúde, no entanto, ele ressalta, não é menor entre os mais jovens.
— Pode ocorrer até o contrário. Em grande parte dos casos, os jovens ainda não conhecem as predisposições genéticas que seus organismos apresentam para determinadas doenças. Assim, o risco pode ser maior, pois eles podem fazer uso de medicamentos totalmente desaconselhados — pondera.
Os dados do ICTQ também indicam que a automedicação está relacionada ao grau de instrução e à renda dos brasileiros. Paradoxalmente, quanto maior o nível de ensino, maior é o índice de autoconsumo de medicamentos. Entre os que têm ensino fundamental, o índice chega a 50,9%; para os que completaram o ensino superior, o total é de 84,8%.
Na disputa entre os sexos, homens e mulheres têm a mesma tendência percentual à prática: 76,7 % entre eles, 75,1 % para elas, na média de todas as idades.
Ter sempre um medicamente ao alcance das mãos para o consumo imediato faz parte do cotidiano de 54,4% da população no país. Essa parcela costuma carregar as pílulas diariamente na bolsa ou na carte ira — quase sempre, em condições inadequadas de armazenamento.
— Trata-se de um grupo que apresenta certa fobia de não carregar alguns medicamentos consigo. Eles querem ter algo sempre ao seu alcance. Nesses casos, além da automedicação, ainda há o risco de esses usuários estragarem os remédios, devida às más condições em que são guardados — avalia Andrade.
Não conferir a data de fabricação e vencimento também é hábito de 32,2% dos brasileiros, sendo que 75,5% dos homens e 76,5% das mulheres guardam as sobras dos remédios para consumo posterior, a qualquer tempo. Ao todo, 46,1% não leem as bulas, e 23,9% revelaram não entender as informações que elas trazem.
Uso abusivo de analgésicos
Outro dado que chamou a atenção dos pesquisadores está relacionado ao uso de analgésicos. No total, 16,5% da população declaram consumir esse tipo de medicamento toda semana, para qualquer sintoma de desconforto. Para 65%, não há o hábito de consultar farmacêutico. Nessas situações, eles procuram somente o balconista ou o vendedor da farmácia.
— É um consumo extremamente abusivo. Essas pessoas provavelmente estão mascarando quadros clínicos mais complicados. Uma ação paliativa para resolver dores de cabeça, por exemplo, pode esconder problemas graves, como tumores — cogita o diretor do ICTQ.
O uso de antibióticos sem receita ainda é prática entre 18,4% da população; e o de medicamentos controlados, de tarja preta, atinge 8,2%.
A pesquisa quantitativa foi feita com 1.480 pessoas, entre os dias 25 de março e 3 de abril de 2014, em 12 capitais brasileiras. Na primeira fase do trabalho, avaliou-se que a automedicação no Brasil é praticada por 76,4% da população em geral.
Fonte: O Globo - Online

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