O Idec enviou sua contribuição à consulta pública da Aneel que
trata da modalidade de prá-pagamento de energia elétrica. A proposta da
agência contraria os princípios do CDC por permitir a interrupção
automática do fornecimento de energia.
A
proposta de regulamentação da energia pré-paga está em processo de
consulta pública e o cidadão não está devidamente informado sobre os
riscos à saúde, à segurança e ao bem estar do consumidor, garantias
fundamentais estabelecidas na Constituição Federal. O prazo para que
organizações de consumidores, empresas e público em geral enviem suas
contribuições e comentários à proposta da Aneel encerra nesta
terça-feira (25/9).
O Idec enviou correspondência à
Superintendência de Regulação da Comercialização da Eletricidade e ao
Diretor Presidente da Aneel, Nélson José Hübner Moreira, manifestando
sua posição contrária à adoção do sistema de pré-pagamento no Brasil e
solicitando que o processo seja suspenso e submetido à análise minuciosa
sobre seus impactos ao consumidor, especialmente aqueles mais
vulneráveis.
Para o Idec, a adoção dessa
modalidade de cobrança do serviço de energia é uma forma de contornar
direitos e garantias estabelecidas em lei e em regulamentação
específica. Ela contraria os princípios do CDC (Código de Defesa do
Consumidor) por permitir a interrupção automática do serviços e deixar
os consumidores em situação de vulnerabilidade. O artigo 22 do CDC
proíbe a interrupção na prestação de serviços essenciais ao consumidor,
como é o caso da energia elétrica. Além disso, o sistema pré-pago de
energia contraria a definição de serviços adequados (art.6º, §1º da Lei
nº 8987/95) que prevê a regularidade e a continuidade do fornecimento. A
essencialidade desse serviço já é reconhecida em leis de diversos
países e organizações de consumidores que atuam em locais onde se
utiliza o medidor de energia pré-paga relatam muitos problemas e,
inclusive, casos de morte em decorrência do racionamento forçado a que o
consumidor é submetido com o esgotamento dos créditos.
A
Aneel realizou audiências públicas em dez capitais para tratar do tema e
a última ocorreu na quinta-feira (20/9), em Cuiabá. Mas, a divulgação
deficiente dos eventos e a falta de conhecimento sobre o tema por parte
dos consumidores resultou em baixo nível de participação.
Interesse público?
O
sistema de energia pré-pago proposto pela Aneel consiste em o usuário
pagar previamente pela energia que irá consumir durante todo o mês -
sistema semelhante ao de telefonia pré-paga. Neste caso, o consumidor
pode ficar sem luz a qualquer momento, sempre que não for possível
colocar novos créditos. O sistema de pré-pagamento prevê o uso de um
medidor eletrônico inteligente que terá leitura do consumo em tempo
real. O consumidor poderá comprar diferentes valores de créditos,
considerando-se como valor mínimo o equivalente a 1 quilowatt (kWh). O
número inicial de créditos será de 5 kWh, a ser pago na primeira compra,
mas sem prazo de validade.
O ponto mais polêmico
da proposta, parecido com o modelo do sistema de celulares pré-pagos, é
o que prevê a interrupção imediata do serviço no momento em que os
créditos acabarem. Atualmente, as empresas são obrigadas a notificar o
consumidor, com ao menos 15 dias de antecedência, sobre a suspensão do
serviço.
“Estamos falando de um serviço essencial
e a auto-desconexão que ocorre com o fim dos créditos pode representar
um impacto na saúde, na segurança do cidadão e em sua qualidade de vida.
É um serviço que deve ser prestado de forma contínua. Se hoje existe um
mecanismo que tenta recuperar o consumidor para que ele não perca o
acesso ao serviço essencial,como é o caso da obrigatoriedade de
notificação escrita ou na conta sobre existência de débitos junto à
concessionária e a possibilidade de corte com, pelo menos, 15 dias de
antecedência. Com a modalidade do pré-pagamento, o consumidor será
desconectado e ponto. Um problema a menos para a empresa, mas e para a
sociedade? Onde está o interesse público dessa proposta?”, questiona a
assessora de projetos do Idec, Teresa Liporace.
O
Idec solicitou a suspensão da proposta até que se faça um estudo
aprofundado sobre os impactos sociais e econômicos da nova modalidade.
Segundo a Aneel, a proposta inclui mecanismos de defesa do consumidor,
pois quando os créditos chegarem a níveis críticos, o próprio medidor
vai alertar o consumidor com um sinal sonoro e visual sobre a
necessidade de se fazer nova compra. Caso ele não faça e os créditos se
esgotem, o consumidor poderá ligar para a distribuidora e solicitar um
crédito de emergência. A agência afirma ainda que a adesão é voluntária e
que se o consumidor preferir poderá cancelar o plano e migrar para o
modelo pós-pago sem burocracia ou empecilhos legais.
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