A ansiedade é o transtorno mais comum em crianças, sendo duas vezes
mais frequente que o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade
(TDAH) e que o autismo, tanto de forma isolada ou em conjunto. E vem
aparecendo cada vez mais cedo, de acordo com o psiquiatra Fábio
Barbirato, coordenador dos departamentos de Psiquiatria Infantil da
Santa Casa de Misericórdia e da Associação de Psiquiatria do Rio de
Janeiro.
Segundo ele, a Academia Americana de Psiquiatria
Infantil, em um simpósio para profissionais, este mês, concluiu com base
em estudos de 20 anos que a terapia cognitivo-comportamental é tão
eficaz quanto medicamentos para tratar quadros de ansiedade, demorando
um pouco mais para dar resultado, mas sem o efeito colateral das
recaídas.
— O autismo e o TDAH são bem catalogados e
incomodam os pais e as pessoas que convivem com a criança, já a
ansiedade é internalizante e pode ser confundida com TDAH, birra e
depressão — explica Barbirato, que na terça-feira inicia na Casa do
Saber o curso “Mães e pais tigres – Rigidez e disciplina na educação dos
filhos”.
— A ansiedade na infância pode predizer quadros
de depressão, bipolaridade e pânico em adultos. A causa é genética, mas
fatores de estresse antecipam os sintomas, que apareceriam só aos 15
anos para a idade da pré-escola — diz ele.
Espaço para brincadeiras
O
acúmulo de tarefas dos pequenos pode ser um sinal de alerta de que
alguma coisa vai mal. Escola, atividade física, música e inglês na idade
pré-escolar é demais, segundo o psiquiatra, além de gerar ansiedade e
uma competitividade desnecessária.
— Criança tem que brincar — diz.
Nos
EUA um estudo de 2010 aponta 13% de ansiosos entre 6 e 16 anos, sendo
que na década de 1980 esse índice era de 7,4%. No Brasil, dados de 2004
identificam 4,6% de crianças entre 6 e 12 anos com quadro de ansiedade e
6,6% de adolescentes entre 12 e 17 anos com o transtorno, sem dados
comparativos anteriores.
Sintomas físicos
Em geral
os sintomas da ansiedade em crianças são físicos, como dor de cabeça,
febre, vômito, taquicardia, pesadelo. Mas variam de acordo com a faixa
etária, e em adolescentes podem aparecer como irritabilidade. Na
pré-escola são identificados medos mensuráveis, como não dormir no
escuro ou não querer se afastar dos pais. A grande diferença entre o
normal e o patológico é o prejuízo que a criança tem.
—
Essa criança que, com 3 anos, tem medo de atravessar o corredor para ir
ao banheiro, aos 4, 5 anos faz xixi na calça para não enfrentar o
corredor — exemplifica o médico. — A vantagem é que hoje conseguimos
diagnosticar e tratar isso muito precocemente, a partir dos 3 anos.
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