Relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência
e a Cultura (Unesco) mostra que há no mundo água suficiente para suprir
as necessidades de crescimento do consumo, "mas não sem uma mudança
dramática no uso, gerenciamento e compartilhamento. Segundo o documento,
a crise global de água é de governança, muito mais do que de
disponibilidade do recurso, e um padrão de consumo mundial sustentável
ainda está distante.
De acordo com a organização, nas últimas
décadas o consumo de água cresceu duas vezes mais do que a população e a
estimativa é que a demanda cresça ainda 55% até 2050. Mantendo os
atuais padrões de consumo, em 2030 o mundo enfrentará um déficit no
abastecimento de água de 40%. Os dados estão no relatório Mundial das
Nações Unidas sobre o Desenvolvimento de Recursos Hídricos 2015 – Água
para um Mundo Sustentável.
O relatório atribui a vários fatores a possível falta de água, entre
eles a intensa urbanização, as práticas agrícolas inadequadas e a
poluição, que prejudica a oferta de água limpa no mundo. A organização
estima que 20% dos aquíferos estejam explorados acima de sua capacidade.
Os aquíferos, que concentram água no subterrâneo e abastecem nascentes e
rios, são responsáveis atualmente por fornecer água potável à metade da
população mundial e é de onde provêm 43% da água usada na irrigação.
Os
desafios futuros serão muitos. O crescimento da população está estimado
em 80 milhões de pessoas por ano, com estimativa de chegar a 9,1
bilhões em 2050, sendo 6,3 bilhões em áreas urbanas. A agricultura
deverá produzir 60% a mais no mundo e 100% a mais nos países em
desenvolvimento até 2050. A demanda por água na indústria manufatureira
deverá quadruplicar no período de 2000 a 2050.
Segundo a oficial
de Ciências Naturais da Unesco na Itália, Angela Ortigara, integrante do
Programa Mundial de Avaliação da Água (cuja sigla em inglês é WWAP) e
que participou da elaboração do relatório, a intenção do documento é
alertar os governos para que incentivem o consumo sustentável e evitem
uma grave crise de abastecimento no futuro. “Uma das questões que os
países já estão se esforçando para melhorar é a governança da água. É
importante melhorar a transparência nas decisões e também tomar medidas
de maneira integrada com os diferentes setores que utilizam a água. A
população deve sentir que faz parte da solução”, diz.
Cada país
enfrenta uma situação específica. De maneira geral, a Unesco recomenda
mundanças na administração pública, no investimento em infraestrutura e
em educação. "Grande parte dos problemas que os países enfrentam, além
de passar por governança e infraestrutura, passa por padrões de consumo,
que só a longo prazo conseguiremos mudar, e a educação é a ferramenta
para isso", diz o coordenador de Ciências Naturais da Unesco no Brasil,
Ary Mergulhão.
No Brasil, a preocupação com a falta de água
ganhou destaque com a crise hídrica no Sudeste. Antes disso, o país já
enfrentava problemas de abastecimento, por exemplo no Nordetste.
Mergulhão diz que o Brasil tem reserva de água importante, mas deve
investir em um diagnóstico para saber como está em termos de política de
consumo, atenção à população e planejamento. "É um trabalho contínuo.
Não quer dizer que o país que tem mais ou menos recursos pode relaxar.
Todos têm que se preocupar com a situação".
O relatório será
mundialmente lançado hoje (20) em Nova Délhi, na Índia, antes do Dia
Mundial da Água (22). O documento foi escrito pelo WWAP e produzido em
colaboração com as 31 agências do sistema das Nações Unidas e 37
parceiros internacionais da ONU-Água. A intenção é que a questão hídrica
seja um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que vêm sendo
discutidos desde 2013, seguindo orientação da Conferência Rio+20 e que
deverão nortear as atividades de cooperação internacional nos próximos
15 anos.
Fonte: Agência Brasil
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