Com o crédito restrito e juros altos para financiamentos, a venda por
meio de consórcios se tornou uma opção vantajosa para a compra de bens e
serviços. A modalidade oferece desde casa a eletrodomésticos, e o
desconto chega a 40%. De acordo com a Associação Brasileira de
Administradoras de Consórcios (Abac), o crescimento de participantes é
de 9% somente nos quatro primeiros meses de 2015 em relação ao mesmo
período de 2014.
Muito comum nas décadas de 1980 e 1990, o
consórcio reúne um grupo de pessoas que paga uma mensalidade para um
fundo que contempla por sorteio alguns consorciados com o crédito no
valor do bem contratado, até todos serem atendidos. Ou seja, o
interessado guarda o dinheiro para comprar sem financiar, podendo
negociar descontos e outras vantagens.
A procura por consórcio
cresce no mercado no momento em que a taxa média de juros do crédito
para as famílias subiu em maio. O índice chegou ao recorde de 57,3% ao
ano, a mais alta da série histórica do Banco Central (BC), iniciada em
2011.
Ao mesmo tempo foi batido o recorde histórico de consorciados pela
quarta vez consecutiva neste ano. Em abril, foram registrados 6,4
milhões. O setor de imóveis obteve crescimento de 20% no primeiro
quadrimestre de 2014. São 65,5 mil novas cotas contra 54,7 mil. No setor
de veículos leves, o aumento foi de 7,4%, apontando 318 mil novas
adesões neste ano, sobre 296 mil no ano passado.
O corretor de
vendas Anderson Borges contribui para esse número aumentar. Ele paga
quatro consórcios: de uma moto (R$ 250), um carro (R$ 400), um terreno
(R$ 300) e um apartamento (R$ 1 mil). As mensalidades somam R$ 1.950.
“Já fui contemplado com o apartamento e já coloquei o imóvel para
alugar”, comemora.
No consórcio, oferecer um lance garante ser
contemplado antecipadamente, como os sorteados. O técnico Uélinton
Damásio Lopes, 37, planejava comprar o carro novo por consórcio e
esperar o sorteio, mas recebeu indenização da Justiça: “Com esse
dinheiro, preferi negociar uma entrada de 75% e parcelar o restante em
48 vezes, sem juros fora do consórcio”.
Além de fugir dos juros
altos, o consórcio ajuda a pessoa que não tem disciplina a poupar,
pontua o consultor de varejo do Grupo AZO Marco Quintarelli: “Como o
cenário ruim, o consumo imediato diminuiu e as pessoas são forçadas e
administrar melhor as finanças”.
Mesmo com a demanda, o consórcio
não deve salvar o comércio em 2015. “A confiança está abalada, afetada
pela inflação e pelo desemprego, podendo gerar inadimplência”, analisa
Fabio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio. “As
vendas caíram 16%, e a nossa previsão é cair 20% até fim do ano com a
taxa Selic a 14%”, prevê.
COMO ENTRAR E COMO FUNCIONA O SISTEMA
TIRE DUAS DÚVIDAS
1. Como faço para entrar em um consórcio?
—
Escolha uma administradora, verifique os planos, faça a adesão ao grupo
com os melhores prazos e valores, leia o contrato, participe das
assembleias que distribuem os créditos. Os contemplados são escolhidos
por sorteio ou lance (antecipação de prestações). Utilize seu crédito
para adquirir o bem ou serviço.
2. O que é uma administradora de consórcio??
— É a gestora do plano. Ela cobra uma taxa pelo serviço prestado.
3. O que é assembleia?
— Encontro destinado à contemplação dos consorciados, ao atendimento e à prestação de informações.
4. Como funciona a contemplação?
— Por meio de sorteios e lances, realizados nas assembleias mensais dos grupos de consórcio.
5. O que é lance?
—
É o direito do consorciado concorrer à contemplação, mediante
antecipação de parcelas oferecidas por ocasião das assembleias dos
grupos. Dependendo da disponibilidade de caixa do grupo, será
contemplado o maior lance, de acordo com o contrato.
6. Carta de crédito?
—
Trata-se de uma ordem de faturamento emitida pela administradora, com a
qual o consorciado vai adquirir o bem ou serviço de sua livre escolha.
Para tanto, devem ser apresentadas as garantias exigidas pela
administradora, de forma a preservar os interesses dos próprios
consorciados.
Cuidados com promessas
Assim
como há interessados em participar de consórcio, existe quem pretende
desistir de esperar o sorteio. O Instituto Brasileiro de Defesa do
Consumidor (Idec) considera que o desistente deve ser restituído
imediatamente. Já quem foi excluído só recebe o dinheiro quando for
sorteado. O valor devolvido não é integral, por conta da taxa de
administração, que varia entre 11% a 21% do valor do contratado.
Se
o consumidor entrar na Justiça para tentar reaver a quantia mais rápido
pode não conseguir. Ainda não há precedentes para devolução antecipada.
“Por isso o consorciado realmente tem que esperar o sorteio do grupo
até ele ser desativado”, ressalta Geraldo Tardin, presidente do
Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relações de Consumo
(Ibedec).
E para fugir das armadilhas, o consumidor precisa ler o
contrato, o valor do crédito e o prazo de duração, taxas
administrativas, saber se o consórcio está registrado no Banco Central,
escolher um que tenha tradição de mercado, verificar no Procon o número
de reclamações da empresa e não acreditar nas ofertas e facilidades
oferecidas pelos corretores.
“Se for oferecido lances ou entrega
imediata é preciso confirmar se a informação consta no contrato. Não dá
para saber quanto de lance dar para ter o bem logo. O que se pode fazer é
pedir o extrato de um grupo e verificar qual o percentual de lance que
está saindo. Geralmente são muito altos, acima de 60% ou 70%”, afirma
Tardin.
As taxas de administração
Foto: Arte O Dia
Fonte: O Dia
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