As sucessivas multas aplicadas pela Agência Nacional de
Telecomunicações (Anatel) contra empresas de telefonia têm um efeito
pedagógico para as companhias, mas na prática poucas são pagas no curto
prazo. Segundo dados da Anatel, das 4.974 multas em 2011 e 2012, 48,99%
foram totalmente acertadas. Em termos financeiros, percebe-se que
somente as de valores mais baixo foram pagas. Dos R$ 207,73 milhões,
apenas R$ 5,87%, ou R$ 12 milhões, foram de fato quitados.
Do total, 66 multas ou 1,63% foram pagas parcialmente. Isto é, a
companhia pagou um valor menor do que foi estipulado - pode ter
parcelado ou acertado o valor principal, mas não o juro.
"A Anatel tem inúmeras empresas pequenas, que oferecem serviço de
banda larga, por exemplo. Para elas, as multas são menores, começam em
R$ 3 mil, R$ 5 mil. As pequenas costumam pagar mais que as grandes.
Recorrem menos da decisão porque não possuem advogados e estrutura para
isso", comenta o procurador da agência, Victor Cravo. Segundo ele, as
multas contra empresas grandes são menores em termos quantitativos, mas
maiores em termos financeiros. O teto para a cobrança é de R$ 50
milhões.
As multas mais altas, recentemente, têm sido evidenciadas. Somente na
quinta-feira (07), foram aplicadas quatro multas contra a operadora Oi,
duas de R$ 10 milhões cada, uma de R$ 2,5 mil e outra de R$ 18 mil. A
Oi é uma das empresas mais autuadas neste ano, mas todas têm sido
punidas. A impressão do mercado é que a Anatel aumentou a intensidade da
aplicação de punições.
"As companhias têm enfrentado um problema sério para acompanhar a
tecnologia. Quando uma inovação chega ao Brasil está defasada. O governo
já deu 'um puxão de orelha' no ano passado proibindo as operadoras de
negociar novos chips, mas quanto mais próximo dos grandes eventos
esportivos como a Copa do Mundo mais em cima ele vai ficar", avaliou o
analista-chefe da SLW Corretora, Pedro Galdi.
De acordo com Cravo, a quantidade de punições não aumentou, só houve
mais transparência. Desde 2011, a Anatel divulga a lista das companhias
multadas, o motivo, os valores e a situação da cobrança (quitada,
pendente ou paga parcialmente). Ele conta que as companhias não queriam
que o processo se tornasse público, argumentando que isso faria parte de
um sigilo de negócio. "Houve disputa judicial e a Anatel ganhou, o que
foi uma vitória para a sociedade, pois tornou tudo mais transparente",
disse o procurador.
Processo encurtado
Após a multa ser aplicada, geralmente por um superintendente da
Anatel, a empresa tem o direito de recorrer. O caso é julgado pelo
Conselho Diretor da agência. Se negado o recurso, a companhia pode
recorrer uma segunda vez e, novamente, o processo é julgado pelo
conselho. Essa ida e vinda de processo, em geral, demora mais de um ano.
Por isso, muitos dos casos ainda têm o status de "devedor". Somente
após todo o trâmite, a Anatel pode constituir a multa, ou seja,
cobrá-la. As empresas têm 75 dias para quitá-la.
Para diminuir o tempo da burocracia, a Anatel está em fase final de
discussão de uma proposta que encurta os recursos. Se aprovada, a medida
constará no novo regime interno da agência e irá dar o direito de a
empresa recorrer somente uma vez. "As companhias muitas vezes acabam
usando os mesmos argumentos nos dois recursos. Agora será somente um.
Esperamos que o tempo diminua em 50%. A expectativa é de que passe a
valer ainda nesse semestre", afirmou Cravo.
As empresas que, após constituída a multa, não acertarem o débito
podem entrar no Cadastro Informativo dos créditos não quitados do setor
público (Cadin), uma espécie de Serasa das empresas que reúne os
devedores ao governo federal. Não é interessante para as operadoras
estar na lista porque, entre outras consequências, faz com que fiquem
fora de leilões de radiofrequência.
Para não figurar no Cadin, a empresa pode abrir um processo judicial.
Neste caso, o juiz determina que a Anatel não pode listá-la no Cadin,
mas a companhia tem de deixar o valor da multa depositado em juízo ou
dar uma garantia, como a de um banco. Somente no Rio de Janeiro, mais de
R$ 1 bilhão foram depositados em juízo no histórico de processos desse
tipo contra a Anatel e R$ 300 milhões em garantias de bancos. "Há um
custo financeiro. Mesmo que chegue a essa instância, o efeito pedagógico
da aplicação da multa já existiu. Tem aumentado o número de processos
na Justiça, mas a Anatel está obtendo êxito na maioria deles", declarou
Cravo.
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