Para quem imagina que o transporte público
gratuito, chamado de Tarifa Zero ou, mais recentemente devido aos
protestos pelo País, de Passe Livre, é algo extremamente utópico ou
totalmente aplicável, deve procurar no buscador mais famoso do mundo a
respeito do transporte gratuito em outros países, ou cortar o caminho e
acessar esse link. Sim, essa modalidade de transporte público já é
realidade em muitos lugares pelo globo, inclusive em distritos do
Brasil. Mas será que a tarifa zero é possível e praticável em grandes e
médias cidades, ou megalópoles, como São Paulo? Não seria apenas um
sonho inatingível?
O
estopim para os protestos que começaram na capital paulista, fomentados
pelo Movimento Passe Livre (MPL), foi o aumento de vinte centavos na
passagem de ônibus e metro. Mas, o que muita gente presente na passeata
não sabia, pois muitos não eram nem nascidos ou eram muito jovens, é que
em 1990, a então prefeita da capital Luiza Erundina (PT) tentou
emplacar a tarifa zero. A ideia era custear o sistema com verba retirada
do IPTU, que seria chamado “Fundo de Transporte”. Assim, o custo seria
proporcional ao ganho salarial do cidadão. O projeto não foi para frente
devido ao aumento previsto do IPTU, medida que sofreu muita
resistência.
Manifestações contra aumento da passagem em São
Paulo/Crédito: Diário de S.PauloMas, por que em alguns lugares houve
sucesso na implementação do passe livre e em outros a tarefa parece ser
impossível? É preciso analisar, inicialmente, as condições sociais,
demográficas e econômicas dos lugares bem sucedidos.
Lugares que tiveram êxito
Na
listagem de cidades que garantem transporte gratuito, o mais comum é
observar cidades pequenas, com malha rodoviária diminuta e um número
modesto de habitantes. Em Colomiers, na França, por exemplo, os 33.000
habitantes não pagam nada para andar nas poucas linhas de ônibus da
cidade desde a década de 1970. Ao longo dos anos, outras doze áreas
francesas copiaram o modelo. Isso é possível por causa do pequeno número
de linhas que essas cidades têm, que praticamente não compensa o gasto
para manter uma estrutura de cobrança de tarifas.
Nos Estados
Unidos, o transporte também é gratuito em pequenas cidades como Bozeman,
em Montana, e Commerce, na Califórnia. "Todos os sistemas de transporte
gratuitos nos Estados Unidos estão ou em pequenas áreas rurais e
urbanas ou em comunidades universitárias. É muito fácil para uma área
urbana pequena com ônibus que só transportam um terço de sua capacidade
máxima acomodar um aumento de 100% nos serviços de transporte", diz Joel
Volinski, diretor do Centro Nacional de Pesquisa de Trânsito dos EUA na
Universidade da Flórida do Sul, em entrevista ao o site de VEJA.
No
Brasil, a cidade Agudos, com 34000 habitantes, no interior paulista,
não cobra pelo uso de seus ônibus desde 2003. Em Ivaiporã (a 400 km de
Curitiba), com 31,8 mil habitantes, o transporte é gratuito há 12 anos.
Segundo o prefeito Luiz Carlos Gil (PMDB), o "passe livre" custou R$ 520
mil em 2012 aos cofres públicos. Em Pitanga (a 338 km de Curitiba), com
32,6 mil habitantes, o serviço gratuito começou em fevereiro de 2012,
com números mais modestos. Dois ônibus levam cerca de 400 usuários por
dia, a um custo de R$ 12 mil mensais.
Já muito longe daqui, na
cidade de Tallinn, na Estônia, as tarifas do transporte público foram
abolidas um pouco antes dos protestos começarem aqui no Brasil. Porém,
Tallinn não é uma cidadezinha pequena: com mais de 420.000 habitantes, a
capital trouxe à tona o debate sobre a possibilidade de cidades grandes
darem espaço para o passe livre. Os motivos para esse tipo de
iniciativa são vários, desde tornar o transporte mais acessível a todos
até diminuir o uso de carros, reduzindo a poluição e o trânsito. A
dúvida é se o projeto é sustentável financeiramente, pois o dinheiro que
deixa de vir das tarifas tem de sair do orçamento da prefeitura ou de
outra instância do poder público.
A cidade de Tallinn, na Estônia, é a maior cidade que possui tarifa zero, com mais de 420 mil habitantes
Inviabilidade
Três
cidades médias americanas tentaram manter sistemas de passe livre no
transporte público. O que teve maior duração foi o de Austin, em 1990,
que funcionou por 15 meses. Segundo especialistas, os 39 sistemas
gratuitos de transporte público que funcionam no país foram
implementados em cidades com menos de 200 mil habitantes ou em bairros
universitários.
Para Joel Volinski, diretor do Centro Nacional de
Pesquisa em Transportes da Universidade do Sul da Flórida, autor de
estudo sobre a gratuidade nas tarifas, a oferta de ônibus gratuito pode
triplicar o número de passageiros. "Muita gente começa a usar o sistema
para viagens curtas, então os ônibus ficam muito mais cheios que de
costume", diz Volinski.
Movimento Passe Livre
No mês
passado, depois de uma reunião do MPL com a presidente Dilma Roussef, a
líder do Movimento Passe Livre Mayara Vivian disse que Dilma afirmou que
tarifa zero para transportes públicos seria "inviável". Para o
movimento, a justificativa não convence. "Ela entendeu que a pauta da
tarifa zero é uma necessidade da população e disse da inviabilidade. Mas
para gente é uma questão política e não técnica. Se tem dinheiro para
estádio e tem dinheiro para Copa do Mundo, tem dinheiro para a tarifa
zero", afirmou.
Atualmente, a tarifa zero, pelo menos em cidades
extremamente grandes, como São Paulo, parece ser uma ideia distante. O
resultado das manifestações foi a revogação da passagem para o valor
anterior de R$3, que também aconteceu em outras cidades do Brasil. E
também serviu para levantar questões de grande importância, como o papel
do poder público na hora de implementar melhorias no transporte e
melhorar a vida do cidadão, já que, com aumento ou não, fica cada ano
mais difícil se locomover nas capitais.
Com informações de Galileu, Folha de S.Paulo, Veja, G1, Free Public Transports
Fonte: Uol
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