Centrais sindicais e movimentos sociais convocaram e realizaram ontem (31/03)
atos em várias cidades do país. Os manifestantes protestam contra a
reforma da Previdência, reforma trabalhista e o projeto de lei da
terceirização, aprovado pela Câmara dos Deputados e que permite a uma
empresa contratar trabalhadores terceirizados para todas as atividades. O
projeto aguarda sanção do presidente Michel Temer.
São Paulo
O
protesto contra a Reforma da Previdência e a terceirização começou no
início da tarde e foi encerrado por volta das 19h30 na Praça da
República, centro da capital paulista. Os manifestantes se reuniram no
Museu de Arte de São Paulo (Masp) e saíram em passeata pela avenida
Paulista, desceram a rua da Consolação e percorreram ruas do centro até
chegar ao destino.
O ato foi convocado pelas frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular e
reuniu diversas categorias, como metalúrgicos, professores estaduais e
municipais, químicos, metroviários, estudantes, professores
universitários, além de centrais sindicais e movimentos sociais. Durante
a caminhada, o grupo pediu a saída do presidente Michel Temer e
protestou contra as reformas em tramitação na Câmara dos Deputados.
Segundo
o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme
Boulos, o ato de hoje foi uma mobilização vitoriosa. “Aqui em São
Paulo, nós reunimos mais de 50 mil pessoas. As informações que chegam de
todo o Brasil são de mobilizações muito expressivas. Ou seja, o caldo
de rua está virando, isso ficou muito claro no dia 15 [quando houve
protestos e paralisações pelo país principalmente contra a Reforma da
Previdência].” A Polícia Militar não estimou o número de manifestantes.
Boulos
disse que durante o mês de abril os movimentos farão um trabalho de
preparação para o dia 28, para quando está marcada uma greve geral. Pela
manhã, foram realizados protestos menores que alteraram o trânsito,
como na Avenida Jacú Pêssego, na saída de São Paulo para a cidade de
Mauá. Na Estrada do M'Boi Mirim, na zona sul, manifestantes ocuparam
parte da pista e atearam fogo a pneus. As chamas foram apagadas pelos
bombeiros e a via liberada.
Rio de Janeiro
No
Rio de Janeiro, os manifestantes se concentraram, às 15h, na Igreja da
Candelária e saíram em passeata, às 18h, pela Avenida Rio Branco, até a
Cinelândia. Eles foram apoiados por um caminhão de som,
onde se concentram as lideranças políticas, que se alternaram em
discursos com críticas às reformas propostas pelo governo federal. O
grupo seguiu até as escadarias da Câmara Municipal, quando o caminhão
estacionou e deu seguimento ao ato.
Homens do Batalhão de Grandes Eventos acompanham os manifestantes. Até às 19h, o protesto seguia pacífico. Um
grupo de estudantes, incluindo alguns mascarados, acompanharam a
manifestação, mas evitaram se unir aos sindicalistas, ficando longe do
caminhão de som.
Fortaleza
O ato começou na Praça da Bandeira e foi até a Praça do Ferreira. Integrantes de
centrais sindicais, organizações da sociedade civil, trabalhadores de
diferentes categorias, indígenas e outros segmentos caminharam com
faixas, cartazes e bandeiras pedindo a suspensão dos projetos que tratam
das reformas da Previdência, trabalhista e que permite a terceirização
de mão-de-obra em qualquer atividade.
Vários
estudantes participaram do ato. Para o integrante do Movimento RUA,
Marcelo Sousa Lima, o ato integra a mobilização feirua por centros e
diretórios acadêmicos para sensibilizar os jovens sobre a importância de
defender os direitos sociais e pressionar o governo para mudanças das
reformas propostas.
“A juventude está perdendo uma
série de direitos. Se formos falar em termos de aposentadoria, quem são
os maiores prejudicados? A médio e longo prazo, é a grande massa de
jovens de hoje. Fora o problema do desemprego. Os quase 13 milhões de
desempregados são, sobretudo, jovens – ou estão desempregados ou em
péssimas condições de trabalho na dita terceirização", disse.
A organização do evento divulgou uma estimativa de 30 mil pessoas. A Polícia Militar não contabilizou o número de participantes.
Salvador
Na
capital baiana, representantes de diversas categorias, centrais
sindicais, movimentos sociais e frentes populares se encontraram no
Campo da Pólvora, Praça do Fórum Ruy Barbosa, no bairro central de
Nazaré. O protesto teve início às 9h, e os manifestantes seguiram pela
Avenida Joana Angélica, em direção ao bairro do Barbalho.
Para a
médica Mônica Angelim, do movimento Médicos pela Democracia, a
terceirização e a reforma da Previdência são “medidas retrógradas, que
ameaçam os direitos dos trabalhadores”.
“O povo acordou, está na
rua e vai lutar até ver os direitos dos trabalhadores preservados, como
garantia de férias, FGTS. Por isso que hoje a classe trabalhadora
ganhou as ruas de todo o Brasil contra a terceirização, contra a reforma
trabalhista, contra o governo e a favor de uma nova eleição direta”,
disse o diretor da Central Única dos Trabalhadores (CUT) na Bahia, Cedro
Silva. A central foi uma das organizadoras do ato.
A Polícia Militar não divulgou o número de manifestantes. A CUT estimou em cerca de 10 mil pessoas.
Brasília
Em
um ato de cerca de 40 minutos, juízes, advogados, servidores e membros
da Justiça do Trabalho protestaram contra as reformas e a desvalorização
da Justiça do Trabalho, no Tribunal Regional do Trabalho da 10ª
Região.
“Algumas inverdades têm sido propagadas a pretexto de
justificar a aprovação de uma reforma trabalhista com consequências
nefastas para os trabalhadores, num Brasil que ainda enfrenta graves
problemas no combate ao trabalho escravo e ao trabalho infantil; num
país em que são registrados cerca de 600 mil acidentes de trabalho por
ano, num país em que a terceirização é sinônimo de precarização da
relação de emprego”, diz o presidente do Tribunal Regional do Trabalho
da 10ª Região, Pedro Luís Vicentin Foltran.
Segundo Foltran, há
também uma tentativa de enfraquecimento da Justiça do Trabalho, que têm
recebido críticas por parte de parlamentares e ministros. O presidente
ressaltou que houve um corte de 90% nos investimento e 30% em despesas
de custeio do orçamento da área.
“A Justiça do trabalho existe
para preservar os direitos constitucionais e infraconstitucionais, para
defender a dignidade do trabalhador e do empregador”, disse o
vice-presidente do TRT 23ª Região e presidente do Colégio de Ouvidores
da Justiça do Trabalho, Eliney Bezerra Veloso.
O ato ocorreu no
saguão de entrada do Tribunal, onde foram estendidos cartazes com os
dizeres como "Trabalhador sem Justiça é escravo".
Recife
A
manifestação saiu da Praça da Independência, no bairro de Santo
Antônio, e seguiu pela Avenida Conde da Boa Vista, uma das principais
vias da cidade, ocupando ao menos seis quarteirões.
Para o
presidente estadual da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Carlos
Veras, a terceirização e as refomas trabalhista e da Previdência vão
dificultar as negociações entre trabalhadores e patrões.
“Com
alto índice de desemprego, o patrão vai falar: você abre mão do seu 13º
que eu te mantenho. E aí? O trabalhador vai acabar abrindo mão,
reduzindo salário. Hoje a negociação já é muito difícil, tem que fazer
greve para garantir o mínimo do mínimo. Imagina a gente sem a cobertura
da CLT”, argumenta. O sindicalista diz ainda que, com a queda dos
rendimentos e as dificuldades para se aposentar haverá menos consumo, o
que prejudicaria a economia.
Como alternativa, os manifestantes defenderam uma auditoria da dívida
pública - empréstimos constraídos pelo Estado junto a organismos como
instituições financeiras, e que exige o deslocamento de recursos
públicos para o pagamento dos valores acrescidos de juros, entre outras
propostas. “O governo está dizendo que a Previdência está quebrada, e
ela não está. O que se precisa é tributar as grandes fortunas e se fazer
com que os grandes devedores da Previdência paguem”, disse a aposentada
Helena Barros, de 76 anos, que participou do protesto.
O ato
também defendeu a convocação de eleições diretas para a Presidência da
República. Com placas, os manifestantes criticaram parlamentares que
votaram a favor da lei da terceirização. Um grupo teatral fez uma
performance vestidos de zumbis e caveiras.
De manhã, integrantes
do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e da Frente Povo Sem Medo
fecharam a BR-101. O ato ocorreu no bairro do Curado, zona oeste da
capital pernambucana, e bloqueou os dois sentidos da rodovia. Os
manifestantes colocaram fogo em pneus.
Belo Horizonte
Na capital mineira, os manifestantes se concentraram às 17h na Praça
da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), no bairro Santo
Agostinho, e de lá caminharam até o centro da cidade, passando pela
Praça Sete e chegando à Praça da Estação. Segundo os organizadores, 100
mil pessoas participaram do protesto. A Polícia Militar não realizou
estimativa de público.
"Foi uma mobilização surpreendente considerando que hoje, diferente do ato do dia 15 de março,
não foi um dia de paralisação de várias categorias. E mesmo assim os
trabalhadores vieram. Cada vez mais as pessoas estão tomando consciência
e se mostrando incomodadas com o rumo do país", avalia Beatriz
Cerqueira, presidenta da Central Única dos Trabalhadores (CUT-MG).
O
ato contou com a mobilização de diversas categorias, entre elas os
professores das redes públicas e privada, metroviários, eletricitários,
trabalhadores da saúde, servidores da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG) e funcionários dos Correios, entre outros. Pela manhã,
servidores municipais realizaram um protesto em separado, também no
centro da cidade. As manifestações contra as reformas propostas pelo
governo federal também ocorreram em diversas cidades do interior do
estado. Ao longo do dia, algumas rodovias chegaram a ser bloqueadas em
cidades como Itaobim (MG), Padre Paraíso (MG) e Frei Inocêncio (MG).
Para
Luciléia Miranda, integrante do movimento Levante Popular da Juventude,
os jovens estarão entre os afetados pela reforma da Previdência em
tramitação na Câmara dos Deputados. "A juventude, em períodos de crise,
tem dificuldade de acesso ao emprego e muitas vezes encontra ambientes
de trabalho mais precarizados, que não assinam carteira. Persistindo a
conjuntura atual, que jovem vai conseguir contribuir por 49 anos com a
Previdência?", questiona ela, que também é estudante de ciências sociais
da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Fonte: Agência Brasil
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