Por mais que alguns dados sejam públicos, página não pode divulgá-los a terceiros sem autorização, avalia especialista
Mais
um site de origem obscura preocupa (ou deveria preocupar) os
brasileiros. Desta vez é o Tudo Sobre Todos, que permite que qualquer um
com acesso a internet encontre "muita informação", como diz o
site, sobre pessoas e empresas. Experimente colocar seu próprio nome no
campo de busca e você se surpreenderá com os resultados. Os dados
expostos facilitam o trabalho de fraudadores e até de sequestradores.
Além
do nome, estão lá sexo e data de nascimento, a cidade e o bairro em que
você mora, o CEP, e até um mapa mostrando o perímetro da sua casa. Em
alguns casos, as informações estão desatualizadas, mas, em outros, até
os nomes dos vizinhos aparecem como relacionados ao seu perfil.
O site tem origem na ilhas Seicheles e já é alvo de uma petição pública que pede à Superintendente da Policia Federal em Rondônia que investigue o sitehttp://tudosobretodos.se/ em
virtude dos dados divulgados sem nenhuma autorização. Na página Quem
Somos, o site se apresenta como propriedade da empresa Top Documents
LLC, e informa que seus servidores ficam fora do País, em território
francês, o que segundo Gisele Arantes, advogada especialista em direito
digital, já mostra a má intenção de seus donos. Aparentmente, o site é
novo: nas redes sociais, até o final da tarde de sexta-feira (24), a página no Facebook contava com cerca de 300 seguidores. No Twitter, são menos de dez seguidores, e no Google+ não passam de 50 pessoas.
No
Tudo Sobre Todos, há inclusive uma página de Perguntas Frequentes que
explica que diversas fontes alimentam os registros. "São cartórios,
decisões judiciais publicadas, diários oficiais, foros, bureaus de
informação, redes sociais e consultas em sites públicos na internet. As
informações coletadas estão na forma como são apresentadas pelas fontes,
de forma que é impossível garantir se os dados estão atualizados e são
verídicos." O site reitera que existem apenas informações públicas.
Nesse
sentido, Gisele comenta que as informações podem até ser públicas, mas
que dizer que um dado é público não significa que ele é publicamente
acessível a terceiros. Dados como os que estão sendo expostos no site
precisariam de autorização das pessoas envolvidas para serem divulgados,
o que não aconteceu em todos os casos.
"Além disso, toda base de
dados deve informar sua fonte da construção e ter documentos que
comprovem o consentimento das pessoas que permitiram que seus dados
fossem repassados para terceiros", explica a especialista. Ainda de
acordo com Gisele, mesmo que tenha coletado essas informações de uma
maneira lícita, o site não pode criar fichas pessoais sem autorização.
"Esse site viola de morte a privacidade, tão privilegiada pela
Constituição Federal, pelo Marco Civil da Internet e pelo Código de
Defesa do Consumidor", afirma Gisele.
Para piorar, o site oferece
planos de acessos aos demais dados como CPF, endereço completo,
parentes, empresas e sociedades, endereços alternativos e "prováveis
redes sociais". Os planos de acesso podem ser adquiridos via PayPal, ou
ainda com cartão de crédito das bandeiras Visa, Master e American
Express. Os planos variam de R$ 9,99 para 10 créditos a R$ 0,99, R$
24,90 por 30 créditos a R$ 0,83 cada um, e R$ 79 por 100 créditos a R$
0,79 cada um. "E o site ainda pretende ganhar dinheiro de forma ilegal,
revelando dados que uma pessoa mal intencionada pode querer para cometer
fraude, obter crédito, falsificar documentos ou mesmo planejar um
sequestro", avisa Gisele.
O que é possível fazer?
Segundo
Gisele Arantes, não há o que fazer, assim como ocorreu no episódio do
site Nomes Brasil. A única forma de chegar até um site hospedado fora do
País é via carta rogatória. Similar à carta precatória, esse documento
se diferencia pelo seu caráter internacional. A carta rogatória tem por
objetivo a realização de atos e diligências processuais no exterior,
como, por exemplo, audição de testemunhas, mas não possui fins
executórios. De acordo com advogada, tal procedimento pode levar mais de
dois anos para ser concluído. Por isso, é importante que o Ministério
Público Federal se envolva no caso, como foi com o Nomes Brasil.
"Conseguir
responsabilizar alguém que tem um serviço hospedado fora é quase
impossível. Por isso, é competência do Ministério Público remover o
serviço do Brasil. Até porque atinge um direito coletivo, são várias as
pessoas prejudicadas". No caso do Nomes Brasil, o MP conseguiu contato
com o provedor do site, que acolheu a notificação e tirou o site do
ar.
Contatada pelo iG, a Superintendência
Regional em Rondônia, a quem já foi endereçada uma petição online,
afirmou, por meio da sua assessoria, que não tinha informações a
respeito e que nenhum inquérito havia sido instaurado. O iG enviou
um e-mail para o contato disponível no site Tudo sobre Todos, mas não
recebeu resposta até a publicação desta reportagem.
Fonte: IG
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