O empresário Valdeci Cabral, de 32 anos, conseguiu um desconto de 5.000 reais na compra de seu novo carro, o Golf Highline 1.4 TSI, avaliado em 84.000 reais. A negociação foi totalmente feira por meio do aplicativo WhatsApp, que se tornou alternativa encontrada por concessionárias para acelerar vendas e driblar a crise. "Além da avaliação e do desconto, o vendedor me passou pelo aplicativo todas as informações sobre o veículo, além de fotos e vídeos. Só tive de ir à loja rapidamente, para assinar", disse.
A estratégia se fortalece em um momento de vacas magras para o setor: no primeiro semestre, as vendas de veículos novos no Brasil totalizaram 1,31 milhão de unidades, o pior resultado para o período desde 2007, segundo dados da Fenabrave, associação que representa distribuidores. Neste cenário, representantes de concessionárias consultados pelo site de VEJA são taxativos ao dizer que abrir mão do WhatsApp implica em menos vendas. Eles reconhecem que o total de negócios fechados pelo aplicativo ainda é pequeno sobre o total de vendas, mas que isso não motiva uma revisão de estratégia, já que o investimento é mínimo.
Cerca de 30% das vendas da Copava, revendedora da Volkswgagen, em Curitiba - onde Valdeci comprou seu carro - ocorrem com alguma interação por meio do aplicativo, estima o gerente geral de vendas, Fernando Camargo. "Hoje, todas as mídias, incluindo o WhatsApp, são essenciais, já que muitos dos jovens consumidores 'nascem' com smartphones. A presença do cliente ainda é insubstituível, mas se não mantivermos contato por meios digitais, vendemos menos", diz.
No Rio de Janeiro, a concessionária Américas, que representa a Chevrolet, resolveu anunciar o número de WhatsApp em seu site oficial. Desde então, um entre quatro contatos feitos pelo aplicativo são convertidos em negócios concretos, afirma Jefferson Silva, supervisor de vendas. "Uma equipe de 16 pessoas fica disponível 24 horas por dia", conta. Ele também diz que, em média são recebidos dois contatos diariamente e, no total, as vendas pelo aplicativo alcançam até 3% do total de emplacamentos.
A Sinoscar, revendedora da Chevrolet, resolveu ir além: usa o aplicativo para agendar serviços de oficina. Além disso, a empresa possui seu próprio aplicativo de agendamento e prestação de serviços. "O uso do WhatsApp surge da necessidade de alcançar o cliente de onde ele estiver, da forma mais rápida e eficiente", diz Luísa Alves, supervisora de relacionamento. Ela conta que o aplicativo passou a ser usado há menos de dois anos e que já foi procurada por outras concessionárias que desejam reproduzir o serviço. "Usamos o aplicativo, inclusive, para receber fotos de comprovante de pagamento, que têm sido substituídos pelo boleto em papel", diz Heitor Bitencourt, gerente de vendas da Sinoscar.
Apesar de eficiente, a prática ainda não é popular entre a maior parte das empresas. É o que diz Rodolfo Salmon, gerente nacional de vendas da Jato Dynamics, consultoria especializada no setor automotivo, que afirma haver um limite para o uso do aplicativo. "Há um uso mais frequente entre lojistas de carros usados", diz. Salmon sugere cautela no uso, pois clientes desavisados podem acabar sendo alvo de golpe de charlatões. "O consumidor tem que ser cauteloso e desconfiar de propagandas on-line. Nada substitui a checagem 'in loco' de um veículo", diz.
Especialistas da área jurídica explicam que compromissos, firmados por meio eletrônico ou não, têm validade jurídica. "Ele pode ser verbal, escrito ou tácito. Se uma parte supõe à outra que aceitou determinada proposta, ela tem valor legal", diz Gisele Arantes, especialista em direito digital e sócia do escritório de advocacia Assis e Mendes. Segundo ela, se alguma das partes não cumprir com o que foi acordado no aplicativo, a conversa original, extraída do histórico de conversas, pode ser usada como prova para forçar o cumprimento do compromisso ou pedir indenização por perdas e danos. "O WhatsApp é como uma troca de e-mails, mas o destinatário é um telefone celular", compara Wilson Furtado, sócio do Tax Group. Segundo os advogados, para garantir a originalidade das mensagens trocadas, o consumidor pode recorrer à certificação digital, que valida a assinatura realizada em meios eletrônicos.
Setor imobiliário - O uso do WhatsApp não é prerrogativa do setor automotivo. Empresas do setor imobiliário, que também passa por um momento de desaquecimento, têm recorrido ao aplicativo. A construtora MRV começou a usá-lo de forma experimental em janeiro deste ano e já atende cerca de 600 clientes por mês. "Faturamos mais de 400.000 reais mensais, totalizando 3 milhões de reais até junho. É um número pequeno se comparado ao total de vendas, mas tendência é de crescimento", avalia Rodrigo Rezende, diretor de marketing e vendas. A ideia, segundo ele, é profissionalizar cada vez mais o uso do WhatsApp, a fim de torná-lo um canal de vendas oficial.
Na Lopes, a venda de 120 imóveis foi intermediada pelo Whatsapp em 2015, número que também é pouco representativo sobre o total de vendas. "A perspectiva é otimista. O serviço é prestado há cerca de um ano e agora nossos corretores associados já sabem usar melhor o poder da ferramenta. Vamos continuar investindo", diz Paulo Pachi, gerente de marketing digital da incorporadora.
Fonte: Veja online
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