A nova classe média - formada pelas pessoas que
ascenderam agora para esse grupo - tem uma contribuição maior dos
jovens do que nas classes mais altas. O estudo "Vozes da classe média"
lançado nesta quinta-feira pela Secretaria de Assuntos Estratégicos
(SAE) da Presidência da República e antecipado pelo GLOBO, aponta que
49% dos filhos dessa nova classe média estudaram mais do que os pais.
Além disso, esses jovens contribuem com R$ 71 para cada R$ 100 que o pai
coloca na família, ao passo que filhos da classe alta contribuem com
apenas R$ 20 para cada R$ 100.
Essa nova classe média também incluiu os negros. Como antecipou O
GLOBO, oito em cada dez pessoas que ascenderam à classe média na última
década são negras. Segundo o estudo, na última década, 37 milhões de
pessoas ascenderam à classe média brasileira. Essa fatia da população já
é maioria (53%) e pode até decidir uma eleição.
O coordenador-residente do Sistema das Nações Unidas no Brasil, Jorge
Chediek, lembrou, durante o evento de apresentação do trabalho nesta
quinta-feira, que o foco de atuação dos organismos internacionais
costuma ser a miséria. Mas que é preciso voltar os olhos para a nova
classe média, em um esforço para impedir que quem melhorou de vida
retorne à pobreza.
- Tem que fazer as duas coisas: manter o esforço para eliminar a
pobreza extrema e calibrar as políticas públicas para atender demandas
da classe média - disse Chediek, outro parceiro do "Vozes da classe
média". O critério adotado pelo governo é o de que a classe média é
formada por pessoas com renda familiar per capita de R$ 291 a R$ 1.019
por mês.
Para o ministro da SAE, Moreira Franco, o grande desafio com a
ascensão desse contingente à classe média é garantir sustentabilidade a
esse grupo, preservando o que ela já conquistou e dar chance de que ela
continue conquistando. Renato Meirelles, sócio-diretor do instituto de
pesquisa Data Popular, parceiro do governo no "Vozes da classe média",
destacou que para gerar essas oportunidades é preciso que o governo e as
empresas olhem de forma diferente para esse grupo.
- Políticas públicas para a classe média não têm mais a ver com
política assistencial. Têm a ver com política econômica, redução de
juros, redução de impostos - disse Meireles.
O diretor de Ações Estratégicas da SAE, Ricardo Paes de Barros,
destacou que o grupo deve ser olhado pelo governo e empresas como algo
positivo, para criarem ações focadas em suas necessidades, evitando que
ela se torne algo negativo para a economia do país:
- Essa classe média é um tremendo ativo, mas tem que ser tratada com
muito cuidado e políticas específicas, de tal maneira a não se tornar um
passivo, seja em termo de balança de pagamentos, inflação ou
endividamento - disse Paes de Barros.
Educação pode garantir a manutenção na classe média
O acesso à educação poder ser um dos diferenciais que garantam a
sustentabilidade desse novo grupo. Segundo Paes de Barros, um dos
fatores que explicam a diferença de renda entre a classe média e a alta
está na educação: a média de anos de estudo na classe alta (12 anos) é
50% maior do que na média (8 anos). Além disso, ele afirma que um
desafio para a classe média é reduzir a rotatividade no emprego, o que
pode ser feito melhorando a qualificação profissional dos trabalhadores e
conscientizando empresários sobre a importância da criação de carreiras
nas empresas.
- Para essa classe média continuar ascendendo, ela vai precisar de
acesso cada vez maior a uma educação média de melhor qualidade e mais
acesso à educação superior. Vai precisar também de formação profissional
continuada - disse Paes de Barros.
Estimada em 104 milhões de pessoas, a nova classe média prefere pagar
pela escola dos filhos, recorre a hospitais particulares em caso de
necessidade e não abre mão de um plano de saúde. Enquanto 5% da classe
baixa possuem planos de saúde, esse percentual sobe para 24% na classe
média.
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