Nos últimos dez anos, o número de filhos por família no Brasil caiu
10,7%. Entre os 20% mais pobres, a queda registrada no mesmo período foi
15,7%. A maior redução foi identificada entre os 20% mais pobres que
vivem na Região Nordeste: 26,4%.
Os números foram divulgados pelo
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e têm como base
as edições de 2003 a 2013 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(Pnad), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE).
O levantamento mostra que, em 2003, a média de filhos por
família no Brasil era 1,78. Em 2013, o número passou para 1,59. Entre
os 20% mais pobres, as médias registradas foram 2,55 e 2,15,
respectivamente. Entre os 20% mais pobres do Nordeste, os números
passaram de 2,73 para 2,01.
Para a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza
Campello, os dados derrubam a tese de que a política proposta pelo
Programa Bolsa Família estimula as famílias mais pobres do país a
aumentar o número de filhos para receber mais benefícios.
“Mesmo a
redução no número de filhos por família sendo um fenômeno bastante
consolidado no Brasil, as pessoas continuam falando que o número de
filhos dos pobres é muito grande. De onde vem essa informação? Não vem
de lugar nenhum porque não é informação, é puro preconceito”, disse.
Entre
as teses utilizadas pela pasta para explicar a queda estão os
pré-requisitos do programa. “O Bolsa Família tem garantido que essas
mulheres frequentem as unidades básicas de Saúde. Elas têm que ir ao
médico fazer o pré-natal e as crianças têm que ir ao médico até os 6
anos pelo menos uma vez por semestre. A frequência de atendimento leva à
melhoria do acesso à informação sobre controle de natalidade e métodos
contraceptivos”.
A demógrafa da Escola Nacional de Ciências
Estatísticas do IBGE Suzana Cavenaghi acredita que o melhor indicador
para se trabalhar a questão da fecundidade no país deve ser o número de
filhos por mulher e não por família, já que, nesse último caso, são
identificados apenas os filhos que ainda vivem no mesmo domicílio que os
pais e não os que já saíram de casa ou os que vivem em outros lares.
Segundo
ela, estudos com base no Censo de 2000 a 2010 e que levam em
consideração o número de filhos por mulher confirmam o cenário de queda
entre a população mais pobre. A hipótese mais provável, segundo ela, é
que o acesso a métodos contraceptivos tenha aumentado nos últimos anos,
além da alta do salário mínimo e das melhorias nas condições de vida.
“Sabemos
de casos de mulheres que, com o dinheiro que recebem do Bolsa Família,
compram o anticoncepcional na farmácia, porque no posto elas só recebem
uma única cartela”, disse. “É importante que esse tema seja estudado
porque, apesar de a fecundidade ter diminuído entre os mais pobres, há o
problema de acesso e distribuição de métodos contraceptivos nos
municípios. É um problema de política pública que ainda precisa ser
resolvido no Brasil”, concluiu.
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