segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Uma população com dinheiro, mas sem banco

Um novo tipo de público virou alvo prioritário de empresas que oferecem cartões de crédito ou pré-pagos: são os chamados desbancarizados, que não têm conta em banco. Eles representam um universo de 55 milhões de pessoas acima de 18 anos, ou 41,9% da população brasileira acima dessa faixa etária, que soma 131,09 milhões de habitantes, segundo dados do IBGE. O interesse por essa turma tem um motivo: juntos, possuem renda anual de R$ 665 bilhões para gastar, equivalente ao PIB de países como Chile, Cingapura e Hong Kong.
- Além de mais seguros do que carregar dinheiro vivo, os cartões são um símbolo de status para essa parcela da população rejeitada pelos bancos. Mas a falta de educação financeira continua sendo um fator de risco, já que há possibilidade de se cair numa ciranda financeira com o uso do rotativo - avalia o professor Samy Dana, da FGV-SP.
Os desbancarizados são autônomos, donas de casa, empregados sem carteira assinada, profissionais liberais. Gente que nunca viu necessidade de abrir conta em banco e pagar tarifas que vão de R$ 9,50 a R$ 65 por mês, segundo a associação Proteste.
Concorrência acirrada
- Entre os desbancarizados há ainda gente excluída do sistema financeiro porque os bancos não chegam até eles. Também há aqueles que ficaram com o nome 'sujo' e fecharam a conta porque acham que a instituição não fez nada para ajudar. E existe uma fatia de desbancarizados com alta renda alta que simplesmente não confia nos bancos - diz Renato Meirelles, sócio-diretor do Data Popular, que traçou o perfil dessa turma.
No mercado de cartões, o movimento de empresas de diversos setores oferecendo plásticos a esse público é crescente. Com a decisão do Banco Central, no fim de 2013, de regulamentar os pagamentos móveis no país, os especialistas avaliam que a concorrência vai aumentar ainda mais.
Uma das maiores e mais antigas emissoras de cartões é a Sorocred, que nasceu como uma gestora de crédito para lojistas, em Sorocaba (SP), na década de 90. Hoje, é uma empresa financeira que já emitiu 5 milhões de cartões de crédito, com foco em pessoas que não podem comprovar renda. O presidente Luiz Carlos do Nascimento diz que grande parte é de desbancarizados. O cartão pode ser feito em lojas parceiras ou via call center com recebimento pelo correio. Paga-se R$ 6,99 por mês para usar o cartão. Quem não usa o cartão no mês, não paga. Mas quem usa o rotativo, paga juro de 15% mensais. A Sococred tem parceria com a bandeiras Cielo e Redecard, o que ampliou o uso para mais de 2 milhões de estabelecimentos.
- Nossa inadimplência está em 2,6%. Já foi maior, mas temos feito campanhas de educação financeira para uso de forma consciente - diz.
Sem restrição a inadimplente
No último ano, surgiram muitas empresas oferecendo os cartões pré-pagos. Na Super, que entrou para valer nesse mercado em 2013, para ter um cartão pré-pago basta ser maior de idade e ter CPF. Não há restrição para quem está na lista dos inadimplentes, diz Luiz Almeida, vice-presidente da empresa. Paga-se R$ 4,90 pelo uso do ContaSuper, que dá direito a compras, recargas, pagamento de contas e transferências para outras contas da empresa. Para fazer DOCs e TEDs, o custo é de R$ 5,90 por operação. A empresa já emitiu 100 mil cartões que movimentam R$ 100 milhões. Em cinco anos, quer chegar a um movimento de R$ 6 bilhões.
Outra empresa desse time, que entrou no mercado em janeiro do ano passado, é a AcessoCard. O cartão pré-pago permite acesso a compras pela internet e pode ser carregado para dar mesada ao filho ou à mãe, ou ainda pagar os empregados. Custa R$ 14,90 para emissão e cobra-se R$ 2,50 para cada recarga, que pode ser feita em supermercados, farmácias, postos de gasolina e até nas agências do Bradesco.
- Se a pessoa não quiser mais usar, pode se desfazer sem ter que fechar a conta como num banco - afirma Bernardo Faria, diretor executivo da Acesso Card.
O banco múltiplo Bonsucesso criou há pouco mais de um ano o cartão pré-pago Meo, que já possui 190 mil plásticos emitidos. Descobriu que o público do cartão tem renda média de R$ 3 mil e que 77% das compras feitas com o cartão foram pela web. O cartão pode ser obtido pela internet e para ativá-lo paga-se uma taxa de R$ 9,90.
Fonte: O Globo - Online

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